EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Ex-presidente do BC e sócio da A.C. Pastore e Associados

Opinião|Taxa de juros elevada deixa economias brasileira e mundial mais frágeis do que há 20 anos

Contrariamente ao período pós-2003, precisamos agora de uma sólida consolidação fiscal

PUBLICIDADE

Foto do author Affonso Celso Pastore

Em 2003, os EUA viviam a Great Moderation, que levou Robert Lucas – um prêmio Nobel em Economia – a afirmar que o progresso da macroeconomia havia extinguido os ciclos econômicos. Na China, tinha início um ciclo de crescimento com taxas acima de 10% ao ano, e que durou uma década. Entre 2003 e 2008, ocorreu o maior enfraquecimento histórico do dólar que, combinado com o crescimento da China provocou o superciclo de preços de commodities, que acelerou o crescimento brasileiro.

Estima-se que um aumento na taxa de crescimento dos preços das commodities de 10% para 20% ao ano adicione 2,5 pontos porcentuais ao crescimento do PIB brasileiro. A bonança externa acelerou nosso crescimento, levando-nos a acreditar que havíamos reconquistado a capacidade de crescer. Como o cumprimento das metas de superávits primários reduzia a dívida em relação ao PIB, parecia não ser necessário maior esforço para progredir na consolidação fiscal, e para acelerar o crescimento teríamos, apenas, de realizar reformas microeconômicas como as da “Agenda Perdida”.

Federal Reserve (Fed), o banco central americano Foto: Daniel Slim/AFP - 12/12/2021

PUBLICIDADE

Vinte anos depois, as economias mundial e brasileira não são nem pálida sombra do passado. A elevação da taxa de juros pelo Fed reduz o crescimento dos EUA e fortalece o dólar, o que ao lado da queda do crescimento da China reduz os preços de commodities, prejudicando o Brasil. Dólar se fortalecendo é sinônimo de moedas de países avançados e emergentes se depreciando, com todos eles tendo de elevar ainda mais suas taxas de juros para combater a inflação, cultivada com a reação à pandemia. A desaceleração do crescimento mundial começa nos EUA e se propaga sobre a economia mundial através da política monetária.

Na Europa, há uma guerra com a Rússia controlando o suprimento de gás para debilitar as economias dos países da Otan, o que eleva o risco global. Alimentada pela elevação do custo da energia e dos preços dos alimentos medidos em euros mais depreciados, a inflação exige que o BCE eleve a taxa de juros, acentuando a recessão. O país mais afetado é a Alemanha, que é a locomotiva da Europa, bastando pará-la para parar o trem.

Além do efeito provocado pelo desempenho da economia mundial, o crescimento brasileiro cairá ainda mais devido à nossa política monetária, que tem de se manter em território restritivo para neutralizar os efeitos da expansão fiscal. Contrariamente ao período pós-2003, precisamos agora de uma sólida consolidação fiscal, que requer reformas cuja aprovação exige um apoio político que é duvidoso. Não será uma tarefa fácil.

Publicidade

Opinião por Affonso Celso Pastore

Ex-presidente do Banco Central e sócio da A.C. Pastore e Associados

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.