Em 2009, o Brasil foi autorizado pela Organização Mundial do Comércio a retaliar contra importações originárias dos Estados Unidos. A autorização derivava da vitória brasileira no caso do algodão, que não fora cumprido pelos EUA. A retaliação, naquele momento, seria na forma de tarifas adicionais à importação de bens norte-americanos. O Brasil se encontrou no dilema, porque uma parte relevante dos bens importados dos Estados Unidos era necessária para sua indústria, ou se referia a matérias-primas e petróleo.
Este dilema será enfrentado agora por Canadá e México. Ambos os países prometeram retaliar imediatamente, se as ameaças de imposição de tarifas por Trump forem de fato implementadas.
Estão em situação pior até do que o Brasil, porque têm indústrias extremamente integradas no âmbito do acordo de livre comércio da América do Norte (USMCA) com cadeias produtivas espalhadas pelos três países.
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Além de provocar danos às indústrias nacionais mexicana e canadense, tarifas têm efeito inflacionário, uma vez que são imediatamente repassadas aos preços para os importadores.
Do lado norte-americano, ainda há dúvidas sobre as verdadeiras intenções de Donald Trump, useiro de instabilidade para arrancar concessões de parceiros comerciais. Há uma chance de que compromissos imediatos dos Estados Unidos e do México, sobretudo no que se refere à imigração e ao fetanil, possam permitir a Trump cocoricar vitória, postergando as medidas.
Outro dado interessante é a tarifa menor, de 10%, anunciada sobre as importações da China. Na prática, parte considerável dos bens de consumo dos Estados Unidos advém da China, e a implementação efetiva da tarifa levará também a um impacto inflacionário que, recorde-se, foi fator determinante nas duas últimas eleições norte-americanas.
No cenário internacional, e mesmo entre os democratas, há uma estupefação quanto ao rigor das medidas anunciadas. E uma expectativa de muitos países de que, pelo menos por enquanto, não sejam objeto da atenção imperial de Donald Trump.