RIO E SÃO PAULO - O comércio varejista sinalizou uma acomodação em novembro, após ter alcançado patamar recorde de vendas no mês anterior. O volume vendido recuou 0,4% em novembro ante outubro, segundo os dados da Pesquisa Mensal e Comércio divulgados nesta quinta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A queda foi duas vezes mais intensa do que o declínio mediano de 0,2% previsto por analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast. O desempenho negativo indica perda de tração do consumo de bens, avaliou o economista Rodolfo Margato, da gestora de recursos da XP Investimentos.
“Temos que avaliar esse dado com cautela, é importante acompanharmos as próximas divulgações mensais para analisarmos se essa queda do varejo foi algo mais pontual ou se isso significa o início de uma tendência de enfraquecimento para o setor”, ponderou Margato.
Em novembro, o varejo passou a operar 0,4% abaixo do patamar recorde de vendas alcançado no mês imediatamente anterior, em outubro de 2024. O varejo ampliado — que inclui as atividades de veículos, material e construção e atacado alimentício — encolheu 1,8% em novembro, após também subir a um ápice histórico de vendas em outubro de 2024.
“Um ponto de surpresa também é que em novembro, mês de Black Friday, não vimos um impacto significativo no volume de vendas”, disse André Valério, economista sênior do banco Inter, sobre a já tradicional campanha de liquidações. “Vimos uma queda bem disseminada da atividade de varejo, sugerindo que a demanda está perdendo força”, acrescentou.
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Na passagem de outubro para novembro, cinco das oito atividades que integram o comércio varejista registraram quedas nas vendas: móveis e eletrodomésticos (-2,8%), farmacêuticos e perfumaria (-2,2%), livros e papelaria (-1,5%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,0%) e supermercados (-0,1%). Na direção oposta, os avanços ocorreram em equipamentos de informática e comunicação (3,5%), combustíveis (1,5%) e vestuário e calçados (1,4%).
“A inflação (de alimentos) contribui para segurar o setor de hipermercados e supermercados de alguma maneira, fazendo com que haja uma estabilidade na ponta”, avaliou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
Entretanto, o setor de supermercados operava em novembro apenas 0,1% aquém do pico de vendas visto no mês anterior. A atividade é a que mais vem contribuindo para os sucessivos recordes de volume vendido pelo comércio varejista brasileiro, ao lado do segmento de farmacêuticos e perfumaria.
Quanto às promoções da Black Friday, que ocorrem ao fim de novembro, Santos confirmou que a campanha não evitou uma queda no mês nas vendas de segmentos aderentes à data, como móveis e eletrodomésticos, farmacêuticos e outros artigos de uso pessoal e doméstico.
“Teve antecipação de promoções da Black Friday em móveis e eletrodomésticos em outubro”, justificou Santos.
A campanha, porém, ajudou no crescimento do volume vendido em novembro pelos segmentos de vestuário e calçados e de equipamentos de informática e comunicação. Para Santos, a Black Friday permitiu uma queima de estoques na atividade de informática e comunicação, que teria passado assim imune ao impacto da valorização do dólar em relação ao real.
No comércio varejista ampliado, as vendas de veículos caíram 7,6% em novembro; material de construção diminuiu 1,4%; e atacado alimentício encolheu 4,9%.
Para Cristiano Santos, do IBGE, a leitura do varejo em novembro é de uma estabilidade, sem alterações no contexto macro. O pesquisador pondera que a acomodação atual nas vendas ocorre após uma sequência de altas, que elevaram o volume vendido a patamares recordes.
“Essa estabilidade ou acomodação que ocorre nos últimos meses é uma coisa natural. Crescer sobre uma base (de comparação) alta é muito mais difícil”, explicou. “O varejo tem viés de longo prazo positivo, culminando com os maiores patamares da série nos últimos meses. Isso acontece também no varejo ampliado”, completou.
Segundo ele, o emprego e a massa de renda de renda recordes vêm ajudando o desempenho das vendas, assim como as concessões de crédito. Por outro lado, a inflação de alimentos afeta o resultado final dos supermercados, embora o viés permaneça de alta.
“O ano de 2024 tem sido mais forte do que o ano anterior”, frisou Santos.
Na comparação com novembro de 2023, sem ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram alta de 4,7% em novembro de 2024. As vendas do varejo restrito acumularam alta de 5,0% no ano, que tem como base de comparação o mesmo período do ano anterior. Em 12 meses, houve elevação de 4,6%.