RIO - Assim como ocorreu com o desempenho das vendas no varejo, o volume de serviços prestados no País surpreendeu positivamente em janeiro, crescendo 0,7% em relação a dezembro, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados nesta sexta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado superou as projeções de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Estadão/Broadcast, que previam uma queda mediana de 0,5%.
O monitoramento de indicadores antecedentes da atividade econômica feito pela gestora XP Investimentos detectou um aumento na estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2024 ante o quarto trimestre de 2023, de uma alta de 0,7% para aumento de 0,8%.
“Em suma, o setor de serviços ganhou força nos últimos meses, o que mostra sinais positivos para o varejo, indústria de manufatura e construção (considerados setores sensíveis ao ciclo econômico). Esperamos que o setor de serviços como um todo cresça 2,7% em 2024, após o ganho de 2,3% registrado em 2023″, previu o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, em comentário.
Para o economista Luca Mercadante, da gestora Rio Bravo Investimentos, o resultado dos serviços sinaliza uma tendência de alta nas projeções de PIB tanto para o primeiro trimestre quanto para o fechamento do ano de 2024: a estimativa de crescimento de 0,6% no primeiro trimestre pode ficar mais próxima de 1%, enquanto a previsão de alta de 1,5% em 2024 ficaria mais perto de 2,0%, calculou preliminarmente.
“Temos visto um mercado de trabalho mais forte do que o esperado e tem alguma transmissão disso para os indicadores de atividade econômica”, justificou Mercadante.
O avanço no volume de serviços prestados em janeiro ante dezembro foi o terceiro resultado positivo consecutivo do indicador, período em que acumulou um ganho de 1,9%. O setor de serviços iniciou o ano operando 13,5% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia de Covid-19, situando-se apenas 0,7% abaixo de patamar recorde alcançado em dezembro de 2022.
“Os últimos meses mostram claramente algum tipo de fôlego no setor de serviços”, avaliou Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE. “Os serviços estão muito próximos do recorde histórico”, acrescentou.
A conjuntura econômica favorável, com desaceleração da inflação e queda nos juros, ajuda a explicar o bom desempenho do setor de serviços no País, embora não impulsione por si só o faturamento das empresas do ramo, disse Lobo. No mês de janeiro, houve crescimento disseminado entre as atividades de serviços, alcançando quatro das cinco atividades investigadas: informação e comunicação (1,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (1,1%), transportes (0,7%) e outros serviços (0,2%).
O principal impacto positivo para a média global partiu do setor de informação e comunicação, que acumulou um ganho de 3,8% em quatro meses seguidos de avanços. O setor foi impulsionado pelo bom desempenho de empresas que atuam com exibição cinematográfica, programadoras de conteúdo para TV fechada e plataformas de streaming. Lobo lembra que janeiro foi mês de férias, aumentando o público e, consequentemente, o faturamento de salas de cinema. Além disso, houve crescimento também na edição integrada à impressão de livros.
“Isso acontece pelo aumento da produção de material didático por conta do início do ano letivo”, explicou o pesquisador do IBGE.
A segunda maior contribuição para a média global dos serviços partiu dos serviços profissionais, administrativos e complementares.
“Os escritórios de advocacia são intermediários do recebimento de precatórios. Então o pagamento de precatórios pelo governo acaba rebatendo na receita dos escritórios de advocacia”, explicou Lobo. “Isso acontece em janeiro pelo pagamento em maior escala de precatórios pelo governo.”
No caso de transportes, houve avanço de 6,9% no transporte aéreo, ajudado por uma queda nos preços das passagens aéreas. Entre as atividades pesquisadas, a única queda ocorreu nos serviços prestados às famílias, recuo de 2,7%, pressionados negativamente pela menor receita de restaurantes.
“O movimento na ponta (alta no setor de serviços) acontece por crescimento de receitas que são pontuais. O movimento de janeiro ocorre por movimentos muito específicos. A gente não sabe como o setor de serviços vai se comportar daqui para frente”, disse Lobo.
Entre os elementos “extraordinários”, que não se repetem com frequência, Lobo enumerou a receita proveniente do pagamento de precatórios, as salas de cinema cheias durante as férias e o início do ano letivo. “Não vai se perpetuar”, afirmou./Colaborou Marianna Gualter
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