Trump significa dólar mais forte, e isso não ajuda o Brasil, diz vice-presidente do Bradesco

De acordo com Bruno Boetger, juros dos EUA podem permanecer em patamares elevados como reflexo de possíveis medidas adotadas na gestão do republicano

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Foto do author Aline Bronzati

NOVA YORK - O vice-presidente executivo do Bradesco, Bruno Boetger, avaliou que a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos representa um dólar forte, e isso não ajuda o Brasil.

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Segundo ele, é possível que os juros americanos permaneçam em patamares mais elevados por mais tempo em meio a possíveis pressões inflacionárias como reflexo de medidas adotadas na gestão do republicano. O mesmo é esperado para o Brasil, o que afasta o investidor estrangeiro da Bolsa brasileira.

“A gente ainda não viu o estrangeiro voltando ao Brasil de forma significativa”, avaliou Boetger, em conversa com jornalistas, durante evento do banco, em Nova York.

Gestão de Donald Trump deve fortalecer o dólar Foto: Evan Vucci/AP

De acordo com ele, a volta de estrangeiro para a Bolsa no Brasil depende da queda de juros e do anúncio do pacote de redução de gastos que está sendo preparado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O gatilho para isso voltar seria o início da queda de taxa de juros ou, pelo menos, uma indicação de que os juros voltam a cair. Porque a Bolsa caminha de forma inversa à taxa de juros”, disse Boetger. “Com um pacote fiscal material, haverá uma apreciação do câmbio e talvez uma pressão menor no Banco Central em aumentar os juros; eu consigo ver o mercado de ações abrindo no segundo semestre do ano que vem.”

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Com o término do G-20, sob a presidência do País, neste ano, a agenda está livre para o anúncio das medidas fiscais no Brasil, conforme ele.

O diretor de global Markets do Bradesco BBI, Rui Marques, disse que o investidor internacional está olhando para o Brasil e que o sentimento é “marginalmente positivo” com o País, considerando um nível de valor de mercado das empresas muito baixo. A questão é o timing’.

“O investidor internacional está olhando com atenção para o Brasil e entende que, neste momento, o risco retorno é simétrico, que o mercado tem potencial de subida. Obviamente, é uma questão de timing, de tomada e de posição”, disse Marques.

Onda vermelha

Boetger disse ainda que a onda vermelha republicana nas eleições presidenciais dos Estados Unidos não deve fechar o mercado para emissões de empresas brasileiras no próximo ano, a despeito do aumento do rendimento dos Treasuries, que são os títulos do Tesouro americano.

“O mercado de renda fixa internacional vai continuar aberto para as empresas brasileiras. A volatilidade da eleição já passou”, disse.

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Neste ano, as emissões internacionais de empresas brasileiras somaram R$ 23 bilhões, superando os volumes dos últimos anos, conforme o diretor de renda fixa do Bradesco BBI, Felipe Thut.

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Boetger disse que, entre agora e janeiro, quando o novo presidente dos EUA assume, o mercado de renda fixa internacional deve ficar aberto, mas com alguma volatilidade. A janela de início de ano é importante para emissões de dívidas de empresas brasileiras no exterior. “O governo vermelho não impede, não prejudica o mercado de emissões de empresas brasileiras”, reforçou o executivo.

Segundo Thut, há um volume de US$ 28 bilhões em emissões de empresas brasileira no exterior com vencimento previsto para os próximos três anos. Dessas, cerca de US$ 13 bilhões são do setor corporativo, US$ 6 bilhões de bancos e US$ 10 bilhões do Tesouro brasileiro.

“A gente já teria aqui uma demanda de US$ 28 bilhões nos próximos três anos”, avaliou Thut. Conforme ele, historicamente, a média de bonds brasileiros são US$ 25 bilhões por ano. “A gente acha que o ano que vem vai ser um ano que vai estar mais para o topo dessa banda, diante da taxa de juros e dos vencimentos”, projetou, comparando os volumes de emissões dos últimos anos.

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