BRASÍLIA - A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse não ver interferência do governo na Petrobras e afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exerceu o seu direito, quando tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega na Vale.
As duas ofensivas foram mal-recebidas por investidores e analistas do mercado financeiro, que veem nelas tentativas do governo de intervir nas decisões que cabem às empresas, para subordiná-las aos interesses de Brasília.
As declarações da ministra foram dadas em entrevista ao canal de notícias CNN Brasil, que irá ao ar na íntegra neste sábado, 30, às 18h30. O Estadão teve acesso a parte do conteúdo.
“Não vejo (interferência na Petrobras). Converso regularmente com o presidente da Petrobras, porque somos da equipe econômica, e não vejo essa interferência na política de preços da Petrobras. Falou-se muito que a Petrobras perdeu R$ 50 bilhões, o que se recupera em 15 dias, mas ninguém viu que ela teve o segundo maior valor histórico da série dos últimos anos”, disse Tebet. “Não tenho visto isso (interferência) e o exemplo é o segundo maior valor histórico que a empresa teve nos últimos anos.”
As críticas de interferência política na Petrobras ocorreram após o Conselho de Administração, majoritariamente formado por indicados pelo governo, decidir não distribuir aos investidores dividendos extraordinários, como havia sido sinalizado pelo presidente da companhia, Jean Paul Prates. O motivo alegado foi que a distribuição poderia afetar a execução de investimentos da estatal, com os quais o governo conta para impulsionar a economia e gerar empregos.
Na Vale, mineradora que foi privatizada em 1997, Lula tentou emplacar Guido Mantega na presidência usando a influência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do BB, no capital da companhia. A iniciativa foi rechaçada pelos sócios privados.
À CNN, Tebet afirmou que Lula tentou contemplar o “parceiro”, a quem é grato. A ministra disse que o episódio é parte da política.
“A partir do momento que o presidente vê na figura do ex-ministro Mantega um parceiro e tenta com isso colocá-lo na economia, na política, ou seja ao seu lado, é um direito do presidente”, disse Tebet.
E prossegue: “No caso, em se vendo que o estatuto das estatais não permite, o errado seria se o presidente insistisse. Percebeu-se que não podia, o presidente parou de insistir. Isso faz parte da política. O presidente Lula não seria o presidente Lula se não tivesse a capacidade de reconhecer os amigos e querer os amigos do seu lado. Guido Mantega foi um parceiro do presidente Lula, o presidente é grato a Guido Mantega por uma série de questões, e querer estar com Guido Mantega no processo político faz parte da personalidade do presidente Lula.”
A ministra afirmou ainda que não se sente incomodada com as investidas de Lula, uma vez que o presidente recua quando é confrontado com possíveis danos ao seu governo.
“Vejo no presidente Lula um presidente pragmático. Ele tem as suas posições ideológicas e político-partidárias que são diferentes das minhas, mas quando ele percebe que ao tentar colocar o que pensa há uma reação, no mercado ou mesmo na classe política, que é negativa para o próprio governo, ele tem a capacidade de recuar”, afirmou Tebet. “Não me incomodo que um presidente que foi eleito pelo povo fale o que pensa e tente implantar o que pensa. Numa democracia, temos forças políticas que fazem o equilíbrio nessa balança.”
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