Venda de itens para reparos em casa aumenta, mas não salva lojas de material de construção

Sem obras durante o período de isolamento por causa da pandemia, setor deve encolher 13,3% de janeiro a maio e associação de lojistas prevê demissões

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Foto do author Talita Nascimento

Com mais tempo em casa e menos alternativas de compras, o morador das cidades ainda em isolamento por causa da pandemia de coronavírus têm tido nas lojas de material de construção e decoração uma saída para repaginar a casa, fazer pequenos reparos - e dar aquele pequeno passeio. "É claro que estamos sentindo falta das vendas de obras e reformas, mas esse movimento nos salvou", diz Marcelo Roffe, diretor-geral da C&C. Houve aumento de vendas em junho, em relação ao mesmo período de 2019, em itens diferentes dos habituais.

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Os produtos voltados para comunicação e segurança da casa - como interfone, por exemplo - cresceram 40%. Ferramentas manuais e elétricas tiveram aumento de 30% e os organizadores em geral, de 45%. Os móveis de escritório têm saído em dobro e os itens de iluminação avançaram 20%.

Movimento parecido aconteceu na concorrente Telhanorte. Lá, o CEO, Juliano Ohta, diz que os destaques foram torneiras, vasos, lâmpadas e elementos de decoração.

O fato de os brasileiros buscarem melhorar o ambiente doméstico, ou deixarem de protelar reparos por estarem mais em casa, porém, não resolve a queda de vendas em geral do setor. "Nosso fluxo aumentou, mas o tíquete médio caiu", afirma Ohta.

Segundo dados da Associação Brasileira de Materiais de Construção, a projeção de queda de faturamento para empresas do ramo em maio é de 24,8%. Na estimativa para o acumulado de janeiro a maio, o setor deve encolher 13,3%. O setor retrairia em cinco meses o mesmo que recuou em seu pior ano, 2016, quando perdeu 13,5% das vendas.

Juliano Ohta, da Telhanorte, diz que durante a pandemia destaques de venda têm sido torneiras, vasos, lâmpadas e itens de decoração. Foto: Nilton Fukuda/Estadão - 22/8/2019

"O setor conta com 70% de vendas para obras e 30% para reparos. É claro que os 30% não vão compensar todo o resto", diz Roffe, da C&C. 

Para Ohta, da Telhanorte, o setor vive uma euforia. "As lojas estão mais cheias e aumentam as compras por impulso, até porque somos um dos poucos setores abertos, viramos uma espécie de shopping", diz. "Temos números positivos em maio e junho, mas isso vai passar. A euforia vai cair e vamos sentir os efeitos da perda de renda e emprego."

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O superintendente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção, Waldir Abreu, diz que se as empresas do ramo fecharem o ano empatadas com 2019, será motivo de comemoração. "Em junho, já podemos ver demissões no setor. As empresas fizeram uso da MP 936 (que permite a suspensão de trabalho por 90 dias), mas o prazo está acabando e as vendas não voltaram ao que eram", afirma.

Até mesmo a nova tendência de consumo de itens mais baratos e que podem ser adquiridos sem a ajuda de um vendedor altamente especializado pode requerer das empresas uma reorganização. Abreu diz que, mesmo com garantias do governos em andamento, o crédito ainda não chegou para socorrer as empresas.

"Tivemos de ser mais rigorosos com custos, fizemos uso da MP e nos adequamos. Nosso e-commerce, que é líder de mercado, dobrou a venda", diz Roffe.

Na Telhanorte, as vendas no e-commerce aumentaram cerca de três vezes. Ohta afirma que o setor deve viver uma modernização daqui para frente. "Ficou claro que o varejo de construção estava atrasado", diz. "Vamos crescer em multicanalidade. O ponto de venda virou lugar de experiência e multicanalidade."

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