NOVA YORK E SÃO PAULO - Minutos depois do anúncio do Federal Reserve (Fed) de manutenção do juro nos níveis atuais, nesta quarta-feira, 19, o presidente do banco central americano, Jerome Powell, disse que as tarifas são o fator determinante na piora das expectativas para a inflação nos Estados Unidos. Apesar disso, ele afirmou que o cenário base é de que esse momento seja “transitório” e que as expectativas de longo prazo estão “bem ancoradas”.
“As tarifas devem empurrar crescimento para baixo e elevar inflação”, disse Powell, durante coletiva de imprensa nesta tarde. “Vamos acompanhar as expectativas para a inflação com muito cuidado.” Ele disse que não vê a contaminação das expectativas para a inflação americana no longo prazo.
Segundo Powell, boa parte da inflação elevada vem das tarifas, mas é difícil atrelar toda a piora às políticas comerciais do presidente americano, Donald Trump. O presidente do Fed citou, por exemplo, que a inflação de bens aumentou e que é um “desafio” justificar essa elevação com as tarifas.
“Ainda nos resta saber como a incerteza deve afetar perspectivas econômicas”, afirmou ele. “A incerteza sobre mudanças na política e seus efeitos econômicos é alta”, acrescentou.

Segundo Powell, o mercado de trabalho nos EUA não é uma fonte de pressões inflacionárias. “Com o mercado de trabalho balanceado no geral, podemos agir (em relação à política monetária) com parcimônia”, disse.
Powell enfatizou que a inflação ainda continua um pouco elevada em relação à meta da autoridade, de 2% ao ano.
O Fed piorou as suas expectativas para os preços nos EUA para 2025 e 2026. A mediana das projeções para a inflação americana medida pelo índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) aumentou de 2,5% em dezembro para 2,7% em março deste ano. Para 2026, subiu de 2,1% para 2,2%. As medianas de 2027 e de longo prazo foram mantidas em 2,0%.
De acordo com Powell, a atividade econômica segue forte nos EUA, mas ele chamou a atenção para consumidores mais contidos no país. “Indicadores recentes apontam para uma moderação nos gastos dos consumidores”, afirmou ele, durante coletiva de imprensa, nesta tarde.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed manteve inalterada a taxa dos Fed Funds na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano. Analistas consultados pelo Estadão/Broadcast esperavam amplamente uma nova manutenção dos juros pelo BC americano na segunda reunião de política monetária de 2025.
As decisões tomadas hoje pelos dirigentes do Fed não foram unânimes. O diretor do Fed, Christopher Waller, concordou na manutenção das taxas, mas votou pela continuidade da redução do balanço de ativos da autoridade monetária. O FOMC decidiu por reduzir o teto mensal de resgate de títulos do Tesouro de US$ 25 bilhões a US$ 5 bilhões em abril.
‘Sempre há uma possibilidade incondicional de recessão’
Powell afirmou que sempre existe uma “possibilidade incondicional de recessão”. A economia dos Estados Unidos parece continuar “saudável”, mas o sentido é negativo, segundo ele.
“Sempre há uma possibilidade incondicional de recessão. As probabilidade de recessão aumentaram um pouco, mas em níveis relativamente moderados”, afirmou.
Powell acrescentou que as chances de uma recessão nos EUA eram “extremamente baixas”. “Então, mudou, mas não é alto”, reforçou.
Powell voltou a repetir que os dirigentes do Fed estão observando com atenção os dados sobre as expectativas para a inflação nos Estados Unidos. De acordo com ele, ‘separar sinais, dos barulhos’ é um modo de dizer que há alta incerteza no ambiente.
“Não estou descartando o aumento nas expectativas de inflação de curto prazo, mas não há nenhum relato de aumento nas expectativas de longo prazo”, disse.
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O presidente do Fed também reforçou que é “muito difícil” provar cientificamente que a piora da inflação de bens nos EUA no início deste ano está atrelada às tarifas. Na visão do dirigente, haverá mais clareza nas perspectivas à frente, mas é “difícil” saber quando.
“Além do barulho, pode haver leituras idiossincráticas, em diversas categorias, que em breve se reverterão”, avaliou. “Eu acho que vamos saber, em alguns meses, se a alta da inflação de bens veio de tarifas, de onde veio isso, mas é outro caso desafiador”, concluiu.