A Systemica, empresa que desenvolve projetos de carbono e que tem como sócio o banco BTG Pactual, venceu o primeiro leilão do País de floresta desmatada. Na manhã desta sexta-feira 28, o governo de Helder Barbalho concedeu a Unidade de Recuperação Triunfo do Xingu (URTX), no Pará, para reflorestamento. A Systemica era a única companhia apta a participar do certame.
A empresa deverá restaurar uma área de 10,3 mil hectares por um período de 40 anos. Terá de investir R$ 258 milhões no projeto e, em troca, poderá vender os créditos de carbono gerados no território. A estimativa do governo é que a receita total chegue a R$ 949,5 milhões, com o sequestro de 3,7 milhões de toneladas de carbono e a geração de dois mil empregos. As comunidades locais deverão receber R$ 40 milhões.
Esse será o maior projeto de reflorestamento da Systemica e o maior do País de floresta nativa plantada. Por ora, o maior projeto da empresa é um desenvolvido em Parauapebas (PA) com 400 hectares, o equivalente a 3,9% da área arrematada hoje.

O lance da Systemica foi R$ 150 mil de outorga fixa e uma outorga variável de 6% da receita operacional bruta – porcentual máximo permitido pelo edital. Para a outorga fixa, não havia um valor mínimo estabelecido. Com a proposta, a empresa alcançou a pontuação máxima de mil pontos (500 pontos pelo critério técnico e 500 pelo critério de preço).
Uma outra empresa, a Genuíno Reflorestamento, também havia entregue envelope com proposta, mas não apresentou toda a documentação exigida para o certame. De acordo com texto publicado no Diário Oficial do Pará, a companhia não comprovou a legitimidade do seu suposto representante legal. Não foram entregues contrato social nem documentos pessoais do representante.
Além desses 10,3 mil hectares, o governo do Pará pretende conceder mais 30 mil hectares para a iniciativa privada reflorestar em dois leilões. O governo federal também planeja fazer certames semelhantes para cerca de 500 mil hectares. Calcula-se que haja cerca de um milhão de hectares no Pará com potencial para ser concedido e 2,7 milhões de hectares em toda a Amazônia.
Esse primeiro leilão era considerado um teste no setor. A Systemica e a Genuíno foram, no entanto, as duas únicas empresas a fazerem lances. No mercado, há quem considere que desafios logísticos na região concedida tornam difícil o desenvolvimento do projeto, além de apontarem a insegurança para controlar o desmatamento na região. Há também quem indique que as empresas ainda estão definindo quais territórios fazem sentido para elas explorarem dado o grande volume de hectares que deve ser leiloado nos próximos meses.
Após o certame, Barbalho minimizou o fato de o leilão não ter tido concorrência. Afirmou que, por se tratar da primeira concessão de uma área desmatada, era natural que poucas empresas fizessem propostas. “No momento em que o leilão é vitorioso, o mercado estará atento para que esse modelo de governança sobre a região possa ter a aderência para aqueles que estão sintonizados nesta agenda. Portanto, nós viramos a chave da incerteza e passamos agora a escalar esses projetos.”
O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, Raul Protazio Romão, reconheceu que o histórico de grilagem da região tornou o processo menos atrativos. “O capital busca fugir do risco. Mas tivemos as três grandes empresas do setor – re.green, Mombak e Systemica – visitando a área e tentando entender o modelo. Por esse contexto e por ter sido a primeira vez de um leilão do tipo, a leitura é que tivemos muito sucesso.”
Diretor jurídico da Systemica, Tiago Ricci disse que esperava um maior número de interessados no ativo, mas destacou que, no segmento de crédito de carbono, as empresas vão ser cautelosas ao selecionar as áreas. “A questão do conhecimento do território é muito importante. E haverá muita oportunidade no País nesse setor, mas os recursos para investir são limitados.”
A Systemica desenvolve há dois anos um projeto de preservação de floresta na APA Triunfo do Xingu. O projeto está em fase de certificação.
Para investir no território arrematado, a empresa espera obter financiamento do BNDES. A expectativa, segundo Ricci, é que 50% dos recursos necessários sejam levantados com o banco de desenvolvimento.