A entrada em operação de três novas linhas de transmissão de energia elétrica no último dia 16, no Ceará, elevou a capacidade do envio de energia renovável a partir do Nordeste para o Sudeste, o Centro-Oeste e o Norte, informou ao Estadão/Broadcast o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Marcio Rea. Com isso, a carga de energia exportada por usinas eólicas e solares voltou ao patamar de antes do apagão de agosto de 2023, reduzindo os cortes de geração impostas aos agentes do setor.
Com a entrada das linhas de transmissão e outras medidas adotadas, o horário de verão não foi necessário este ano segundo a avaliação do Ministério de Minas e Energia (MME), mas a expectativa é de que seja implantado no ano que vem, dependendo apenas de uma decisão formal do MME. O executivo aposta ainda na antecipação do leilão de baterias para eliminar os cortes de energia das fontes renováveis, já que seria possível o armazenamento.
Os dados do ONS mostram que, na semana passada, entraram em operação uma subestação e as novas linhas de transmissão Pecém II/Pacatuba C, Fortaleza II/Pacatuba C e Pacatuba/Jaguaruana II C. No sentido Nordeste-Sudeste/Centro-Oeste, o acréscimo será de cerca de 12%, com os índices saindo dos atuais 11.600 megawatts (MW ) para 13.000 MW. Já a carga exportada do Nordeste para o Norte poderá ser aumentada em quase 30%, avançando do patamar de 4.800 MW para 6.200 MW.
“Os próximos prospectivos dos agentes já vão mostrar uma diferença para eles. Voltamos ao patamar de antes do apagão com mais segurança e confiabilidade”, explicou Rea, referindo-se às empresas geradoras de energia renovável do Nordeste, que reivindicavam a volta ao patamar de antes do apagão.
No dia 15 de agosto de 2023, o ONS registrou um incidente no Sistema Interligado Nacional (SIN) que separou as regiões Norte e Nordeste das regiões Sul e Sudeste. O evento afetou 25 Estados e o Distrito Federal, deixando mais de um terço dos brasileiros sem energia elétrica. O apagão levou as associações dos setores de geração solar (Absolar) e eólica (Abeeólica) a entrar com ação na Justiça buscando o ressarcimento dos prejuízos causados pelos cortes.
Pelos cálculos da Absolar, o prejuízo do setor somou mais de R$ 50 milhões entre abril e julho deste ano, após já ter amargado perdas de R$ 177,6 milhões em 2023. Já a Abeeólica estima que o segmento teve um prejuízo de R$ 1,4 bilhão de janeiro de 2023 a setembro deste ano. Uma liminar chegou a ser concedida, mas a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) derrubou a decisão judicial provisória e as associações entraram com agravo (recurso), ainda sem definição.
Bahia
De acordo com Rea, uma nova linha na Bahia entrará em operação até o final de outubro e vai acrescentar mais 800 MW ao escoamento de eletricidade do Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste.
“No final de outubro entra a linha Olindina — Sapeaçu também entra em operação, e a gente vai passar dos atuais 13 mil MW para 13,8 mil MW. Ou seja, no total, as medidas já implantadas e com a entrada de operação nessas linhas vamos conseguir escoar mais 2,2 mil MW do Nordeste para o Sudeste”, disse o diretor-geral do ONS, admitindo que ainda será necessário fazer cortes na geração, “já que os projetos dessas fontes não param de crescer. Desde agosto de 2023, vários novos projetos entraram em operação”, informou.
Leia também
Defesa da adoção de baterias
Para eliminar de vez os cortes da produção de energia renovável no País, Rea considera fundamental que se passe a adotar baterias, a fim de armazenar o volume de energia que não consegue ser escoado. Para isso, o governo pensa em antecipar o leilão de baterias, disse o executivo.
“Os cortes praticamente vão terminar quando tiver essa tecnologia no País. O Ministério de Minas e Energia está trabalhando em conjunto com a ONS e com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para tentar realizar o leilão de baterias com mais antecedência”, afirmou. “A ideia é fazer o leilão e já implantar no ano seguinte, mas para isso a Aneel tem de correr com a regulamentação”, observou.
Horário de verão
Segundo Rea, apesar de este ano não ter havido necessidade de implantar o horário de verão, devido às medidas tomadas para aumentar a oferta de energia, no ano que vem o ajuste pode ocorrer.
“Hoje o ONS tem a convicção de que não há risco de falta de energia no Brasil. O mais desafiador é o horário de ponta, mas com as medidas adotadas, com a entrada das chuvas no final de outubro, seria um desgaste para o setor você soltar (horário de verão) por dois meses, três meses”, ressaltou Rea, afirmando que no ano que vem os vários setores da economia estarão mais preparados para a implantação da mudança.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.