Após mais de uma semana aumentando as tarifas sobre produtos importados da China, o governo Donald Trump emitiu uma regra que isentou smartphones, computadores, semicondutores e outros eletrônicos de algumas dessas tarifas, em um alívio significativo para empresas de tecnologia como Apple e Dell — e para os preços de iPhones e outros eletrônicos de consumo.
Uma mensagem publicada na noite de sexta-feira pelo Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA incluía uma longa lista de produtos que não enfrentariam as tarifas retaliatórias impostas recentemente pelo presidente Trump sobre bens chineses, como parte de uma guerra comercial em intensificação. As isenções também se aplicariam a modems, roteadores, pen drives e outros produtos de tecnologia que, em sua maioria, não são fabricados nos Estados Unidos.

As isenções não representam um alívio total. Outras tarifas ainda se aplicam a eletrônicos e smartphones. O governo Trump havia aplicado uma tarifa de 20% sobre produtos chineses no início deste ano, sob a justificativa de que o país teria papel no comércio de fentanil. E o governo ainda pode acabar aumentando as tarifas sobre semicondutores, um componente vital de smartphones e outros eletrônicos.
A medida representa as primeiras grandes isenções para bens chineses, e pode ter implicações significativas para a economia dos EUA se persistir. Gigantes da tecnologia como Apple e Nvidia escapariam em grande parte de impostos punitivos que poderiam reduzir seus lucros. Consumidores — alguns dos quais correram para comprar iPhones na semana passada — evitariam aumentos significativos nos preços de smartphones, computadores e outros dispositivos. E as isenções poderiam ajudar a conter a inflação e a turbulência econômica que muitos economistas temiam que levasse a uma recessão.
O alívio tarifário também foi a mais recente reviravolta no esforço de Trump para reescrever o comércio global na tentativa de impulsionar a manufatura nos EUA. As fábricas que produzem iPhones, laptops e outros eletrônicos estão profundamente enraizadas na Ásia, especialmente na China, e dificilmente serão deslocadas sem uma força motivadora como os altos impostos propostos pelo governo Trump.
“É difícil saber se há uma percepção, dentro do governo, de que reestruturar a economia americana é um esforço gigantesco”, disse Matthew Slaughter, reitor da Tuck School of Business em Dartmouth.
As isenções podem ser de curta duração. O governo Trump estava preparando outra investigação comercial relacionada à segurança nacional envolvendo semicondutores, que provavelmente também se aplicaria a alguns produtos derivados, como eletrônicos, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. Investigações anteriores já resultaram em tarifas adicionais.
Leia também
Um alto funcionário do governo, que pediu anonimato por não estar autorizado a falar publicamente, disse que as isenções visavam garantir que os Estados Unidos tivessem um fornecimento de semicondutores — uma tecnologia fundamental usada em smartphones, carros, torradeiras e dezenas de outros produtos. Muitos semicondutores de ponta são fabricados em outros países, como em Taiwan.
Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, disse em um comunicado que “o presidente Trump deixou claro que os Estados Unidos não podem depender da China para fabricar tecnologias críticas”. E que, sob sua orientação, empresas de tecnologia “estão correndo para trazer sua manufatura de volta aos EUA o mais rápido possível”.
Por enquanto, as mudanças marcaram uma semana turbulenta, na qual Trump recuou de muitas das tarifas que havia introduzido em 2 de abril — data que ele batizou como “dia da libertação”. Suas chamadas tarifas “recíprocas” haviam introduzido impostos de até 40% sobre produtos importados de alguns países. Após quedas acentuadas nos mercados de ações e títulos, Trump voltou atrás e anunciou uma pausa nas tarifas por 90 dias.
Como Pequim retaliou às tarifas dos EUA com impostos próprios, a China foi a única exceção ao alívio de Trump. Em vez de pausar as tarifas sobre importações chinesas, Trump as aumentou para 145% e não demonstrou disposição de poupar nenhuma empresa dessas taxas. Em resposta, a China anunciou na sexta-feira que aumentaria suas tarifas sobre produtos americanos para 125%.
Por que as tarifas de Donald Trump são uma péssima ideia?
Novo episódio de Fronteiras traz contexto histórico do 'tarifaço' nos EUA
Isso fez com que as ações de muitas empresas de tecnologia despencassem. Em quatro dias de negociação, o valor de mercado da Apple, que fabrica cerca de 80% de seus iPhones na China, caiu US$ 773 bilhões.
O recuo de Trump foi um grande alívio para o setor de tecnologia, que passou meses se aproximando do presidente. A Meta, a Amazon e outros líderes do setor doaram milhões para a posse de Trump, o apoiaram durante sua cerimônia de posse em janeiro e prometeram investir bilhões nos EUA como forma de apoio.
Tim Cook, CEO da Apple, esteve à frente dessa aproximação. Ele doou US$ 1 milhão para a posse de Trump e mais tarde visitou a Casa Branca para prometer que a Apple gastaria US$ 500 bilhões nos EUA nos próximos quatro anos.
A estratégia repetia a tática de Cook durante o primeiro mandato de Trump. Para evitar que a Apple fosse pressionada a fabricar seus produtos nos EUA em vez da China, Cook cultivou uma relação pessoal com o presidente, o que ajudou a Apple a obter isenções tarifárias para seus iPhones, smartwatches e laptops.
Ainda não está claro se Cook conseguirá uma isenção semelhante desta vez, já que as tarifas propostas por Trump agora são mais severas. Com o aumento dos impostos sobre produtos chineses, analistas de Wall Street disseram que a Apple poderia ter que elevar o preço de seus iPhones de US$ 1.000 para mais de US$ 1.600.
A ameaça de preços mais altos levou alguns americanos a correr para as lojas da Apple para comprar novos aparelhos. Outros correram para adquirir computadores e tablets fabricados na China.
A Apple não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

O iPhone rapidamente se tornou um símbolo da guerra de tarifas entre EUA e China. No domingo, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, apareceu no programa “Face the Nation”, da CBS, e disse que as tarifas resultariam em “um exército de milhões de pessoas parafusando parafusinhos minúsculos para montar iPhones” nos EUA. Mais tarde, na semana, Leavitt afirmou que Trump acreditava que os Estados Unidos tinham recursos para fabricar iPhones.
“A Apple investiu US$ 500 bilhões aqui nos Estados Unidos”, ela disse. “Então, se a Apple não achasse que os EUA eram capazes, provavelmente não teria feito um investimento tão grande.”
A Apple enfrenta questionamentos sobre transferir parte da produção dos iPhones para os Estados Unidos há mais de uma década. Em 2011, o presidente Barack Obama perguntou a Steve Jobs, cofundador da Apple, o que seria necessário para fabricar o produto mais vendido da empresa nos EUA, em vez da China. Em 2016, Trump também pressionou a Apple para mudar de posição.
Tim Cook continua firme no compromisso com a China e afirmou que os EUA não têm trabalhadores industriais qualificados o suficiente para competir com o país asiático.
“Nos EUA, você poderia reunir engenheiros especializados em ferramentaria e talvez não conseguisse encher uma sala”, disse ele em uma conferência no final de 2017. “Na China, você encheria vários campos de futebol.”
Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.