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A interpretação do mundo

Avaliações como o Pisa desafiam a pedagogia das escolas particulares

Por Estadão Blue Studio
3 min de leitura

Textos Dhiego Maia

Colégios particulares, de diferentes portes e linhas de ensino, estão em busca de outra fotografia no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que será realizada outra vez em 2025. No retrato anterior, de 2022, os colégios privados – de forma geral – alcançaram desempenho escolar abaixo da média internacional.

O Pisa é uma avaliação importante porque traça um painel global sobre o nível de aprendizagem dos estudantes da educação básica, dos sistemas público e privado. Ir bem no teste também significa visibilidade à escola, um ímã para mais matrículas que se transformam, no final de cada ano, em faturamento.

A prova é realizada a cada três anos por estudantes na faixa dos 15 anos (nesta idade, geralmente, os alunos estão no 1º ano do ensino médio), em 81 países-membros ou parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

No exame de 2022, ainda sob os efeitos da pandemia de covid-19, os estudantes responderam a mais questões de matemática. O teste também avalia habilidades em leitura e ciências.

Exatos 10.798 alunos, de 599 escolas, fizeram a prova. Deste total, 1.437 eram de escolas privadas (14,2% dos participantes). Alunos de escolas estaduais (73,1%), municipais (10,3%) e federais (2,5%) completaram o quadro.

Divulgação Foto: Getty Images/iStockphoto

As escolas privadas atingiram 456 pontos em matemática – 16 abaixo da média da OCDE (472 pontos). A média do Brasil foi ainda mais baixa, de 379 pontos – ou 93 degraus abaixo da média da OCDE.

Mas é preciso um contexto: o universo das escolas privadas é amplo – abarca desde pequenas instituições de bairro até colégios de grife, cujas mensalidades são iguais às de cursos de medicina. Também é importante enfatizar que as escolas privadas detêm menor participação na educação básica (infantil, fundamental e ensino médio) no Brasil.

Números oficiais de 2023 apontaram que a rede privada tinha 9,4 milhões de matrículas na educação básica, o equivalente a 20% dos 47,3 milhões de registros. Quando se olha apenas para o ensino médio, a fatia é ainda menor, de 13%.

Estratégias

Os colégios particulares têm apostado na análise de dados para saber onde estão os gaps na aprendizagem, na aplicação de provas inspiradas no Pisa e em mudanças na própria metodologia de ensino.

No Pentágono, com três unidades na cidade de São Paulo, o desafio é conciliar duas avenidas de aprendizagem: a tradicional, que capacita o jovem para lidar com provas de vestibular, como o Enem, e a do Pisa, para sair do “decoreba” e ajudar o estudante a interpretar o mundo, a partir de relações entre os saberes.

“O Pisa avalia toda a trajetória do aluno, mas de um jeito transdisciplinar. Um debate, com posições diversas, e experimentos, para interpretar fenômenos de forma científica, são jeitos de construir essa visão, que leva tempo”, explica Bruno Alvarez, vice-diretor de Inovações Pedagógicas do colégio.

O Sistema Poliedro, rede composta por mais de 600 escolas associadas, aplicou seu Pisa próprio recentemente para mais de 10 mil alunos que estão no 1º ano do ensino médio.

Batizada de “Bússola”, a prova é mais um guia para a melhoria do aprendizado, diz Vanessa Santos, gerente de Avaliação Educacional do Poliedro. “Avaliação, como a do Pisa, não pode ser o fim. A gente precisa entender o que essa matriz contribui com o nosso currículo, que está acima, e com as especificidades do Brasil, que é muito diverso”, diz.

Os estudantes da rede Poliedro também responderam a um questionário sobre questões culturais, sociais e emocionais. Uma pergunta feita aos alunos chama atenção: quão satisfeito você está com a sua vida? As respostas variam de zero a 10. “Como o resultado é por escola, se houver um zero, a direção precisa fazer uma intervenção porque tem alguém pedindo ajuda”, diz a coordenadora.

Fazer conexões entre diferentes conhecimentos, como exige o Pisa, não é uma habilidade que nasce da noite para o dia. Todo o sistema precisa estar integrado. Este é o desafio do Colégio Albert Sabin, de São Paulo.

Os professores, de diferentes áreas, trabalham em conjunto. Neste formato, são mais mediadores do que transmissores de conteúdo. É o aluno que, na resolução de um problema, analisa os erros cometidos em todo o percurso.

“Esse processo exige mais conhecimento. A meta é que o estudante seja mais autônomo, e o professor mais estratégico na mediação, ao fazer boas perguntas”, diz Sandra Lieven, coordenadora pedagógica do Albert Sabin, cujo desenvolvimento de competências e habilidades na resolução de problemas de forma integrada começou em 2023 e abarca alunos do 6º ano do fundamental ao ensino médio.

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