Não faz muito tempo, o mundo rico se preparava para uma dispendiosa batalha contra a inflação. Hoje, pode parecer que a guerra foi vencida sem derramamento de sangue. Na maioria dos países ricos, o núcleo anual da inflação, que exclui os preços voláteis dos alimentos e da energia, caiu de picos de 5% a 8% para um valor mais tolerável, de 3% a 5%.
Desafiando os economistas pessimistas, não houve queda econômica. O crescimento varia de um boom (Estados Unidos) a um crescimento respeitável (Austrália, Canadá, Japão) ou um crescimento morno (Grã-Bretanha, zona do euro), mas em nenhum lugar houve colapso. Em contraste com a desinflação da década de 1980, o desemprego permaneceu baixo. A economia mundial foi salva sem sacrifício? Infelizmente, a resposta é não; a inflação alta deixou cicatrizes.
Antes da pandemia de covid-19, o mundo rico desfrutou de décadas sem nenhum problema sério de inflação. Depois de um aperto monetário implacável na década de 1980, seguido por um movimento em direção a bancos centrais independentes que visavam ao controle da inflação, os aumentos de preços pareciam tão ultrapassados quanto as ombreiras. Como as empresas e os trabalhadores passaram a presumir que a inflação permaneceria baixa, eles mantiveram os preços e os salários sob controle. Assim, suas expectativas se mostraram autorrealizáveis.
Infelizmente, a ideia de que a inflação estava morta também se alojou na mente dos banqueiros centrais. Quando os preços começaram a subir em 2021, eles foram terrivelmente lentos para reagir. Por fim, elevaram as taxas de juros muito mais do que inicialmente consideravam necessário. Hoje, a desinflação mais rápida do que o esperado lhes deu um suspiro de alívio.
No mês passado, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), disse que os cortes nas taxas de juros não estavam longe - embora ele tenha parecido mais cauteloso em um discurso em 3 de abril. Andrew Bailey, governador (presidente) do Banco da Inglaterra, comemorou uma “história cada vez mais positiva”.
Mas os problemas dos bancos centrais ainda não acabaram. A inflação continua acima de suas metas. Na Europa, é provável que ela caia ainda mais, mas apenas porque a economia está fraca. Nos Estados Unidos, a redução da inflação para a meta de 2% do Fed provavelmente não poderá ser alcançada com a atual taxa de crescimento econômico, que é alimentada em parte por um déficit governamental insustentável.
O mais importante é que o público está mais atento ao perigo da inflação do que antes da pandemia. Algumas pesquisas mostram um aumento nas expectativas de inflação no longo prazo. Os mercados financeiros nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha estão cobrando um pouco mais pela proteção contra a inflação de longo prazo do que antes.
As previsões para a inflação futura se tornaram mais dispersas, o que significa que mais pessoas duvidam que as metas de inflação serão atingidas. Em outras palavras, agora que a inflação alta não é mais uma lembrança distante, a credibilidade dos bancos centrais parece frágil.
Ela pode ser abalada se ocorrer outro choque como a pandemia. O aumento definitivo das expectativas de inflação faria com que a inflação persistisse até que os bancos centrais provocassem uma desaceleração dolorosa. Dessa vez, isso foi evitado por pouco, mas é provável que ocorram novos episódios de teste.
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As tensões geopolíticas, as guerras comerciais, as mudanças climáticas e o gosto dos governos pelo estímulo fiscal tornarão a inflação mais volátil do que era nas décadas sonolentas após os anos 1980. O risco é duplo: a Europa, especialmente, ainda enfrenta o perigo de a inflação cair abaixo da meta de 2%, por causa de uma economia fraca.
A combinação de inflação volátil e credibilidade reduzida significa que os formuladores de políticas do mundo rico devem ser ágeis. Eles precisarão ajustar as taxas de juros mais rapidamente e em maior grau quando a inflação flutuar - e tolerar a volatilidade econômica resultante. Ao fazer isso, eles se parecerão um pouco com seus colegas dos mercados emergentes.
Sem um histórico tão longo de inflação baixa, os bancos centrais do Brasil, do Chile e da Polônia aumentaram as taxas de juros de forma acentuada em 2021 e, desde então, todos as reduziram com a queda da inflação. Agir rápido e com força: esse é o livro de regras que os senhores Powell e Bailey terão de seguir.
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