RIO e SÃO PAULO - O mau desempenho dos supermercados impediu que o varejo crescesse na passagem de outubro para novembro, a despeito de as promoções da Black Friday terem impulsionado as vendas de outros setores. O volume vendido teve ligeira redução de 0,1%, interrompendo uma sequência de seis meses de avanços, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada nesta sexta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado ficou aquém da projeção de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma elevação de 0,3%. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, houve avanço de 0,6%.
"Todo mundo já esperava que o auxílio terminasse em dezembro e essa perspectiva de fim levou as pessoas a conter o consumo que era extra em função do auxílio”, avaliou Daniel Xavier, economista-sênior do Banco ABC Brasil.
O setor de supermercados registrou perda de 2,2% em novembro ante outubro, derrubado tanto pela inflação de alimentos quanto pela redução no pagamento do auxílio emergencial, que diminuiu a capacidade de consumo das famílias, concorda Cristiano Santos, analista da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.
“Aumentou a parcela da população que recebeu metade do que recebia. Isso é um fator que reduz a capacidade de você realizar algum tipo de consumo. Nesse contexto, pode acontecer de a atividade de hiper e supermercados sentir mais a diminuição (do auxílio)”, confirmou Santos.
Se o impacto da redução do auxílio emergencial já foi percebido nas leituras de atividade de novembro, o movimento deve continuar na virada de 2020 para 2021, quando o pagamento do benefício foi encerrado, previu o economista Lucas Maynard, do banco Santander Brasil.
"Ainda espero uma acomodação no varejo restrito em dezembro, e para o varejo ampliado talvez um crescimento discreto, levando a um bom fechamento trimestral, puxado principalmente por veículos. Essa também deve ser a dinâmica no começo de 2021, com setores mais sensíveis à renda sofrendo com o fim do auxílio, que leva à diminuição da renda disponível", justificou Maynard.
Para o IBGE, as atividades do varejo que cresceram em novembro foram impulsionadas pela campanha de promoções Black Friday, que ocorre na última sexta-feira do mês, com ajuda também da expansão do crédito e dos juros ainda em patamares baixos: livros e papelaria (5,6%), tecidos, vestuário e calçados (3,6%), equipamentos para escritório, informática e comunicação (3,0%), artigos farmacêuticos e perfumaria (2,6%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,4%).
As perdas ocorreram, além de supermercados, em combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e móveis e eletrodomésticos (-0,1%), mas Cristiano Santos, do IBGE, acredita que houve influência de uma antecipação de compras desse último setor ao longo da pandemia.
Na comparação com novembro de 2019, o varejo cresceu 3,4% em novembro de 2020, impulsionado também pela Black Friday, apontou Cristiano Santos. Os varejistas que relataram alguma influência da campanha de promoções sobre o desempenho de novembro contribuíram com 3,1 pontos porcentuais para a taxa global do varejo no período.
Após a divulgação, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) reduziu de 4,2% para 3,9% sua expectativa de crescimento para o varejo em 2021.
“Para o decorrer do ano, a condição fundamental para a retomada do ritmo de vendas de forma mais vigorosa passa, inevitavelmente pela eficiência no processo de imunização da população”, defendeu o economista Fabio Bentes, da CNC, em relatório.
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