A capacidade global de geração de energia a partir do carvão, um dos combustíveis fósseis mais poluentes, cresceu em 2023, impulsionada por uma onda de novas usinas que estão entrando em operação na China e que coincidiu com a desaceleração do ritmo de desativação de usinas mais antigas nos Estados Unidos e na Europa.
As conclusões foram apresentadas em um relatório anual da Global Energy Monitor, uma organização sem fins lucrativos que acompanha projetos de energia em todo o mundo.
A forte emissão de gases de efeito estufa do carvão levou a pedidos para que ele fosse rapidamente eliminado como fonte de energia, e todos os países do mundo concordaram em reduzir sua dependência do insumo. Porém, as economias em processo de industrialização, principalmente nos países asiáticos com acesso barato às reservas domésticas de carvão, estabeleceram horizontes mais longos para suas transições.
Somente a China foi responsável por dois terços das novas usinas de carvão em operação no mundo no ano passado. Indonésia, Índia, Vietnã, Japão, Bangladesh, Paquistão e Coreia do Sul também inauguraram novas usinas, que normalmente operam por duas a três décadas.
Um ponto positivo é que as novas usinas de carvão geralmente são menos poluentes do que as antigas, mas cientistas, pesquisadores do clima e ativistas concordam que o abandono não apenas do carvão, mas de todos os combustíveis fósseis, deve ocorrer o mais rápido possível para evitar as consequências mais terríveis do aquecimento global. “O que faremos com as usinas de carvão que estão em operação”, questionou Flora Champenois, uma das autoras do relatório.
A China e, em menor escala, a Índia, ainda estão planejando construir usinas de carvão daqui a muitos anos. Em 2023, a construção de novas usinas de carvão atingiu um recorde de oito anos na China. Se a China construísse todas as outras que propôs, acrescentaria o equivalente a um terço de sua frota operacional atual.
Atualmente, a China é responsável por cerca de 60% do uso de carvão no mundo, seguida pela Índia e pelos Estados Unidos. A Índia depende mais intensamente do carvão, com 80% de sua geração de eletricidade derivada dele.
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O outro lado do crescimento do carvão é uma desaceleração na desativação de usinas nas economias ocidentais. Em 2023, foram desativadas menos usinas do que em qualquer outro ano da última década. A desativação gradual de todas as usinas de carvão em operação até 2040 exigiria o fechamento de uma média de cerca de duas usinas de carvão por semana.
Os analistas disseram que a desaceleração em 2023 pode ter sido temporária, já que os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e os países da União Europeia estabeleceram várias metas para fechar todas as suas usinas de carvão existentes bem antes de 2040. A modelagem da Agência Internacional de Energia sugere que, para se alinhar com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais, os países ricos devem eliminar o carvão até 2030 e, em todos os outros lugares, até 2040.
“Tínhamos dito que 2024 seria o ano em que o carvão atingiria o pico”, disse Carlos Torres Diaz, vice-presidente sênior da Rystad Energy. “Mas, neste momento, eu diria que não está claro se atingiremos esse pico. De qualquer forma, estamos perto disso.”
Os países ocidentais dependeram do carvão por mais de um século e é por isso que, em grande parte, eles são responsáveis pela maior parte das emissões históricas de gases de efeito estufa.
Em uma tentativa de equilibrar a responsabilidade financeira com a transição energética, os países mais ricos juntaram dezenas de bilhões de dólares em empréstimos a alguns países em desenvolvimento dependentes do carvão, como Indonésia, Vietnã e África do Sul, para ajudá-los a desenvolver a energia renovável a fim de fazer uma transição mais rápida para longe do carvão. No entanto, até o momento, grande parte desse dinheiro não foi desembolsado enquanto as partes interessadas resolvem suas divergências.
Para muitos países em desenvolvimento, o carvão tem uma grande vantagem: é barato. Seu preço também se mostrou menos volátil do que o do petróleo e do gás, os outros principais combustíveis fósseis usados na produção de eletricidade.
Bangladesh, por exemplo, vinha aumentando sua capacidade de produção de gás. Mas as flutuações no preço e na disponibilidade, decorrentes, em grande parte, de choques relacionados à guerra na Ucrânia, levaram a uma reformulação e a um reinvestimento no carvão.
A mesma dinâmica é, até certo ponto, verdadeira na China, disseram os analistas. O impacto da pandemia na economia chinesa fez com que as empresas de serviços públicos optassem mais pelo combustível mais barato: o carvão.
A China também lidera o mundo em expansão de energia renovável. Esse crescimento supera em muito o crescimento do carvão e, em alguns casos, está vinculado a ele. O governo da China afirma que grande parte do carvão que utiliza ou planeja utilizar servirá como reserva para os momentos em que a produção renovável cair e a rede exigir mais energia.
“Embora os dados da China não sejam totalmente claros, é possível que, embora haja mais usinas de carvão, a utilização delas também seja menor”, disse Diaz. “Mas quando se trata de carvão, como a China é uma parte tão importante, o que acontece lá realmente define a tendência global.”
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