RIO – Setor mais abalado pela pandemia, o turismo brasileiro recuperou enfim o faturamento e empregos perdidos para a crise sanitária, e a expectativa é que volte a crescer em 2023, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No entanto, os estrangeiros ainda não voltaram ao Brasil, segundo estudo obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
A entidade prevê uma expansão de 2,5% nas atividades turísticas neste ano, após o salto de 29,9% registrado em 2022, quando enfim o setor zerou a ociosidade gerada pela pandemia de covid-19. O movimento foi impulsionado pelo turismo doméstico, já que a circulação de estrangeiros permanece consideravelmente aquém do pré-covid. Em 2022, o Brasil recebeu apenas 2,465 milhões de turistas estrangeiros, ou seja, o País precisaria praticamente dobrar esse número em 2023 para alcançar o patamar de 4,847 milhões registrado em 2019, calculou Fabio Bentes, economista responsável pelo levantamento da CNC.
A despeito do fim das barreiras sanitárias, com menos visitantes de fora, os gastos totais de turistas estrangeiros no Brasil tampouco recuperaram o patamar pré-pandemia. Eles deixaram US$ 17,59 bilhões no País em 2019, patamar que desceu a US$ 5,39 bilhões em 2020, US$ 5,25 bilhões em 2021 e US$ 12,18 bilhões em 2022.
“O Brasil, do ponto de vista do turismo internacional, ainda está muito longe de reaver o fluxo de turistas estrangeiros de 2019″, constatou Bentes. “A gente vê nas principais economias de mercado uma taxa de inflação muito alta. A gente vê nos Estados Unidos, países europeus, Reino Unido ainda estão com níveis de inflação muito elevada, e combatendo isso via aumento de juros. Isso cria um problema muito sério para a retomada da indústria turística, especialmente o turismo mais caro, que, para o europeu e o americano, inclui viagens para o Brasil”, acrescentou.
No entanto, Bentes ressalta que há um processo em curso de recuperação do turismo interno com reflexos positivos sobre o mercado de trabalho formal: entre março e agosto de 2020, o turismo eliminou 470 mil vagas formais, mas já recuperou 465 mil delas. A expectativa do economista é que a força de trabalho perdida na pandemia esteja completamente recomposta ainda dentro desta alta temporada, que está em sua fase final. A CNC projeta a geração de 84 mil postos de trabalho formais no setor este ano.
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A ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) previa lotação quase esgotada no carnaval em redes hoteleiras do Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Goiás e Mato Grosso do Sul. No entanto, o presidente da entidade, Manoel Linhares, pondera que a recuperação da hotelaria nacional pós-pandemia ainda não está consolidada. Quanto ao retorno do turista estrangeiro, ele defende que depende de propaganda governamental e da redução nos preços de passagens aéreas, via alívio de tributos e ampliação da malha aérea.
“O gargalo maior do turismo é a malha aérea. Fazer turismo interno no Brasil está muito caro, por causa do bilhete aéreo”, disse Manoel Linhares.
O presidente da entidade lembra que, no período da pandemia, 80% dos hotéis ficaram fechados, sendo que os 20% que permaneceram em operação registraram ocupação entre 5% a 8%. O turismo corporativo permanece bastante prejudicado pela substituição de reuniões presenciais pela adoção de novas tecnologias, que facilitam o contato remoto. Já o turismo de lazer segue aquecido.
“Não podemos garantir que (o nível de ocupação) chegou ao patamar de 2019. A pandemia foi muito brutal para o turismo, foi o setor mais impactado com certeza”, afirmou. “Acredito que tem tudo pra ser a retomada do turismo em 2023. Muitos empresários e empreendedores ainda estão sofrendo muito para pagar suas dívidas acumuladas nos dois anos que ficaram parados. Mas, aos poucos, tenho fé em Deus que vamos chegar lá.”
Fabio Bentes, da CNC, calcula que as atividades turísticas acumularam uma perda de R$ 531,8 bilhões desde o início da crise sanitária, sendo 61% desse montante concentrados nos estados de São Paulo (R$ 248,6 bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 75 bilhões).
No mês de dezembro de 2022, o segmento de turismo operava 1,5% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, mas ainda 5,5% abaixo do ponto mais alto da série histórica da Pesquisa Mensal de Serviços, alcançado em fevereiro de 2014, de acordo com o IBGE.
“Contribuíram para essa retomada mais lenta das atividades de turismo, comparativamente ao setor de serviços como um todo, os seguintes fatores: a elevação dos preços dos serviços, que por sua vez pode ser explicada por uma demanda reprimida; pelo aumento dos custos necessários à provisão de alguns serviços de turismo, por exemplo aumento de preços de querosene de aviação ou aumento de materiais de construção necessários para construir hotéis e restaurantes; pela escassez de matérias-primas e pelo desarranjo das cadeias produtivas, porque a gente vivenciou ali no pós-2020 um desequilíbrio constante entre demanda e oferta”, justificou Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE.
A recuperação alcançada finalmente em 2022 foi puxada pelo transporte aéreo de passageiros, restaurantes, hotéis, locação de automóveis, transporte rodoviário coletivo de passageiros e serviços de buffet.
“Essas seis atividades em conjunto representam 93% do peso do volume da receita real das empresas prestadoras de serviços do segmento de turismo investigado na PMS, enquanto as outras 16 atividades somam apenas 7%. Então de fato esses seis segmentos foram os que explicaram esse crescimento das atividades turísticas no ano de 2022″, apontou Lobo, acrescentando que a melhora da crise sanitária e o avanço da vacinação da população contra a covid-19 foram fundamentais para o retorno do consumo de serviços de turismo no País.
O estudo da CNC teve como base informações da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, da Polícia Federal, do Banco Central e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
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