CORRESPONDENTE EM NOVA YORK - O cientista político e presidente da Eurasia, Ian Bremmer, classificou o ambiente como “mais perigoso” para os países em desenvolvimento com a volta de Donald Trump à Casa Branca, onde pretende adotar medidas de maior protecionismo aos Estados Unidos. E o Brasil, na sua visão, lidera essa lista à medida que enfrenta incertezas fiscais.
“É um ambiente mais perigoso para países em desenvolvimento, e certamente o Brasil estaria no topo dessa lista”, avaliou Bremmer, em conversa com jornalistas, na manhã desta segunda-feira, 6.
De acordo com ele, reações negativas nos mercados como a vista recentemente em relação às incertezas fiscais no Brasil, com a desvalorização adicional do real, devem ser mais frequentes nos países em desenvolvimento neste ano.
“Quando o Brasil teve um desempenho um pouco abaixo do esperado em termos de gestão fiscal sob (o presidente) Lula, os mercados o puniu pesadamente, certo? E esse é o tipo de coisa que achamos que vamos ver muito mais nos países em desenvolvimento este ano, precisamente porque tanto os EUA quanto os chineses não estão buscando coordenar, estabilizar seu relacionamento ou melhorar a globalização”, disse Bremmer.
Segundo ele, a gestão Trump começa ainda enquanto os países enfrentam um dólar particularmente já forte, além de inflação e dívida elevadas. Quanto ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia, ele não vê grandes impactos.
“Eu não acho que o relacionamento dos países do Mercosul com a União Europeia vai ajudar muito a lidar com isso”, avaliou o CEO da Eurasia, ao comentar a administração Trump e a ameaça de tarifas comerciais mais duras.
‘Como o mundo funciona’
Na sua visão, o ano de 2025 será intenso e o mais perigoso geopoliticamente desde o início da Guerra Fria. “Este é o ano em que é uma espécie de princípio de desordem geopolítica dominante para como o mundo funciona”, disse.
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A chegada do governo Trump deve ditar o unilateralismo no cenário global, com a China em posição mais fraca para reagir e os demais países na defensiva. “Um dos maiores pontos fortes de Trump é sua imprevisibilidade, o fato de que outros países, outros líderes, interlocutores, não sabem o que ele vai fazer, e ainda assim é precisamente essa imprevisibilidade que impulsiona a incerteza, a volatilidade, o risco”, concluiu Bremmer.
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