RIO - Assim como ocorreu no setor de serviços, o comércio varejista manteve a tendência de crescimento no início do quarto trimestre. O volume vendido subiu 0,4% em outubro ante setembro, após já ter aumentado 0,6% no mês anterior. Como resultado, as vendas alcançaram novo patamar recorde na série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O desempenho ficou praticamente no teto das estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam desde uma queda de 1,3% a uma alta de 0,5%, com mediana negativa em 0,2%.
“Os dados de hoje corroboram nossa expectativa de uma atividade resiliente no último trimestre deste ano”, resumiram as analistas Natalia Cotarelli e Marina Garrido, do departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco, em relatório.
O consumo das famílias brasileiras continua surpreendendo positivamente, mas a política monetária mais restritiva e o aumento das taxas de inadimplência podem pesar sobre o consumo no próximo ano, avaliou Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“O cenário fiscal e externo será fundamental para determinar se o setor terciário conseguirá sustentar o atual ritmo de crescimento em 2025″, frisou Bentes.
Quais atividades tiveram maior alta
Seis das oito atividades que integram o comércio varejista registraram altas nas vendas em outubro ante setembro: móveis e eletrodomésticos (7,5%), equipamentos de informática e comunicação (2,7%), vestuário e calçados (1,7%), combustíveis (1,3%), hipermercados e supermercados (0,3%) e livros e papelaria (0,3%). As perdas ocorreram em farmacêuticos e perfumaria (-1,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento (-1,5%).
No comércio varejista ampliado — que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício — houve alta de 0,9% em outubro ante setembro. O segmento de veículos registrou alta de 8,1%, material de construção subiu 0,7%, e atacado alimentício cresceu 7,5%.
O mercado de trabalho aquecido segue ajudando no dinamismo das vendas do comércio varejista, ao passo que a alta dos juros e a inflação já influenciaram negativamente o setor em outubro, afirmou Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE.
“Ainda há fatores que dão suporte para esse crescimento no comércio. A massa de rendimento continua crescendo em outubro, o número de pessoas ocupadas também cresceu. Então esses fatores ainda pesam na balança para o lado de estímulo ao consumo”, afirmou Santos. “Por outro lado, alguns outros fatores reduzem esse estímulo. Um deles é o crédito à Pessoa Física, ele vinha crescendo. Depois, com as taxas de juros em crescimento já no segundo semestre, nesse mês (de outubro) houve decréscimo no volume de crédito à Pessoa Física”, completou.
Qual é o impacto na inflação
Quanto à inflação, o pesquisador apontou que teve impacto negativo no varejo em outubro, sobretudo, via aumento nos preços da alimentação no domicílio, que reduziu o desempenho do setor de supermercados.
“O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, apurado pelo IBGE) foi de 0,56%, e teve como principal componente em outubro a alimentação no domicílio. A gente sabe que pesa bastante nos hipermercados e supermercados, então segura esse crescimento de supermercados”, apontou Santos.
No caso dos supermercados, o resultado das vendas também foi afetado por uma mudança na operação de uma grande rede, com vendas e passagem de pontos de unidades locais.
“Isso tem causado certo dinamismo nessa atividade em termos de abertura e fechamento de lojas. Isso tem acontecido mais no Sul e no Sudeste. O crescimento um pouco mais sustentado dessa atividade de supermercados tem acontecido mais no Norte e Nordeste”, explicou Santos.
Tendência ao longo de 2024
No geral, a avaliação é de que o comércio varejista manteve em outubro o viés de alta visto na trajetória percorrida ao longo do ano de 2024, afirmou Santos. Na série com ajuste sazonal, em comparação ao mês imediatamente anterior, o varejo mostrou um único mês com recuo considerado estatisticamente significativo em 2024, que foi o mês de junho, enquanto que nos demais houve expansão ou estabilidade no volume vendido: janeiro (1,8%), fevereiro (0,9%), março (0,2%), abril (0,8%), maio (1,0%), junho (-0,9%), julho (0,6%), agosto (-0,2%), setembro (0,6%) e outubro (0,4%).
“É a terceira vez no ano que esse recorde (de vendas) é renovado”, disse Santos. “São resultados que demonstram a força que tem em 2024, diferentemente de anos anteriores.”
No acumulado de janeiro a outubro de 2024, ante o mesmo período do ano anterior, as vendas acumulam um avanço de 5,0%. A expectativa, portanto, é de que o volume vendido encerre este ano com uma expansão maior do que a de 1,7% registrada em 2023, o que representaria ainda o oitavo ano seguido de avanços no comércio.
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Segundo o pesquisador do IBGE, o bom desempenho do setor varejista tem o protagonismo da atividade farmacêutica, mas também é sustentado pelos supermercados.
Para 2025, entretanto, o cenário aponta uma desaceleração no crescimento do comércio varejista, previu Isabela Tavares, analista da Tendências Consultoria Integrada.
“As contribuições positivas dos condicionantes observadas neste ano devem diminuir, em função de aumento dos juros bancários, pressão inflacionária no orçamento familiar, aumento nos preços dos bens e menor volume de crédito. De toda forma, o mercado de trabalho ainda aquecido limita maiores perdas no próximo ano”, projetou Tavares, em nota.
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