O Brasil está diante de uma oportunidade única. A necessidade de o mundo reduzir as emissões de carbono para segurar o aumento da temperatura global – que desencadeou uma transição das tecnologias energéticas baseadas em combustíveis fósseis para as renováveis – dá ao País a chance de criar 6,4 milhões de empregos (o equivalente a 14,6% das vagas com carteira assinada) e aumentar o PIB em US$ 100 bilhões, ou 4,7% do valor atual.
Privilegiado por ter fontes de energia renovável, como água, vento e incidência solar, o Brasil é um dos países que teriam menos dificuldades para zerar suas emissões líquidas de carbono até 2050 (conforme se comprometeu no Acordo de Paris). Para zerar as emissões, um país tem de remover da atmosfera o mesmo volume de gás carbono que emite. Isso pode ser feito plantando árvores e restaurando pastagens, que absorvem gases, ou adotando tecnologias que capturam os gases e os armazenam no subsolo, por exemplo.
O País pode vender crédito de carbono – uma ferramenta criada para compensar a emissão de gases poluentes, pela qual quem emite muito pode comprar créditos de quem preserva ou recupera florestas. Pode exportar hidrogênio verde, a grande aposta do mundo para substituir o petróleo. Produzido a partir da água, ele não gera gases e pode ser transformado em amônia (um gás incolor) para ser enviado a outros países em navios. Pode aproveitar a expertise adquirida com o etanol e explorar matérias-primas como macaúba e soja para vender biocombustíveis no mercado internacional.
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Confira na reportagem “O Brasil vai conseguir ser protagonista global em economia verde?” como o País está se preparando para aproveitar a transição energética e impulsionar sua economia.
Abaixo, conheça as principais oportunidades do País com a transição energética:
Mercado de carbono
O mercado de carbono é um sistema de compensação de emissões de gases de efeito estufa. Nele, empresas que não atingiram suas metas de redução de emissões podem adquirir créditos daqueles que cortaram suas emissões mais do que precisavam ou de terceiros que preservaram matas em regiões onde há pressão por desmatamento. Empresas que reflorestam áreas degradadas também podem vender créditos, dado que as árvores que plantam retiram CO₂ da atmosfera.
Por enquanto, o Brasil só tem um mercado de carbono voluntário, no qual créditos são vendidos para empresas honrarem compromissos climáticos que não estão sujeitos a obrigações legais de redução de emissões. A consultoria McKinsey calcula que a demanda voluntária por crédito de carbono deve crescer exponencialmente e esse mercado pular do patamar atual de US$ 1 bilhão para US$ 50 bilhões em 2030. O Brasil pode abocanhar até US$ 15 bilhões desse total.
O mercado regulado brasileiro, em que empresas comercializarão créditos para atender obrigações impostas por leis ou acordos, ainda depende da aprovação de um projeto cuja tramitação está travada no Congresso. No exterior, a Nova Zelândia e a União Europeia estão na frente desse segmento.
Confira como o mercado voluntário tem se desenvolvido no Brasil e o que vem impedindo a criação de um ambiente regulado no País: ‘Fazendas de carbono’, uma oportunidade de US$ 15 bi ao Brasil, começam a mudar paisagem na Amazônia.
Hidrogênio verde
O hidrogênio verde é a grande aposta do mundo para substituir os combustíveis fósseis e reduzir as emissões de carbono do planeta. Ele é produzido por meio de um processo chamado eletrólise da água, no qual é separado do oxigênio por meio de corrente elétrica. Depois, ele pode ser armazenado na forma de gás em botijões ou transformado em amônia para ser transportado. Ao chegar no local de uso, precisa ser reconvertido em hidrogênio.
Para ser considerado verde, a energia usada na eletrólise precisa ser de fontes renováveis. É como o Brasil sai na frente. Em todo o mundo, fontes renováveis como solar e eólica correspondem a 2,7% da matriz energética. Quando são somadas a hidráulica e a biomassa, essa fatia chega a 15%. No Brasil, a energia de fontes renováveis já corresponde a 47,4%.
