Tesouro quer negociar títulos da dívida em plataforma global para atrair investidores estrangeiros

Expectativa da medida é aumentar concorrência e, por tabela, reduzir taxas de juros pagas pelo governo aos investidores

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Foto do author Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Para aumentar o interesse dos investidores estrangeiros pela compra de títulos públicos emitidos em reais, o Tesouro Nacional vai anunciar um conjunto de medidas para melhorar o ambiente de negociação e garantir mais segurança. O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, antecipou ao Estadão que o governo pretende permitir a negociação dos papéis da dívida doméstica na plataforma global Euroclear, com sede na Bélgica.

Com isso, a expectativa é de aumento da concorrência e, por tabela, de redução das taxas de juros pagas pelo governo aos investidores. Com o andamento das medidas de ajuste fiscal, a reforma tributária e o projeto da nova âncora fiscal, Ceron avalia que o juro real (que desconta a inflação) pode cair para 5% no curto prazo. Hoje, os juros observados nos papéis de longo prazo do Tesouro rondam os 6,5%.

“A maior plataforma de negociações de títulos mobiliários é a Euroclear, e a gente não está nela. A maior parte dos países está lá”, disse Ceron, citando, entre esses países, a China, o México e o Chile. Segundo ele, a plataforma torna mais amigável a transação. Ele reforçou que não se trata de negociar os títulos emitidos em dólar, mas os papéis da dívida do governo em reais.

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, na sede do Ministério da Fazenda, em Brasília.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Participação de estrangeiros

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Os estrangeiros, tradicionalmente, têm apetite pelos papéis de longo prazo vendidos nos leilões no mercado interno. No passado, quando tiveram uma presença mais forte no Brasil, ajudaram a aumentar a concorrência nos leilões. De acordo com Ceron, os papéis com prazos mais longos são importantes para atrair o investimento. “É uma linha de ação importante, saudável, porque eles (os estrangeiros) têm um apetite para títulos de mais longo prazo e isso força a curva de juros para baixo”, explicou.

O Tesouro quer atrair novos investidores e aqueles que deixaram de comprar ou se desfizeram dos títulos da dívida doméstica brasileira nos últimos anos. Em 2015, a participação de estrangeiros no total da dívida em títulos do governo federal chegou a 20,8%. Em 2022, fechou em apenas 9,36%, menos da metade.

Boa parte desses investidores saiu após o Brasil perder o grau de investimento, o selo de bom pagador dado pelas agências de classificação de risco, mas houve vários movimentos que afastaram ainda mais os estrangeiros, como a pandemia da covid-19. “É tentar voltar à normalidade. São algumas ações que estamos fazendo para tentar ajudar a criar esse ambiente para a atração dos não residentes.”

De acordo com ele, existe hoje um fluxo de capital externo que está “olhando” para o Brasil. “Precisamos é acertar a comunicação. A negociação nessa plataforma ajuda.” Ceron disse que há vantagens do investidor ao transacionar na plataforma. Hoje, ele precisa se cadastrar internamente no Brasil para poder fazer as operações.

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