Nobel de Economia: trio é premiado por estudos sobre as diferenças na prosperidade das nações

Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson recebem o prêmio por ‘estudos sobre como instituições são formadas e afetam a prosperidade’

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Por Jeanna Smialek (The New York Times )
Atualização:

O Prêmio Nobel de Ciências Econômicas foi concedido nesta segunda-feira, 14, aos americanos Daron Acemoglu (nascido na Turquia) e Simon Johnson, ambos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e o britânico-americano James Robinson, da Universidade de Chicago. Eles receberam o prêmio por suas pesquisas sobre como as instituições moldam os países que se tornam ricos e prósperos.

Os laureados mergulharam no passado colonial do mundo para rastrear como a desigualdade surgiu entre as nações, argumentando que os países que começaram com instituições mais inclusivas durante o período colonial tenderam a se tornar mais prósperos. Seu uso pioneiro de teoria e dados ajudou a explicar melhor os motivos da desigualdade persistente entre as nações, de acordo com o comitê do Nobel.

Prêmio Nobel de Economia é concedido pelo Banco Central da Suécia Foto: Reprodução Youtube/Nobel Prize

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“Reduzir as enormes diferenças de renda entre os países é um dos maiores desafios da nossa época”, disse Jakob Svensson, presidente do comitê do prêmio de economia, ao anunciar os nomes. Graças à “pesquisa inovadora” dos economistas, disse ele, “temos uma compreensão muito mais profunda das causas fundamentais do fracasso ou do sucesso dos países”.

De acordo com os pesquisadores, a prosperidade atual é, em parte, um legado da história - e, especificamente, do que aconteceu em uma determinada nação durante a colonização europeia.

Os países que desenvolveram instituições que protegiam os direitos de propriedade pessoal e permitiam a participação econômica generalizada tendiam a trilhar um caminho para a prosperidade de longo prazo. Aqueles que tinham instituições extrativistas - que ajudavam as elites a manter o controle, mas que davam aos trabalhadores pouca esperança de compartilhar a riqueza - apenas proporcionavam ganhos de curto prazo para as pessoas no poder.

“Em vez de perguntar se o colonialismo é bom ou ruim, observamos que diferentes estratégias coloniais levaram a diferentes padrões institucionais que persistiram ao longo do tempo”, disse Acemoglu durante uma entrevista coletiva em Atenas, na Grécia, após o anúncio do prêmio. “Em termos gerais, o trabalho que realizamos favorece a democracia.”

De fato, os laureados descobriram que a colonização provocou uma grande mudança na sorte global. As nações europeias usaram sistemas mais autoritários para controlar locais densamente povoados na época da colonização, ao passo que os locais pouco povoados geralmente recebiam mais colonos e estabeleciam uma forma mais inclusiva de governança, ainda que não totalmente democrática.

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Com o tempo, isso levou a uma reviravolta no destino econômico: enquanto o império asteca era mais populoso e rico do que a América do Norte na época da exploração europeia inicial, hoje os Estados Unidos e o Canadá ultrapassaram o México em prosperidade econômica.

“Essa inversão da prosperidade relativa é historicamente única”, explicou o comunicado do Nobel. “Se olharmos para as partes do globo que não foram colonizadas, não encontraremos nenhuma inversão de fortuna.”

Acemoglu estava na Grécia, para uma conferência, quando recebeu o comunicado Foto: Petros Giannakouris/AP

O legado ainda é visível hoje, disseram os pesquisadores. Como exemplo, Acemoglu e Robinson apontam para a cidade de Nogales, que fica na fronteira entre o México e o Arizona, nos Estados Unidos.

Nogales, ao norte, é mais próspera do que sua parte sul, apesar de compartilharem a mesma cultura e localização. Os economistas argumentam que o fator determinante das diferenças são as instituições que governam as duas metades da cidade.

Os economistas escreveram livros com base em seu trabalho, incluindo Why Nations Fail (Por que as Nações Fracassam), de Acemoglu e Robinson, e Power and Progress (Poder e Progresso), de Acemoglu e Johnson, publicado no ano passado.

