The Economist: economia da Europa perde força e autoridades correm o risco de reagir tarde demais

Atividade econômica enfrenta dificuldades diante de uma fraca demanda internacional, incluindo a da China, e preços altos de energia; diretores dos Bancos Centrais precisam se apressar

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Por The Economist
Atualização:

Ações e títulos europeus tiveram muito com que lidar nos anos recentes — principalmente a guerra, a crise energética e o aumento na inflação. Agora, as coisas parecem melhores. O índice de ações alemão DAX teve valorização de 14% desde o início de novembro. Investidores estão otimistas em parte porque a inflação está caindo mais rapidamente do que o esperado. Mas seu humor reflete uma realidade menos agradável: a economia está tão fraca que, certamente, cortes de juros estão à espreita.

Os formuladores de políticas irão adiante com isso? Em novembro, a inflação registrou 2,4%, quase atingindo a meta do Banco Central Europeu (BCE), de 2%. Em 13 de dezembro, o americano Federal Reserve mandou sinais de paz. Os mercados estão calculando o impacto de três cortes de juros do BCE até junho, de um total de seis até outubro, para baixar a taxa principal para cerca de 2,5%.

Em novembro, a inflação registrou 2,4%, quase atingindo a meta do Banco Central Europeu (BCE), presidido por Christine Lagarde, de 2%.  Foto: RONALD WITTEK / EFE

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“O número mais recente de inflação tornou um aumento de juros bastante improvável”, admitiu recentemente Isabel Schnabel, uma aguerrida integrante da diretoria do BCE. Ao mesmo tempo, contudo, não houve indícios de cortes, e economistas esperam cortes menores que os mercados. Certamente ninguém esperava algum anúncio na reunião de 14 de dezembro. Já que a economia europeia enfraquece rapidamente, as autoridades correm o risco de demorar para reagir.

Há duas razões para preocupação. A primeira é a expansão salarial. Inicialmente, a inflação foi impulsionada por elevações nos preços da energia e perturbações em cadeias de fornecimento, que fizeram aumentar os preços das mercadorias. Já que acordos de pagamento são, com frequência, firmados por vários anos no mercado de trabalho sindicalizado da Europa, salários e preços de serviços demoraram mais para responder.

No terceiro trimestre de 2023, os salários reais dos alemães caíram para aproximadamente o nível de 2015. Agora estão se recuperando. Similarmente, os salários negociados coletivamente nos Países Baixos aumentaram 7% em outubro e novembro em comparação com o mesmo período do ano anterior, mesmo que a inflação tenha ficado em torno de zero. A expansão salarial nos países na zona do euro é de aproximadamente 5%.

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Se esses aumentos salariais continuarem, a inflação poderá se elevar em 2024 — o maior medo do BCE. Mas há sinais de que os aumentos já começaram a diminuir. A plataforma de recrutamento Indeed, que rastreia anúncios de emprego, constata que os ganhos oferecidos têm aumentado menos, sugerindo que os aumentos nos salários logo seguirão a tendência.

Além disso, expansão salarial nem sempre ocasiona inflação. Lucros corporativos, que viram uma alta em 2022, quando a demanda era alta e os salários estavam baixos, podem sofrer. Há alguma indicação de que as margens estão diminuindo.

Os cortes de juros nos próximos meses não deverão afetar a economia até o fim de 2024. Na foto, o prédio do BCE. Foto: Michael Probst / AP

A segunda razão para preocupação é a saúde da economia em geral, que tem enfrentado dificuldades em diante de uma fraca demanda internacional, incluindo a da China, e preços altos de energia. Agora, pesquisas sugerem que os setores de manufatura e serviços se contraem levemente.

Uma explosão de consumo ocorrida em partes da Europa já desvanece: a própria política monetária está pesando sobre compras maiores, financiadas, e os devedores de hipotecas estão gastando menos para conseguir pagar prestações maiores.

Taxas de juros em declínio no mercado deverão ajudar a aliviar as condições financeiras de consumidores e investidores — e, portanto, reduzir a necessidade dos formuladores de políticas do BCE se movimentarem rapidamente. Mas há uma pegadinha. Conforme aponta Davide Oneglia, da firma de pesquisas TS Lombard, essas taxas de juros mais baixas no mercado refletem principalmente a queda da inflação e, portanto, não produzem taxas reais mais baixas. Como resultado, dificilmente colaborarão para estimular a demanda.

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Há mais uma razão para diretores de bancos centrais se apressarem. Mudanças em taxas de juros afetam a economia com um atraso substancial. Leva tempo para taxas de juros mais altas alterarem decisões de investimentos e gastos — e subsequentemente produzirem menos demanda. O impacto total das mudanças nos juros normalmente leva cerca de um ano para ser sentido, o que significa que muitos dos aumentos do BCE ainda não foram digeridos. Os formuladores de políticas provavelmente apertaram demais.

Se os aumentos salariais continuarem, a inflação poderá se elevar em 2024 — o maior medo do BCE. Foto: Michael Probst / AP

Essa dinâmica tem seu outro lado: os cortes de juros nos próximos meses não deverão afetar a economia até o fim de 2024, e poucos preveem que até lá a inflação ainda será um problema e muitos preveem que a economia ainda estará em dificuldades.

Os formuladores de políticas do BCE preferirão se aproximar das taxas de juros “neutras” do bloco, que ficam entre 1,5% e 2%, reconhece Oneglia, apesar de continuarem a fazer baixar a demanda. Começar cedo significa que o Banco Central seria capaz de evitar ter de cortar agressivamente demais durante o verão (Hemisfério Norte) de 2024.

Os dados de inflação de janeiro poderão ser voláteis, em parte porque programas governamentais de assistência introduzidos durante a crise de energia estão sendo encerrados gradualmente. Se os aumentos nos preços acelerarem novamente, o BCE provavelmente demonstrará ainda mais cautela.

Dados sobre salários são publicados com um longo atraso na Europa, e as autoridades com frequência relutam em confiar nos indicadores em tempo real, como os dados publicados pela Indeed. É por isso que economistas não preveem cortes em juros até junho, muito depois do que o sugerido pelos atuais cálculos do mercado. O BCE foi lento demais em reagir ao aumento na inflação. E agora corre o risco de ser lento demais em reagir à sua queda. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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