Mais da metade dos professores de escolas privadas e públicas (54%) reconhece a existência de situações de racismo entre os estudantes. Este número chega a 67% entre os docentes do ensino fundamental II, que atuam do 6º ao 9º ano.
Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita do Observatório Fundação Itaú, em parceria com a Equidade.Info, plataforma vinculada à Stanford Graduate School of Education, entre abril e maio. Foram 2.889 alunos, 373 docentes e 222 gestores do universo de 160 escolas públicas e privadas.
Na visão de especialistas, a percepção direta dos professores mostra os desafios de alunos pretos e pardos no cotidiano escolar e evidencia a necessidade de um projeto sistêmico e duradouro de combate ao racismo. Outros dados reforçam essa percepção.
- Entre os gestores, apenas 37% concordam que os profissionais da secretaria da escola passaram por alguma formação ou discussão coletiva sobre racismo.
- 21% dos professores autodeclarados brancos disseram não saber sobre o tema (entre professores negros, a porcentagem é de 9%.
“Pelos resultados, fica evidente que uma oferta maior de formação dos gestores escolares e professores é um dos principais caminhos no enfrentamento ao racismo, uma vez que auxilia a comunidade escolar a reconhecer e acompanhar os problemas desta natureza, bem como de planejar ações preventivas “, diz Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório Fundação Itaú.
Por outro lado, o levantamento também revela avanços na luta contra o racismo:
- 70% dos estudantes concordam que os alunos negros são respeitados nas escolas em relação ao seu fenótipo;
- 75% dos professores disseram que na sua escola há procedimentos para lidar com casos de racismo. No ensino médio, especificamente, a taxa sobe para 86%.
Especialistas destacam importância da ação coletiva e de longo prazo
Cida Bento, co-fundadora e conselheira do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) afirma que os resultados indicam a necessidade de aceleração dos protocolos antirracistas.
“É preciso que existam canais de denúncia e que elas sejam apuradas. Também é importante um projeto sistêmico para tratar desses temas. Não são apenas ações pontuais e episódicas, como no dia 20 de novembro (Dia da Consciência Negra)”.
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Na opinião da educadora, a criação de um ambiente escolar hospitaleiro envolve desde a escolha dos brinquedos e do material didático e paradidático até o tratamento aos professores – ele lembra que esse segmento também é vítima de discriminação.
Esmeralda Macana destaca que os possíveis avanços não estão apenas nas mãos dos professores. “Uma Secretaria de Educação pode fomentar políticas intencionais, como ouvir os diretores, coordenadores pedagógicos, professores, estudantes e suas famílias para criar um plano de ação de combate ao racismo”.
* Este conteúdo foi produzido em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), organização da sociedade civil que atua pela equidade racial e de gênero.
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