Americanas: trio terá de fazer aporte de R$ 12 bilhões e ficar 3 anos sem vender ações, prevê acordo

Negociação da varejista com credores está em fase de ‘redação e acertos jurídicos’, segundo um banco credor

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O acordo entre a Americanas e seus credores está em fase de pequenos ajustes, mas ainda longe do fim definitivo. Embora o ponto principal, o aporte do trio de acionistas de referência da companhia, esteja praticamente definido, em R$ 12 bilhões, restam agora questões de redação nos textos e detalhes, como a ordem de pagamento caso a empresa venda o Hortifruti Natural da Terra e a Uni.co.

Além disso, o tamanho do desconto que os debenturistas devem ter no valor que lhes é devido ainda não é um consenso, mas quem discorda dele não deve ter forças para alterá-lo, na visão de pessoas a par das negociações.

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Com os bancos, o principal está pacificado: os três acionistas de referência (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira) farão um aporte imediato de até R$ 10 bilhões. Serão empenhados ainda mais R$ 2 bilhões: R$ 1 bilhão pode ser injetado depois de três anos na companhia, caso haja necessidade, e resta, por fim, mais R$ 1 bilhão a ser creditado depois de quatro anos, também a depender da necessidade. Por fim, os três toparam ficar sem vender ações da companhia por cerca de três anos, o chamado lock-up, uma exigência do comando dos bancos.

Na prática, toda a confusão pode sair por R$ 11 bilhões para os três sócios. Isso porque, no montante de R$ 10 bilhões de aporte, estão inclusos os R$ 2 bilhões já disponibilizados para a Americanas via DIP (debtor in possession, na sigla em inglês — específico para financiar empresas em recuperação judicial).

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A empresa, porém, só lançou mão de metade do valor até agora e só deve usar mais R$ 500 milhões se o plano não for aprovado até setembro, prazo considerado realista para um desfecho.

Lojas Americanas entraram em crise após revelação de rombo bilionário Foto: PEDRO KIRILOS / Estadão Conteúdo 

Com os debenturistas, a conversa ainda não é tão simples, pois estão menos dispostos a ceder, e a vantagem está com a companhia. O desconto mínimo proposto no “leilão reverso voluntário” é de 70%, para uma dívida que soma ao redor de R$ 11 bilhões. Segundo as atas das assembleias desses investidores, 100% dos presentes na reunião rejeitaram a proposta. Os debenturistas devem voltar a se reunir até o final deste mês.

Embora os detentores de dívidas em moeda local não vejam essa como uma boa proposta, o cálculo do desconto foi feito com base no preço atual dos títulos de dívida no exterior.

Após o rombo contábil de R$ 20 bilhões vir à tona, os donos de dívidas em dólar venderam seus títulos por um valor bem mais baixo, com descontos que superaram os 80%. Assim, calcula-se que com o desconto proposto de 70% para o “leilão reverso voluntário” — que valerá tanto para debêntures em real quanto para títulos em dólar —, os novos donos desses “bonds” chegarão a ganhar perto do dobro do que pagaram no auge da crise. Ou seja, os credores brasileiros dessa classe não teriam votos suficientes para rebater a proposta.

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Os imbróglios agora são muito mais uma questão de “redação e acertos jurídicos”, segundo um banco credor, do que de desentendimentos graves como no início. Os grandes bancos terão desconto alto na dívida também, algo como 80%, com parte do passivo convertido em ações. Segundo uma fonte, é uma tentativa de receber ao menos parte agora e tentar reaver outra parte no futuro se a companhia conseguir se recuperar.

O texto final do plano tem de ser costurado com as áreas jurídicas de todos os bancos envolvidos, o que gera muitas idas e vindas. Um desses pequenos impasses é a decisão de prioridades de pagamento quando as operações do Hortifruti Natural da Terra e da Uni.co forem vendidas. Estima-se que esse pacote levante cerca de R$ 2,5 bilhões, mas ainda não está decidido a quem o montante deve atender primeiro.

Em nota, a Americanas afirmou que “continua comprometida com os seus credores para a construção de um consenso sobre o Plano de Recuperação Judicial, ainda sujeito a revisões e ajustes”. “A companhia busca um plano que reflita visões compartilhadas e atenda seus stakeholders”, diz.

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