Apesar dos gestores de recursos se empenharem cada vez mais para alcançar os retornos desejados nos fundos de ações e multimercados, que operam nos mercados de juros, câmbio, renda variável e derivativos, as taxas de administração não devem subir. Na visão dos especialistas, as gestoras de recursos passam por um momento de mercado no qual precisam ganhar por volume."É preciso captar cada vez mais clientes, e não ganhar pelas taxas. Apenas lançar produtos não é mais diferencial, a capacidade de gerar bom relacionamento também é importante", diz o gestor Carlos Haber, da Lecca Investimentos. "O mercado está maduro o suficiente para manter as taxas atuais, dado o nível de concorrência que há entre os fundos. Aumentos nas taxas seriam mal vistos aos olhos dos investidores", complementa.Atualmente, as taxas de administração dos fundos de ações e multimercados variam, na média, entre 2% e 3% ao ano, mais 20% sobre o rendimento que exceder o benchmark, ou seja, o indicador que o fundo se propôs a render. Ainda bastante elevadas. "Mas depende, conforme o produto. Aqui, as taxas dos fundos multimercados variam entre 1,2% e 3,9%, enquanto que as taxas dos fundos de ações vão de 2,5% a 4,5%", diz Eliseo Viciana, vice-presidente da área de Investimentos da Mapfre. Para Ronaldo Guimarães, sócio e gestor da Modal Asset, não há muito espaço para queda ou para alta por conta do panorama do setor. "É difícil que essas variações aconteçam, pois a indústria de fundos é muito competitiva e os investidores estão muito mais conscientes do quanto têm de pagar", afirma. Na visão dele, os fundos que podem ter suas taxas reduzidas são os DI e renda fixa dos grandes bancos de varejo, visto que competem com tesouro direto e poupança.Outro motivo pelo qual as taxas dos fundos de ações e multimercados devem permanecer no mesmo patamar é a própria volatilidade do mercado. "Até algum tempo, os emergentes estavam ditando o crescimento dos mercados. Agora os polos mudaram, com os investidores olhando de novo para as economias estadunidense e europeia. A Selic voltou a subir e o Ibovespa está com um índice totalmente defasado, principalmente por conta de OGX. Todas estas instabilidades refletem diretamente nestes tipos de produtos. Não tem nem como os gestores pensarem em aumentar as taxas", diz Haber, da Lecca.Como não é possível subir as taxas, uma alternativa seria o aumento da carência das aplicações, na opinião de Viciana, da Mapfre. "Quanto mais ativa a gestão, mais é necessário buscar operações mais sofisticadas, que nem sempre têm liquidez no curto prazo, mas têm maior potencial de ganho. Muitas vezes, por ordem do cliente, que não tem cultura de sacrifício de liquidez, o desinvestimento acaba sendo feito em um momento não adequado."Para Viciana, esta questão deveria ser resolvida pelo próprio regulador, que poderia definir a cotização para resgate de alguns fundos em períodos semestrais ou anuais. "Isso garantiria maior estabilidade e menos volatilidade para o próprio mercado, visto que alguns fundos são bastante agressivos em suas operações" diz.2014. Para o próximo ano, a expectativa dos gestores é de que o cenário continue desafiador, o que exigirá uma intensificação da gestão ativa. De acordo com eles, a volatilidade será gerada por uma série de questões globais e locais, como uma possível redução de política monetária expansionista dos Estados Unidos, o que pode fazer o Brasil sofrer um reverso do excesso de liquidez visto até nos últimos anos - tudo isso combinado à corrida eleitoral.Haber, da Lecca, vê uma tendência de cada vez mais alocação em ativos no exterior. Guimarães, da Modal, também vê a alocação fora do País como uma tendência, assim como a migração para fundos multimercados e indexados à inflação. "Em cenários voláteis, os multimercados se configuram como estratégias bastante importantes, pois eles conseguem ter exposição tanto na melhora quanto na piora dos mercados", explica. Viciana, da Mapfre, afirma que o País enfrentará, pelo menos, mais dois anos sem conseguir se ter um cenário claro.
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