Por que Vale e CSN Mineração devem ser afetadas em mais um ano de queda no preço do minério de ferro

Projeções de especialistas indicam preço médio de US$ 95 a tonelada em 2025, cerca de 15% abaixo da cotação de 2024; China, maior país importador do mundo, vive incertezas na economia

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Foto do author Ivo Ribeiro
Atualização:

O cenário de preços para o minério de ferro, no novo ano, não sinaliza bons ventos para Vale e CSN Mineração (CMIN), as duas principais mineradoras da commodity no País. A cotação da matéria-prima, um dos produtos líderes da balança de exportação brasileira, tende a se manter pressionada após o decréscimo na faixa de 30% previsto para 2024. Nos últimos dias do ano, a commodity é negociada ao redor de US$ 100 a tonelada.

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Será um ano difícil para companhias de mineração, avaliam especialistas e analistas de bancos que acompanham o setor. As margens de ganho das empresas tendem a ser reduzidas. A China, maior importadora mundial da commodity metálica para abastecer sua indústria do aço, ainda vive incertezas na recuperação econômica e o governo busca ajustes com planos de estímulo.

As estimativas de cotação média para o minério variam de US$ 90 a US$ 100 a tonelada no ano que entra, com baixa de US$ 10 a US$ 20 a tonelada em relação à média deste ano, de US$ 105 a US$ 110. Até sexta-feira, 27, o preço da matéria-prima no mercado chinês, que define o preço de referência mundial nas negociações, tinha retração na faixa de 29%. O minério começou o ano negociado a US$ 140,50.

O cenário de baixa desfavorável, além de Vale e CMIN, atinge Anglo American Brasil, Samarco e várias outras mineradoras de menor porte do País.

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A China é o destino de quase 70% dos volumes embarcados pelo Brasil - 380,5 milhões de toneladas em 2023. O Brasil fica atrás da Austrália, que lidera as exportações do mundo com quase 900 milhões de toneladas, praticamente tudo que produz. As concorrentes australianas levam vantagens de frete por estarem mais próximas do grande mercado asiático.

Mina de minério de ferro da Vale em Itabirito, na região do Quadrilátero Mineiro  Foto: Fabio Motta/Estadão - 7/7/2015

Neste ano, os papéis de Vale e CMIN negociados na B3 estão fechando com elevadas perdas. As ações da Vale, em 2024, até sexta-feira passada, tiveram queda de 29%. As da CMIN, em 12 meses, recuaram quase 31%. O desempenho das duas mineradoras na bolsa esteve em linha com a baixa do minério durante o ano, ressalvando que a Vale produz também níquel e cobre.

O minério viveu, ao longo do ano, muita volatilidade nos preços: após a alta dos primeiros meses, a cotação foi perdendo força à medida que a economia chinesa foi mostrando sinais de deterioração, principalmente o segmento imobiliário, grande demandador de aço até alguns anos atrás.

Atualmente, é pouco mais da metade do que consumia antes. Em setembro, o minério chegou a ser negociado no norte da China a US$ 89,35 a tonelada, conforme dados da consultoria S&P Global Insight Commodities.

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Na sexta-feira, as cotações futuras do minério atingiram US$ 99 a tonelada na bolsa de commodities de Cingapura. Na Bolsa chinesa de Dalian, o contrato mais negociado da commodity encerrou em baixa de 2,63%, a 759,5 yuans (US$ 104,05) a tonelada, menor preço desde 19 de novembro, com comerciantes preocupados com a demanda chinesa e à medida que lucros industriais fracos no país foram publicados, apesar do melhor desempenho das siderúrgicas, informou o Mining.com, site especializado em commodities minerais e metálicas.

Economia chinesa fraca e potencial embate com EUA no horizonte

Em seu último relatório anual, a World Steel Association (WSA), que reúne 71 siderúrgicas, projetou retração de 3% no consumo de aço da China neste ano, para 868,8 milhões de toneladas, e recuo de 1% em 2025.

Espera-se que a desaceleração contínua no setor imobiliário chinês ainda afete a demanda por aço na China, destaca o relatório da WSA.

O Instituto de Pesquisa e Planejamento da Indústria Metalúrgica da China (MPI), apoiado pelo estado, indica números mais pessimistas: 1,5% em 2025 e 4,4% em 2024.

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A equipe de análise do Itaú BBA, liderada por Daniel Sasson, trabalha com média de US$ 95 para os preços da commodity no próximo ano, US$ 15 a menos que em 2024.

