Em meio a gritos de vendedores e clientes sempre carregados de sacolas com todo o tipo de roupa, o bairro do Brás, na região central de São Paulo, se tornou um dos principais pontos de comércio da capital paulista. Não à toa, a região é uma das que mais possuem microempreendedores na cidade: são 5 mil lojas e cerca de 4 mil confeccionistas espalhados por 55 ruas comerciais do bairro. Por dia, passam, em média, 300 mil clientes por lá. Logo, com tanta gente querendo vender e comprar, a fintech Pagmoda, fundada em novembro de 2020, percebeu a oportunidade de oferecer serviços financeiros, desde conta digital até maquininhas de cartão, para as pessoas que estavam ali diariamente.
Ligada ao grupo Vab, da rede Lojão do Brás e da Feirinha da Concórdia, já emprestou R$ 7 milhões e alugou 400 maquininhas para comerciantes da região.
Seja para conquistar um determinado público ou trazer facilidades para os próprios clientes, há um movimento no varejo brasileiro de criar cada vez mais produtos financeiros. É a chamada “fintechzação” do setor. Empresas como Magazine Luiza, Mercado Livre, Via, entre outras, já atuam nessa área há algum tempo. Porém, agora, varejistas com capacidade de investimento bem menor do que as gigantes também querem um banco para chamar de seu.
Para tornar esse desejo realidade, há uma série de empresas e consultorias prestando esse tipo de serviço chamado “banking as a service” (BaaS), que nada mais é do que a terceirização de serviços financeiros sob medida.
É o caso, por exemplo, da consultoria A&S Partners que, entre as suas especialidades, está a de estruturar banco digitais para as empresas, como a Pagmoda. Segundo Wagner Moraes, sócio-fundador da consultoria, trata-se de um movimento sem volta para a fidelização dos clientes. “O custo está cada vez menor: com um investimento de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões, uma empresa já consegue abrir o seu banco digital”, diz Moraes.
Foi o caminho adotado pela Pagmoda. O público-alvo da fintech é o pequeno empreendedor do Brás, muitos deles estrangeiros, que têm pouco ou quase nenhum histórico de crédito. Ou seja, aquele público que os grandes bancos pouco olham. Para entender melhor o cliente, a própria empresa criou uma forma própria de realizar o score de crédito e, assim, definir se as taxas de juros serão maiores ou menores.
“Como a Pagmoda faz parte do grupo do Lojão do Brás, nós temos a feirinha da Concórdia com mais de 2 mil lojistas que alugam nossos espaços e que querem ter acesso a esses produtos financeiros, mas não conseguiam”, diz Márcio Campos, diretor geral da Pagmoda. “E como conhecemos nossos clientes, ainda conseguimos dar benefícios a eles.” A empresa também quer atuar na concessão de crédito para consumidores, mas que possa ser utilizado somente na região do Brás.