A região Nordeste se destaca ainda mais pela sua localização, que facilita a exportação do hidrogênio para a Europa. Até agora, Estados da região concentram os anúncios de projetos de usinas de hidrogênio, com o Ceará em primeiro lugar. Conheça os desafios que o País precisa enfrentar para desenvolver essa indústria e quanto pode ganhar com esse mercado: Brasil larga atrasado em corrida por hidrogênio verde, mas ainda pode chegar na frente.
Pecuária
A agropecuária é tida como a grande vilã do efeito estufa no Brasil, sendo responsável por 26,6% das emissões de gás carbônico equivalente (medida que expressa a quantidade de gases de efeito estufa em termos equivalentes à quantidade de dióxido de carbono). A atividade aparece depois das chamadas “mudanças do uso da terra”, que emitem 48,3% dos gases no País. O problema é que as mudanças do uso da terra estão quase sempre relacionadas também à pecuária, pois com frequência envolvem desmatamento para dar espaço à produção de gado. Em muitos casos, entretanto, o gado é usado apenas para dar uma aparência de produtividade a uma área invadida e devastada por grileiros.
A boa notícia é que é possível o País aumentar a produção de gado sem desmatar. Isso porque a produtividade da pecuária brasileira é baixa. A média no País é de 1,1 unidade animal (o equivalente a 450 kg de boi vivo) por hectare. Em Paragominas, cidade no Pará em que foi adotado um projeto de “pecuária verde”, o desmatamento caiu e a produtividade aumentou, com propriedades chegando a ter, em média, 3,8 unidades animais por hectare.
Saiba como a pecuária brasileira pode aumentar sua produtividade e colaborar com o meio ambiente: Agropecuária: zerar desmatamento e recuperar pastagens são desafios para reduzir emissões.
Biocombustíveis
O Brasil é um dos países com grande potencial em combustíveis sustentáveis, devido à sua experiência com o etanol, ao desenvolvimento do agronegócio e à oferta de matérias-primas. Segundo a consultoria McKinsey, a demanda global por biomassa, matéria orgânica vegetal ou animal capaz de gerar os biocombustíveis, deve aumentar dez vezes até 2050. No Brasil, esse mercado potencial pode significar quase US$ 40 bilhões (R$ 200 bilhões) até 2040.
“A gente já é visto como um ‘player’ consagrado na área”, diz Amanda Duarte Gondim, coordenadora da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV).
O que está em pauta agora, explica Gondim, é o uso de biocombustíveis para o transporte marítimo e aéreo, em que a eletrificação (uso de baterias) é mais difícil dado o volume de energia que demandam. Nesses modais, a substituição de tecnologia também costuma ocorrer em intervalos de tempo maiores. Como o mundo não pode esperar 30 anos por aviões que não poluem, é preciso trocar o combustível fóssil por um que emita menos gases poluentes.
Entenda a oportunidade do Brasil nesse segmento: Experiência no etanol, agro e matéria-prima colocam Brasil como protagonista em biocombustíveis.
Mineração
Um mundo que busca reduzir as emissões de carbono precisará de um aumento significativo na mineração, dado que as tecnologias de energia limpa demandam mais minerais do que as baseadas em combustíveis fósseis. Plantas de energia eólica e solar vão precisar de recursos minerais, assim como baterias e linhas de transmissão, que terão de ser reforçadas com o aumento da demanda por energia elétrica.
Para substituir as frotas de carros e mudar a cara do transporte, os minerais também serão críticos. Enquanto um veículo movido à gasolina leva de 15 kg a 20 kg de cobre em sua composição, um elétrico precisa de algo entre 60 kg e 83 kg.
“O Brasil é muito favorecido sob esse olhar, porque temos uma diversidade geológica muito grande, somos beneficiados tanto em termos de quantidade como de qualidade de substâncias”, afirma Vitor Saback, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia.
Entre os minerais que o Brasil tem potencial de explorar estão o lítio e o cobre. Conheça as oportunidades para o País nessa área: Exploração de minerais ‘do futuro’ é oportunidade para Brasil em mundo que busca reduzir emissões.
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