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Análise|Temor de recessão nos EUA e de inflação no Brasil; Fed e BC indicam desafios futuros

Enquanto banco central americano cortou em 0,5 ponto a taxa de juros, aqui o Copom elevou em 0,25 ponto a Selic pela primeira vez no 3º mandato de Lula

Foto do author Beatriz Bulla
Atualização:

Mais do que o impacto imediato de uma alteração de 0,50 ou 0,25 ponto porcentual na taxa de juros, a chamada superquarta foi acompanhada de perto por economistas por dar indícios importantes sobre o cenário econômico que enfrentaremos no futuro próximo. Os sinais mandados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e pelo Banco Central hoje mostram que há um cenário desafiador por vir - embora possa até ser celebrado no campo político.

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O mercado esperava que o Fed optasse por um movimento gradual no seu primeiro (e muito aguardado) corte de juros desde a pandemia, mas o banco central americano optou por uma alteração para baixo de 0,50 ponto e não de 0,25. É um sinal de que a preocupação se deslocou com mais intensidade do que o esperado. Se antes o maior risco era a inflação, agora reside no temor de uma recessão, termo que vem aparecendo com frequência na imprensa americana nas últimas semanas.

O Fed aposta mais em um ‘pouso suave’. E a notícia tende a ser comemorada pelos democratas e pela campanha de Kamala Harris. Embora não seja Joe Biden, Kamala é parte de seu governo. A percepção dos americanos sobre a economia no governo Biden foi fortemente atingida pelos altos preços que consomem o poder aquisitivo das famílias. É bom para Biden - e para Kamala, por consequência - ter as manchetes do mundo todo estampadas com a notícia de que, para o Fed, a inflação americana está finalmente sob controle.

Banco Central elevou taxa de juros em 0,25 ponto nesta quarta-feira Foto: Dida Sampaio/Estadão

No Brasil, a alta de 0,25 ponto porcentual adotada pelo Copom na noite desta quarta-feira, 18, contraria o desejo do atual governo, que travou uma batalha pública pela redução dos juros. Mas não é de se desprezar o fato de que a alta é resultado de uma surpresa positiva na atividade econômica (esta, sim, muito comemorada pelo Planalto) e de uma preocupação maior no Brasil com a inflação do que com uma recessão.

O que está por trás da necessidade de subir juros no Brasil, no entanto, é a descrença quanto a um crescimento estrutural e sólido da economia. Sem o governo ajudar no lado fiscal, resta ao BC o instrumento dos juros para segurar a inflação. Essa parte, no entanto, tende a ser minimizada pelos políticos, ou creditada pelo PT como um mero mau humor do mercado.

Nos EUA, o temor de que o ‘pouso’ não seja tão suave assim também não deve aparecer nas manifestações exitosas dos democratas em plena campanha eleitoral.

Lá e aqui, mostram as decisões de hoje, os desafios do curto prazo são diferentes. E, lá e aqui, são mais complexos do que o discurso político muitas vezes nos faz querer crer.

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Análise por Beatriz Bulla

Repórter que cobre o poder -- economia, política e internacional. Trabalha hoje em São Paulo. Já passou por Brasília e foi correspondente em Washington (EUA). Formada em jornalismo e em direito, foi também pesquisadora visitante na Universidade Columbia, em Nova York.

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