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Vale acerta com clientes reajuste de 100% no preço do minério de ferro

Empresa também consegue acordo que prevê negociação trimestral, e não anual, dos preços de seus produtos

Em comunicado quase misterioso, dada a falta de detalhes, a Vale informou ontem que "acordou com a maioria de seus clientes novas condições de precificação para o minério de ferro". No mercado, a informação que circulava era de que a empresa conseguiu os reajustes pretendidos, que vão de 90% a mais de 100%. A Vale, contudo, não quis informar os valores dos novos contratos. Apenas confirmou que conseguiu acertar que as negociações fossem feitas de forma trimestral - e não mais anual. Alguns dos acordos foram definitivos, outros provisórios. Mas equivalem a 90% do volume de contratos. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, a Vale está usando como referência, nas negociações a cotação do minério na China, mas adaptando para um produto de melhor qualidade e considerando o preço médio dos fretes para transportar o produto.Uma explicação para a Vale não ter divulgado os números seria porque aguarda pronunciamentos de outras companhias, como a BHP.De acordo com uma fonte do mercado, que teria entrado em contato com representantes da Vale, o reajuste teria como base o valor negociado no semestre anterior, descontado o frete, o que representaria em média US$ 107 por tonelada. Reajuste. O reajuste vai variar de acordo com o tipo de produto. No ano passado, durante a negociação, por conta da crise, que fez com que o mercado ficasse parado, os preços de alguns produtos caíram até 48%, como foi o caso das pelotas. Atualmente, o minério de ferro está em torno de R$ 55 a tonelada. Agora, com a economia reaquecida, pode, em alguns casos, ultrapassar os R$ 110. As mesmas pelotas, cujos preços caíram pela metade em 2009, devem dobrar seu valor. Olhando a série de reajustes desde 1994, esse será o maior aumento. Depois de grandes altas como as de 71% em 2005 e 2008, a princípio, poucos eram os analistas que acreditavam que se pudesse registrar tamanha variação. Tanto que os cálculos vinham sendo feitos com minério até 70% mais caro. Queixa. O Instituto Aço Brasil (IABr) reclamou das condições de negociação no Brasil, porque a Vale controla todo o mercado. "Há 10 anos, tínhamos uma estrutura de competição no País que permitia que o preço fosse realmente negociado. Hoje, quando a Vale define, não há discussão", disse o vice-presidente executivo, Marco Polo de Mello. Juliano Navarro, analista do BES, aprovou o novo sistema de reajustes trimestrais, mas reclamou da falta de informações quanto aos valores. Segundo ele, o reajuste trimestral "corrige distorções" que o segmento enfrentava por causa do longo período entre um e outro reajuste. Agora, a dificuldade de fechar os preços deve vir da queda de braço entre a companhia e as siderúrgicas europeias, que são mais difíceis na negociação. "Sabemos que serão contratos diferenciados, mas todos mais em linha do que no passado. Não veremos, por exemplo, diferenças no reajuste que sejam muito díspares", comentou. Pedro Montenegro, analista da Brascan Corretora, lembra que o minério de ferro não é o único produto da Vale que está aumentando fortemente de preço. A venda de minério, mesmo muito maior em termos de volume, equivale a cerca de 60% da receita da companhia. Outros produtos. Ainda que os padrões de reajuste sejam muito diferentes, outros exemplos ilustram bem o cenário de uma economia que está voltando a se aquecer. O níquel, que responde por 13% da receita da Vale, subiu 30% desde o fim do ano passado; o mesmo ocorreu com o alumínio, cujos preços aumentaram 17,5% no mesmo período. No cobre, a alta está em 11,2% desde dezembro. Cálculos da Vale indicam que, caso o minério de ferro aumente 100%, considerando um período de 12 meses e mantido o mesmo volume da matéria-prima, isso pode significar um aumento de 8,7% nas exportações brasileiras quando comparado com o resultado de 2009. Isso equivaleria a receita adicional de US$ 13,2 bilhões no total do que é vendido para o exterior. De acordo com a Vale, "isso permite financiar um valor adicional de US$ 13,2 bilhões de importações, o que representa elevação de 10,4% sobre as importações totais do Brasil de 2009".

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