“A China operou em um ‘modo de velocidade’ duplo, com forte desempenho na indústria e nas exportações, enquanto o setor imobiliário permaneceu em queda. A maior preocupação sobre a China, atualmente, é o ambiente de comércio global desafiador e a fraca demanda por aço no país”, afirma. O preço será também afetado pelo aumento de capacidade de oferta das mineradoras.

O consumo de aço na China continua fraco, sem sinais de melhora, destaca Sasson. Tanto que as exportações de aço do país continuam altas, respondendo por 11% da produção total, até novembro, o nível mais alto desde 2016. Em volume, são 101 milhões de toneladas nos últimos 11 meses contra 91 milhões de toneladas em igual período de 2023, o que compensou a fraca demanda interna chinesa.

“Prevemos que o ambiente de comércio global se tornará mais difícil em 2025 pelo aumento de medidas protecionistas contra o aço chinês, por exemplo, na Tailândia, Índia, Turquia e Vietnã e por uma potencial escalada de tarifas do governo americano de Donald Trump”. Em particular contra a China.

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Do lado da oferta, informa o analista do Itaú BBA, há capacidade significativa entrando em operação nos próximos anos, como o Projeto Onslow (Austrália, com 35 milhões de toneladas), Vargem Grande/Capanema e S11D, da Vale (mais 50 milhões de toneladas até 2026) e o inicio da primeira fase de Simandou, operada pela Rio Tinto (que atingirá 60 milhões de toneladas no auge).

Simandou é uma mina gigante de ferro em fase final de construção na Guiné, por grupos chineses e da Austrália, que vai competir com a brasileira Carajás, da Vale, no Pará.

“Nossa postura é conservadora para o preço do minério em 2025, com US$ 95 a tonelada e uma previsão de longo prazo de US$ 80 (em termos reais), destacando demanda moderada por aço na China combinada com ambiente de comércio global desafiador mais acréscimo robusto de capacidade de minério, levando a oferta a superar a demanda. Isso, por sua vez, provavelmente pressionará os preços do minério de ferro”, destaca Sasson.

Na sua avaliação, uma medida que poderá trazer alívio aos preços do minério são estímulos fiscais à economia do país por parte do governo chinês, de forma a impulsionar o consumo interno de aço. Do ponto de vista global, um ponto de atenção será acompanhar a reação que virá da China a uma guerra comercial deflagrada por EUA.

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Menor competitividade no custo do frete para a Ásia

O consultor da Neelix Consultuing Mining & Metals, José Carlos Martins, projeta preço médio de US$ 90 a US$ 95 a tonelada em 2025 para o minério de ferro, colocado em portos chineses. A estimativa é cerca de 20% inferior à média de US$ 109 que prevê para este ano.

Na avaliação de Martins, ao se comparar com as rivais australianas, é um nível de preço desfavorável para as brasileiras. “O custo do frete é maior para Ásia, de US$ 10 a US$ 15 a tonelada, em relação ao das australianas”. No caso da Vale, afirma, tem um item a mais: o custo de reparação (dos rompimentos de barragens de rejeitos de Mariana e Brumadinho, em Minas), da ordem de US$ 10 a tonelada.

O executivo não vê aumento de oferta no horizonte do mercado no próximo ano. “Há muita exaustão (de reservas) de minas e maior produção de minas menos competitivas. O início de operação de Simandou só vai acontecer, de fato, no começo de 2026. Aí a situação poderá ser pior”, diz Martins. Estimativas para os preços no longo prazo variam de US$ 90 para até US$ 70 a tonelada.

A Vale informou no início de dezembro, em Nova York, no Vale Day, que deve encerrar 2024 com produção de 328 milhões de toneladas e indicou para o novo ano meta de ficar entre 325 milhões e 335 milhões de toneladas de minério. A CMIN trabalha com vendas, entre o que produz e minério adquirido de terceiros, de 40 milhões a 43 milhões de toneladas.

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Executivo ligado à mineradora controlada por Benjamin Steinbruch declarou ao Estadão que a visão da empresa é de preço médio do produto entre US$ 100 e US$ 110 a tonelada no próximo ano, valor que está acima do projetado por analisas. A companhia diz que vê expectativas em relação a potenciais estímulos do governo chinês para a economia no próximo ano, o que vai gerar maior demanda por aço no país e, consequentemente, maior consumo de minério.