NOVA YORK - O diretor da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, avalia que a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos dificulta a gestão econômica no Brasil a partir de 2025, tanto do lado da política fiscal quanto monetária, e pode afetar a credibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A vitória de Trump complica a vida do governo Lula mais pelo aspecto macroeconômico global e menos pelo aspecto diplomático bilateral”, avalia ele, baseado em Washington DC, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast.
De acordo com Garman, a volta do republicano à Casa Branca a partir de 2025 vai exigir que o governo Lula apresente um plano de corte de gastos mais ambicioso à medida que a sua gestão representa um dólar mais forte diante da expectativa por medidas protecionistas, o que deve pesar sobre o real. Por sua vez, o câmbio desvalorizado gera mais inflação e dificulta o corte de juros no País, conforme ele.
“Um mundo com dólar forte, um Federal Reserve que não consegue cortar tanto os juros, e riscos de menor aquecimento econômico na China e nos EUA, diante de um protecionismo maior, vai dificultar a capacidade do BC brasileiro de reduzir os juros na segunda metade do ano que vem”, prevê Garman.
No curto prazo, porém, ele acredita que o risco do contágio da eleição de Trump pode ajudar o governo Lula a aprovar um programa de corte de despesas mais ambicioso no Congresso brasileiro. Com o seu triunfo nas eleições presidenciais americanas e os riscos para os mercados emergentes, em especial o Brasil, o senso de urgência pode ser maior, avalia.
“Mas aumentam os riscos da condução da política econômica no Brasil em 2025 porque as chances de Lula se enfraquecer com um cenário econômico pior aumentou”, alerta.
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Do lado diplomático, Garman diz que o governo Lula já está fazendo um esforço para construir pontes com Trump, mas é uma “relação diplomática difícil”. Os EUA devem sair do Acordo de Paris, o que deve desfalcar a COP-30, que ocorrerá no Brasil, no próximo ano, uma vez que os americanos não devem participar.
“Vai haver um esforço do governo Lula para tentar construir pontes com o governo Trump. Isso já está acontecendo, mas é uma relação diplomática difícil, sem dúvida nenhuma”, avalia o especialista.
Na sua visão, a relação bilateral Brasil-Estados Unidos, que estava muito focada na agenda de sustentabilidade, será impactada. Ele vê ainda um pouco mais de pressão de Washington pelo relacionamento próximo do País com a China, cujas tensões devem aumentar na gestão Trump.
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