Com inflação de 4,42% em 12 meses, bem acima da meta de 3% e quase no limite de tolerância, de 4,5%, os diretores do Banco Central (BC) precisarão de muito otimismo para evitar nova alta de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 17 e 18. O futuro presidente da instituição, Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, terá mais uma chance de mostrar compromisso com a nova função e independência em relação a seus dois padrinhos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente da República tem sido cauteloso, evitando qualquer cobrança antecipada ao novo chefe do BC. Mas nem por isso deixou de expressar, em discurso na terça-feira, a esperança de redução, em breve, da taxa de juros, num cenário, segundo ele, de inflação controlada, emprego em expansão e aumento da massa de salários.
Sinais de otimismo quanto ao crescimento econômico têm aparecido também no mercado. O Produto Interno Bruto (PIB) deve aumentar 3% neste ano, segundo a projeção registrada no boletim Focus. Mas a inflação dos preços ao consumidor chegará a 4,38%, e os juros, em dezembro, estarão em 11,75%, um ponto acima da taxa atual, implantada em 18 de setembro.
O mercado prevê algum afrouxamento da política monetária em 2025, mas o próximo ano, segundo o boletim, terminará com juros básicos de 10,75%, ainda muito altos. Apesar de algum recuo, a inflação anual estará em 3,97%, bem acima do centro da meta.
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A projeção de uma alta de preços ainda acentuada coincide com a expectativa de contas públicas deficitárias e sem perspectiva de ajuste no curto prazo. O mercado pode reconhecer e valorizar as intenções do ministro da Fazenda, formalmente comprometido com a arrumação das finanças do governo. Mas o sentido prático dessas promessas depende também das intenções e ações do presidente da República, divergentes, com frequência, dos padrões defendidos pelos ministros do Planejamento e da Fazenda.
O presidente já se mostrou, em várias ocasiões, capaz de resistir às pressões do populismo petista, mas ele teria de se empenhar muito mais para consolidar a imagem de um governante comprometido com a seriedade fiscal e com a eficiência administrativa. Eficiência e boas intenções são valores diferentes e nem sempre conciliáveis. A sua conciliação requer, com frequência, uma seleção muito severa de objetivos, com redução de ambições e concentração de esforços e recursos em alguns programas e políticas. Para isso, o presidente ainda pode ter de rejeitar as ambições de alguns ministros, opor-se a interesses partidários e abrir caminho num ambiente parlamentar frequentemente adverso.
O sucesso de boas políticas pode também depender de um bom planejamento, isto é, de um roteiro bem desenhado de metas e etapas, com identificação clara e realista de obstáculos e de recursos passíveis de mobilização. A aparente disposição de trabalho de Lula contrasta, no entanto, com a evidente carência de um plano claro e bem estruturado em relação aos diversos objetivos econômicos e sociais.
Por enquanto, a economia se move e há sinais de otimismo nos mercados, mas o investimento necessário à ampliação do potencial produtivo, à sua modernização e ao prolongamento da expansão econômica permanece muito limitado. Pelas últimas estimativas publicadas, o valor investido pelos setores público e privado continua inferior a 20% do PIB, taxa menor que as observadas em outras economias emergentes. Isso se reflete nas projeções de crescimento econômico, ainda muito próximas de 2% nos próximos anos.
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