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Valor de apostas pode triplicar em dez anos com fim de monopólio da Caixa

Expectativa do governo é de que a abertura do mercado de apostas ocorra ainda no primeiro semestre de 2022

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Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Eduardo Rodrigues e Érika Motoda

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Se o mercado tradicional de loterias no Brasil não para de crescer, o governo estima que o dinheiro movimentado em apostas possa triplicar nos próximos dez anos com o fim do monopólio da Caixa Econômica Federal. A expectativa é de que a abertura do mercado das loterias instantâneas e das apostas esportivas saia ainda na primeira metade de 2022.  

Para o secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) do Ministério da Economia, Gustavo Guimarães, a maior competição no mercado brasileiro pode aumentar inclusive as receitas das loterias federais, pois a oferta maior de jogos pode criar mais consumidores de apostas.

Embora a Mega-Sena pague os maiores prêmios, os jogos que mais têm avançado no gosto dos apostadores são a Lotofácil e a Quina Foto: Werther Santana/ Estadão

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Além do Ministério da Economia, participam do debate a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, a Polícia Federal e até o Banco Central. “São muitos atores envolvidos, para preservarmos a integridade do esporte e coibirmos a lavagem de dinheiro. Há uma série de questões sobre o jogo responsável e temas a serem discutidos sobre publicidade e propaganda dos jogos”, diz o secretário.

A Secap tem sido procurada por grandes grupos internacionais que já operam tanto as loterias instantâneas – as famosas “raspadinhas" – quanto as apostas esportivas em diversos países. Os “grandes e bons” conglomerados, como classifica Guimarães, têm interesse em participar de um mercado seguro e regulado, onde possam explorar um rol maior de produtos.

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“O brasileiro já conhece bem os prêmios instantâneos, de menor valor, que trazem uma alegria na hora. Agora já começam a conhecer as apostas esportivas, que são um motivo a mais para torcer durante as partidas”, diz.

Hoje, embora a Mega-Sena pague os maiores prêmios do País, os jogos que mais têm avançado no gosto dos apostadores são a Lotofácil e a Quina. As duas modalidades cresceram 25% e 14%, respectivamente, no acumulado até setembro na comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação a 2017, a Lotofácil registra um aumento de 75% nos valores apostados. Com isso, a Lotofácil já é hoje o principal produto lotérico, à frente da Mega-Sena e da Quina.

Se a loteria tradicional já irá faturar R$ 18 bilhões em 2021, os cálculos do governo estimam que as loterias instantâneas possam render até R$ 22 bilhões por ano até o fim dessa década, enquanto o mercado das apostas esportivas poderia bater na casa dos R$ 20 bilhões anuais já em 2026.

Enquanto o mercado de loterias segue em alta, boa parte do valor apostado é aplicado em projetos sociais. De janeiro a setembro deste ano, R$ 6,35 bilhões foram revertidos para políticas sociais, um aumento de 11% em relação ao mesmo período de 2020. A maior parte desses recursos está “carimbada”, ou seja, diretamente ligada à seguridade social e áreas como educação, segurança e fomento ao esporte.

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Jogadores 'profissionais' ensinam dicas para aumentar chance de acertar os números

Reinaldo Castro Souza usa um histograma para escolher os números da aposta Foto: Werther Santana/ Estadão

Estudioso das loterias há mais de 15 anos, o pernambucano Guilhermino Ferreira, de 39 anos, já perdeu as contas de quantas vezes ganhou as apostas. Arrisca dizer que foram mais de cem prêmios, mas sempre nas quadras e quinas. O grande prêmio tem teimado em não sair, a despeito da série de fórmulas, cálculos e estatísticas usadas pelo apostador profissional que lançou até livro ensinando como preencher o melhor bilhete.

“Tudo que tenho hoje vem das loterias. É claro que todos querem ganhar o prêmio máximo, mas eu jogo pensando na quadra e na quina. Os prêmios me ajudaram bastante, tenho casa própria, carro, consegui ajudar a família”, conta Ferreira, que é formado em contabilidade e informática.

A grande maioria dos apostadores em qualquer lugar do mundo conta apenas com a sorte, escolhe números aleatórios e torce para as bolinhas saírem naquela ordem. Já Ferreira trabalha com uma série de combinações probabilísticas, além de compilar o resultado histórico dos sorteios.

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“As pessoas acreditam cegamente no acaso e apostam no escuro. Jogam a data de nascimento, o número da sorte, acreditando que o destino um dia vai bater na porta. Mas quando se joga por meio de estratégias e planilhas, quando se segue um plano lógico, é possível maximizar os prêmios”, aconselha.

Ele lembra que a probabilidade de se acertar na Mega-Sena com um jogo simples de 6 dezenas é de 1 em mais de 50 milhões. O segredo é realizar jogos com mais números ou combinar vários bilhetes. Por exemplo, a maior aposta aceita nas casas lotéricas tem 15 números e custa R$ 22.522,50. Com isso, a chance de levar o prêmio principal aumenta para 1 em 10 mil. Já Ferreira garante obter o mesmo efeito jogando os mesmos 15 números combinados em 19 bilhetes simples, a um custo total de "apenas" R$ 85,50.

Para além das combinações entre jogos, o especialista também mantém em dia o compilado de quais números mais saem em cada loteria. Ferreira lista as 15 “dezenas de ouro” da Mega-Sena (05, 07, 13, 14, 16, 25, 28, 29, 37, 38, 43, 44, 53, 54, 60) que, segundo ele, saem em 98% dos sorteios. Outros grupos de bolinhas também têm tido frequência alta nos concursos, e a dica é sempre buscar nesses conjuntos os números apostados.

“Para continuar na matemática eu diria que a loteria é 45% de investimento, 45% de estratégia e 10% de sorte. Quem joga com estatística não vai jogar o jogo improvável, mas o improvável também pode acontecer. Eu não tenho bola de cristal, mas consigo ter uma noção do que pode acontecer com mais frequência”.

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O doutor em Estatística Reinaldo Castro Souza, de 73 anos, também tem um método mais sofisticado na hora de escolher os números. Ele utiliza um histograma, uma espécie de gráfico que mede a frequência com que as informações se repetem. “Eu faço a distribuição de frequências dos sorteios já feitos. Os números que menos saíram (em jogos anteriores) têm mais chances de sair (agora) porque a frequência tem que ser igual.”

Mas as apostas também têm espaço para a emoção: o jogo preferido de Souza é a Lotofácil, em que o jogador tem de acertar 15 números entre os 25 disponíveis, porque "é mais emocionante na hora de conferir". Professor titular da PUC-Rio, além de ser flamenguista e mangueirense, ele faz planos de doar parte do dinheiro para o time e para a escola de samba de coração, se um dia conseguir um bom prêmio. 

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