Bloomberg - Na quinta-feira, 16, uma nota de pesquisa da empresa de serviços financeiros BTIG chegou às caixas de entrada de seus clientes com o título “Now We Got Bad Blood”. No dia anterior, uma nota assinada pelo analista David Kostin, do Goldman Sachs, trazia o título “All You Had To Do Was Stay”.
Para os não iniciados, esses são títulos de músicas de Taylor Swift. E não são as únicas referências desse tipo em Wall Street: o gigantesco apelo da cantora, que está no topo das paradas, está transformando um grande número de analistas e corretores em superfãs “swifties”.
“Wall Street tem sido arrogante por tanto tempo que isso é revigorante”, disse Callie Cox, da eToro, que se considera uma swiftie (como são conhecidos os fãs da cantora). A analista de investimentos dos EUA tem ingressos para ver Swift em um show em Madri no próximo ano.
O reinado de Swift no topo da cultura pop tem sido uma das maiores histórias deste ano, e não apenas no mundo da música. Sua turnê Eras, que quebrou vários recordes, foi creditada como responsável por impulsionar a economia dos EUA este ano. Suas músicas - novas e antigas - estão sendo baixadas nos aplicativos de streaming milhões de vezes; um filme baseado em sua turnê ultrapassou US$ 200 milhões na bilheteria mundial; e sua mera presença em um jogo de futebol americano, onde estava seu suposto namorado Travis Kelce, do Kansas City Chiefs, impulsionou a audiência da NFL e as vendas da camisa dele.
Steve Sosnick saiu para jantar com cinco amigos esta semana, e o nome de Swift foi mencionado mais de uma vez. “Um cara zombou dela, e os dois que levaram as filhas para vê-la o rechaçaram”, disse o estrategista-chefe da Interactive Brokers. “Ela é uma força econômica e um verdadeiro fenômeno. Eu me pergunto se isso foi como a Beatlemania.”
Para Swift, 2023 foi um ano decisivo. A Bloomberg Economics estima que a megaestrela - juntamente com uma turnê de Beyoncé e os filmes “Barbenheimer” (Barbie e Oppenheimer) - pode ter contribuído com até US$ 8,5 bilhões para o crescimento dos EUA no terceiro trimestre. A conversa sobre sua capacidade de impulsionar o PIB gerou até mesmo uma menção no Livro Bege de junho do Federal Reserve Bank da Filadélfia, que disse que ela ajudou a estimular o crescimento da economia da cidade. A Bloomberg estima que o estrelato de Swift a catapultou para a categoria de bilionária.
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Thomas Simons, da Jefferies, publicou uma nota no início desta semana após a divulgação das estatísticas de inflação de outubro nos Estados Unidos, que ficaram abaixo das previsões. Isso também pode estar relacionado à vencedora de 12 prêmios Grammy, disse ele. “Correndo o risco de atribuir mais uma divulgação de dados econômicos a Taylor Swift, é provável que o fim de sua recente turnê de shows esteja permitindo que os preços voltem a se acomodar em uma trajetória mais baixa”, escreveu Simons.
Na StoneX, Vincent Deluard diz que a desaceleração das tendências de gastos com cartões de crédito e as recentes orientações negativas sobre os lucros das empresas “sugerem que o consumidor norte-americano, normalmente resiliente, está passando por uma ressaca pós-Swift”. Esta semana, uma nota do diretor de estratégia macro global - intitulada “From the Taylor Swift Hangover to QE 2026: a Macro Roadmap” (Da ressaca de Taylor Swift ao “quantitative easing” 2026: um roteiro macro) - trazia a letra de duas de suas músicas menos conhecidas, “Dress” e “Death By a Thousand Cuts”.
Não é comum que analistas e estrategistas tentem criar títulos atraentes para seus artigos de pesquisa, diz Sosnick. Mas existe uma coisa chamada exagero. Se “os analistas estão invocando o nome e a letra da música dela para fazer com que seus artigos se destaquem em meio ao dilúvio de relatórios diários, então isso é um pouco chato”, disse ele.
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