Ainda que medidas de governos para controlar preços de energia possam segurar um avanço adicional da inflação na zona do euro, que chegou ao recorde de 10% em setembro, ela não será controlada sozinha e, por isso, o Banco Central Europeu (BCE) precisará continuar com seu aperto monetário agressivo, de acordo com o Commerzbank. “Espere taxa de depósitos em 3% até o início da primavera do ano que vem”, resume o banco alemão. Atualmente, essa taxa está em 0,75%. A primavera no hemisfério norte vai de meados de março a junho.
Segundo a instituição, não são só os preços de energia e alimentos que estão subindo, e os preços aos produtores continuam muito altos. “Além disso, muitas empresas ainda não repassaram integralmente seus custos de produção mais elevados aos consumidores”, alerta o Commerzbank.
O relatório do banco também destaca os “sinais crescentes de aumento salarial significativo” na zona do euro, à medida que sindicatos exigem pagamentos melhores para compensar ao menos parte do aumento de preços.
Na sexta-feira, Isabel Schnabel, integrante do conselho do BCE, afirmou que serão necessários novos aumentos nas principais taxas de juros para garantir que a inflação retorne à meta de 2% em tempo hábil. Em discurso no Foro La Toja, a banqueira central destacou que, se houver um risco tangível de que a menor demanda não alivie as pressões inflacionárias, há fortes razões para uma abordagem de “controle robusto” da política monetária, “guiada pelo princípio de um banco central prospectivo que toma suas decisões com vistas a estabilizar a inflação a médio prazo”.
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Segundo Schnabel, a inflação pode permanecer alta, apesar do enfraquecimento da demanda. “Uma razão é que a crise energética de hoje suprimirá tanto a oferta quanto a demanda. Uma segunda razão é que as empresas tentarão proteger suas margens de lucro dos custos de energia mais altos”, explica.
“As pressões sobre os preços estão se ampliando e os salários nominais não estão acompanhando o aumento dos preços. O resultado é uma perda acentuada no poder de compra das pessoas e um declínio na participação do trabalho na renda, que é a parcela da renda total paga aos trabalhadores como salários, vencimentos e outros benefícios”, completa.
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