O setor bancário brasileiro registrou 163,3 bilhões de transações no ano passado, um crescimento de 30% em relação a 2021, no que foi a maior alta dos últimos 11 anos, segundo a Pesquisa de Tecnologia Bancária da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Os dispositivos móveis puxaram o crescimento, com alta de 54% em relação a 2021, para 107,1 bilhões de transações.
De acordo com o diretor do comitê de Inovação e Tecnologia da Febraban, Rodrigo Mulinari, o mobile é majoritário, em especial entre as pessoas físicas. Entretanto, em 2022, as pessoas jurídicas também utilizaram mais estes canais, que “empataram” com o internet banking em número de operações, com 13 bilhões cada um.
Segundo ele, no geral, o internet banking tem público fiel. No ano passado, cresceu 2%, o que indica que o uso pelos dispositivos móveis não tem canibalizado este canal. Entretanto, o mobile é de longe majoritário. “Dois terços de todas as transações bancárias são feitas pelo mobile”, disse Mulinari, em entrevista de divulgação da pesquisa, durante o Febraban Tech, em São Paulo.
O executivo destacou ainda que os caixas eletrônicos continuaram em queda. “O ATM teve a maior queda, de 27%”, afirmou Mulinari. Os caixas ainda ficam na quarta colocação na realização de transações, atrás do mobile, do internet banking, e das operações feitas via maquininhas de cartão, que subiram 10% ano passado.
Uso do WhatsApp
Entre todos os canais de realização de transações bancárias no Brasil, o que mais cresceu no ano passado foi o WhatsApp. Segundo a pesquisa, houve crescimento de 531% na realização de operações através da plataforma da Meta no ano passado.
Das 163,3 bilhões de transações bancárias realizadas no Brasil no ano passado, 56 milhões foram realizadas através do WhatsApp. “O WhatsApp ainda não é representativo em transações, mas a tendência é relevante”, disse Mulinari.
Foi a primeira vez que a pesquisa, feita em parceria com a Deloitte, mediu o uso do WhatsApp como canal de atendimento bancário. Entre os 18 bancos consultados, metade oferecem transações através do WhatsApp. Além de operações não financeiras, como as consultas de saldo, há funcionalidades como movimentações via Pix, de acordo com o levantamento.
Clientes de Pix
A proporção de clientes do sistema financeiro brasileiro que fazem um Pix ou mais por dia também aumentou no ano passado, passando de 27% em 2021 para 48% do total de usuários cadastrados no Pix.
O levantamento mediu o número para apontar quantos dos usuários de Pix são usuários frequentes, ou, no jargão da indústria, heavy users. Mulinari afirmou que os números mostram um crescimento sustentado do sistema, que ganhou quase 17 milhões de usuários em 2022.
Leia mais
Pix e carteiras digitais podem levar bancos a perder 12% em pagamentos até 2025
70 mil empregos e 5 mil agências a menos: como a digitalização mudou a cara dos bancos no Brasil
Dois terços de todas as transações em 2022 foram feitas pelo mobile, segundo pesquisa; crescimento de operações pelo WhatsApp foi de 531%
“O Pix continua crescendo de forma sustentada, chegou a 88,7 milhões de clientes em 2022″, disse o diretor do comitê de Inovação e Tecnologia da Febraban.
Mulinari afirma que, em termos práticos, o Pix começa a reduzir a realização de saques e depósitos através das agências físicas.
Segurança para usar canais digitais
Os produtos bancários e financeiros tradicionalmente contratados através das agências bancárias começam a ganhar maior tração nos canais digitais, de acordo com a pesquisa. No ano passado, houve um aumento de 64% nas contratações de seguros por canais móveis, por exemplo, enquanto, nas agências, a contratação de apólices caiu 14%.
Para Mulinari, os clientes começam a sentir maior segurança para contratar determinados tipos de produto mesmo sem ir às agências. “Mesmo soluções mais complexas começam a ter oferta mais qualificada no digital”, disse o executivo.
Ele afirmou, por outro lado, que as agências continuam a ter um papel relevante na contratação de produtos mais complexos, porque muitas vezes o cliente prefere ir até elas e conversar com o gerente antes de fechar negócio. “A agência ainda é uma referência para o cliente, continua sendo uma referência na consultoria”, disse ele.
A pesquisa mediu a contratação de seguros pelos clientes dos bancos. De acordo com o levantamento, em 2022, 25% das contas bancárias ativas tinham algum seguro contratado. Foram, ao todo, 55,2 milhões de novos produtos de seguro contratados ano passado.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.