Os argumentos dos economistas foram muito estudados, até mesmo por acadêmicos que acreditam que a cultura é mais importante para o desenvolvimento do que eles deixam transparecer.

E, embora suas pesquisas tendam a favorecer a democracia, Acemoglu reconheceu durante a coletiva de imprensa desta segunda-feira que “a democracia não é uma panaceia”.

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Os argumentos dos economistas foram muito estudados, até mesmo por acadêmicos que acreditam que a cultura é mais importante para o desenvolvimento do que eles deixam transparecer.

E, embora suas pesquisas tendam a favorecer a democracia, Acemoglu reconheceu durante a coletiva de imprensa desta segunda-feira que “a democracia não é uma panaceia”.

O governo representativo pode ser difícil de ser introduzido e volátil no início, por exemplo. E há caminhos para o crescimento de países que não são democráticos, disse ele, incluindo o aproveitamento rápido dos recursos de uma nação para acelerar o progresso econômico. Mas, segundo Acemoglu, o “crescimento mais autoritário” é geralmente mais instável e menos inovador.

Dani Rodrik, economista da Harvard Kennedy School que estuda a globalização e o desenvolvimento, disse que os três laureados contribuíram para uma compreensão mais clara de que a democracia pode ser importante para o desenvolvimento bem-sucedido - algo que nem sempre foi amplamente aceito na profissão.

“Eles elevaram o impacto importante e positivo da democracia no desempenho econômico de longo prazo”, disse. Os pesquisadores também ajudaram a tornar o estudo da história e das instituições, antes fora de moda, “legal novamente”, disse Rodrik.

Daron Acemoglu está há anos no topo das listas de quem poderia ganhar o Nobel, mas disse que o prêmio não era algo que se pudesse prever. Ele estava em Atenas quando recebeu o telefonema. “Você sonha em ter uma boa carreira, mas isso é o topo de tudo.”

Simon Johnson, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, acordou com uma série de mensagens de texto de congratulações nos Estados Unidos. Ele disse em uma entrevista que estava “surpreso e encantado” com o prêmio.

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História do prêmio

O Sveriges Riksbank (Banco Central da Suécia) criou o Nobel de Economia em 1969 como uma homenagem a Alfred Nobel, o empresário e químico sueco do século XIX que inventou a dinamite e criou os cinco Prêmios Nobel originais (medicina, física, química, literatura e paz).

Os primeiros vencedores do Nobel de Economia foram Ragnar Frisch e Jan Tinbergen, em 1969. No ano passado, a professora da Universidade Harvard, Claudia Goldin, foi homenageada por sua pesquisa que ajuda a explicar por que as mulheres ao redor do mundo são menos propensas a trabalhar do que os homens e por que ganham menos. Ela foi apenas a terceira mulher entre os 93 primeiros laureados em economia.

O prêmio de economia tecnicamente não é um Prêmio Nobel, já que não estava previsto no seu testamento. No entanto, o prêmio sempre é apresentado junto com os prêmios Nobel em 10 de dezembro, aniversário da morte de Nobel, em 1896.

Quem mais recebeu o Prêmio Nobel este ano?

  • O prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina foi concedido a Victor Ambros e Gary Ruvkun pela descoberta do microRNA, que ajuda a determinar como as células se desenvolvem e funcionam.
  • O prêmio de Física foi concedido a John J. Hopfield e Geoffrey E. Hinton por descobertas que ajudaram os computadores a aprender mais da mesma forma que o cérebro humano, fornecendo os blocos de construção para o desenvolvimento da inteligência artificial.
  • O prêmio de Química foi dividido entre Demis Hassabis e John M. Jumper, do Google, que usaram IA para prever a estrutura de milhões de proteínas, e David Baker, que usou software de computador para inventar uma nova proteína.
  • O Nobel de Literatura foi para Han Kang, a primeira escritora da Coreia do Sul a receber o prêmio, por “sua prosa poética intensa que confronta traumas históricos”.
  • O Prêmio Nobel da Paz foi concedido ao movimento popular japonês Nihon Hidankyo, que há décadas representa centenas de milhares de sobreviventes dos bombardeios atômicos dos EUA em Hiroshima e Nagasaki em 1945.
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