Com a Selic, taxa básica de juros, fixada em 13,75% ao ano há um ano, o consumidor pessoa física foi o que mais sofreu. A taxa média de juros praticada pelo mercado nas compras dos consumidores aumentou 33,64 pontos porcentuais de 2021 a 2023, segundo dados da Associação Nacional de Executivos (Anefac).
Em 2021, ano em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu início ao ciclo de alta da taxa básica de juros e a Selic estava fixada em 2%, a taxa média era de 92,59% ao ano. Neste ano, a taxa média praticada pelo mercado chegou a 126,23% ao ano.
Dentre as linhas de crédito, os juros praticados pelas operadoras de cartão de crédito são os que mais se destacam, tendo praticamente dobrado de 2021 a 2023. Quando a Selic estava no patamar de 2%, a taxa praticada nessa modalidade era de 257,10% ao ano. Em 2023, o número chegou a 427,26% por ano.
Outra modalidade com aumento significativo foi a de cheque especial, com aumento de 127,76% para 156,90%. O empréstimo pessoal financeiro também foi afetado, saltando dos 106,06% em 2021 para 133,18% neste ano.
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O diretor executivo de estudos e pesquisas da Anefac, Miguel de Oliveira, destaca que os dados demonstram o quanto os juros altos influenciam toda a cadeia produtiva econômica, incluindo o consumidor, que tem de pagar mais caro para ter acesso a crédito.
Em um país como o Brasil, em que os consumidores estão acostumados a ter acesso a bens e serviços através de linhas de crédito, a situação se agrava e compromete o desenvolvimento da economia.
Queda da Selic impactará o consumidor?
Depois de um ano de ciclo de alta e inúmeras reuniões do Copom que foram concluídas com a manutenção da taxa, a expectativa do mercado financeiro é de que o Banco Central inaugure o ciclo de cortes dos juros básicos nesta quarta-feira, 2.
As especulações são de uma queda de 0,25 (13,5%) ou de 0,5 ponto porcentual (13,25%), com o mercado apostando em divergências no colegiado, que devem ser reforçadas com a chegada dos novos diretores indicados pelo Planalto, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino.
Para Oliveira, apesar de a queda ser esperada pelo mercado há algum tempo, o consumidor final não deve sentir uma diferença significativa no bolso logo após a decisão do Copom.
“Ela pouco vai impactar. São alguns centavos a menos nas compras e parcelas dos consumidores. Uma alta ou uma baixa sozinha não tem muito impacto; o consumidor só perceberá uma economia nas parcelas pagas quando a Selic cair bastante, o que não vai ser agora”, explica o diretor da Anefac.
O especialista dá como exemplo os juros praticados no comércio na compra de uma geladeira. Com a Selic em 2% ao ano, uma pessoa conseguiria comprar uma geladeira em 12 parcelas de R$166,01 e uma taxa mensal de 4,66%. Ao final, ele teria pago R$1.992,10 no total.
Já com a Selic em 13,75% ao ano, essa mesma geladeira sairia por 12 parcelas de R$175,11 e uma taxa mensal de 5,61%. Ao final, o cliente teria pago no mesmo modelo de geladeira R$ 2.101,32 - tendo pago R$109,22 a mais.
Nas projeções de Oliveira, a Selic deve chegar a 12% ao ano no final de 2023 e 10% no final de 2024. Para ele, a queda é um grande sinal para a economia, tanto para os empresários, quanto para os próprios consumidores.
“A confiança é a principal palavra do mercado financeiro. Sem confiança, você não investe, não consome, não contrata. Quando o consumidor tem essa sensação, ele também deixa de comprar, já que ele não sabe se o emprego dele está assegurado.”
Para Oliveira, no entanto, mesmo quando chegarmos a uma taxa de 12% ao ano ainda será um alto patamar e o consumidor continuará pagando caro ao se endividar com linhas de crédito.
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