SÃO PAULO - Mais de 7,7 milhões de candidatos se inscreveram para a 18.ª edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será realizada nos dias 24 e 25 de outubro em todo o País. Criada em 1998, a avaliação representa a oportunidade de ingresso em algumas das principais universidades públicas e privadas brasileiras.
Que conhecimentos são testados durante as provas? Como fazer uma boa redação? Em que critérios se baseia a correção? Todas essas dúvidas são respondidas nas próximas páginas. Você encontra ainda dicas de temas para estudar nesta reta final.
De olho num bom resultado na avaliação, Giovanna Rocha, de 19 anos, faz o Enem pela terceira vez. Neste ano, ela resolveu focar nas matérias em que tem mais dificuldades. “Dei mais atenção a Geografia e Literatura.”
Joyce Vieira, de 18 anos, também tenta pela terceira vez e aumentou o ritmo nas últimas semanas. “No Enem é preciso estar preparado física e mentalmente”, diz. “São dois dias seguidos de prova com muitas questões.”
Para se acostumar a esse esforço, a adolescente emenda várias horas debruçada nas apostilas. “Tento ficar o máximo de tempo concentrada, como vai ser no dia da prova”, conta Joyce, que pretende cursar Física.
Para Caue Marinho, de 18 anos, o relógio é um aliado na preparação. “Treino para reduzir o tempo gasto para ler e resolver cada questão”, diz. “Isso me deixa calmo e sobra mais tempo para revisar.” Em cada item, ele usa entre três minutos e meio e quatro. Acompanhar revistas e jornais é outra receita do jovem para ir bem no exame, principalmente em redação. “É importante entender o que está acontecendo no País e no mundo”, afirma ele, candidato a uma vaga em Engenharia.
Matemática e suas tecnologias
As questões são elaboradas com o intuito de demonstrar o uso das matérias exatas no dia a dia e para testar as habilidades do estudante em solucionar problemas que envolvam conhecimentos matemáticos diversos, segundo os especialistas ouvidos pelo Estado.
“A prova vai verificar se o candidato consegue interpretar um gráfico em uma notícia de jornal ou resolver problemas matemáticos com os quais pode se deparar em seu cotidiano”, afirma Tom Junior, coordenador pedagógico e professor de Matemática do Cursinho Modelo Educafro, da Rede de Cursinho Comunitários.
Nos últimos anos, os estudantes encontraram nesta prova muitos problemas de aritmética, envolvendo as quatro operações, segundo especialistas. Para Fernanda Fiel Peres, coordenadora de Matemática do Cursinho Pré-Vestibular Jeannine Aboulafia (Cuja), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o candidato deve focar nos conteúdos vistos no ensino fundamental e no primeiro ano do ensino médio. “Assuntos com maior grau de dificuldade, como logaritmos e números complexos, podem aparecer, mas são bem raros.”
Números e mais números. Muitas das questões envolvem geometria plana ou espacial, segundo Fernanda. “É fundamental saber as características de figuras geométricas e como calcular perímetros, áreas e volumes.” Fernanda cita ainda estatística (análise de gráficos e tabelas, cálculo de média, moda e mediana), além de equações e funções do primeiro e segundo graus, como possíveis de aparecerem nas questões.
Segundo o professor de Matemática e diretor pedagógico do Cursinho da Poli, Lilio Paoliello, o aluno deve dar atenção, na reta final, ao estudo de razão e proporção, regra de três e porcentagem.
Paoliello lembra que estudar probabilidade e análise combinatória não é decorar fórmulas. “Muitas questões podem ser resolvidas pela aplicação do princípio geral da contagem e por raciocínio lógico”, afirma o professor. “Entenda o que está sendo pedido na pergunta e veja quais condições são apresentadas pelo problema.”
Tempo. Os especialistas indicam que, ao estudar, o candidato deve treinar o tempo de resolução das questões, que é em média de três minutos. A prova é elaborada para não ter cálculos muito complexos e demorados, segundo Fernanda, do Cuja. “Se o cálculo da sua questão está muito grande, desconfie, pois é provável que você esteja indo no caminho errado.”
Os professores recomendam que o candidato pegue em livros só até a quinta-feira que antecede a prova. Aconselham que o aluno guarde a sexta-feira, dia 23 de outubro, para praticar alguma atividade prazerosa e que possa proporcionar momentos de tranquilidade antes da realização do exame.
Ciências da natureza e suas tecnologias
Nesta prova são testadas habilidades do aluno em traduzir o conhecimento acadêmico para as questões gerais do cotidiano, desde tecnologia e construção, ao próprio ser humano e à preservação ambiental. As questões abrangem ainda outras áreas da Química, da Física e da Biologia.
“É muito comum encontrar textos relacionando chuveiros com circuitos elétricos, potência e energia; pressão, volume e temperatura com panelas de pressão e vasos sanitários com hidrostática”, explica o professor de Física Guilherme Burgarelli, diretor pedagógico do Cursinho Pré-Vestibular Jeannine Aboulafia (Cuja), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Francisco Flávio, professor de Física do Cursinho da Poli, destaca também velocidade média, leis de Newton, lentes e espelhos, bem como cálculos de consumos energéticos, entre os conhecimentos mais cobrados. Em Química, segundo ele, os temas recorrentes dos últimos anos estão relacionados com meio ambiente, água e poluição. “Além disso, muitas questões envolvem a manufatura de reagentes químicos na indústria, como polímeros e sabões, e aplicações de química analítica e físico-química.”
De acordo com o professor de Química Emerson Teodoro, coordenador do Cursinho Vinte de Novembro, algumas áreas são bem frequentes na prova: “Em Física, cinemática dinâmica e elétrica; em Química, orgânica e cálculos estequiométricos; em Biologia, um apanhado geral com ênfase em ecologia e meio ambiente”.
Na área de Ciências Biológicas, segundo Douglas Albuquerque Gouvêa, professor de Biologia no Cuja, o candidato precisa entender a diversidade, a complexidade e o funcionamento das moléculas, das células e dos tecidos dos seres vivos. “Além disso, o aluno deverá compreender o processo de hereditariedade existente nos seres vivos, bem como ter consciência da extensa biodiversidade existente no planeta Terra.”
A maioria das questões da prova aborda conceitos de Biologia inseridos em contextos de reportagens, trabalhos científicos, tabelas, gráficos e imagens, de acordo com os especialistas.
Linguagens, códigos e suas tecnologias
Anúncios, notícias, músicas e textos literários costumam aparecer nesta prova, de acordo com os professores ouvidos pelo Estado. Por essa razão, os especialistas são unânimes em afirmar a importância da leitura de jornais e revistas de grande circulação, dos quais os examinadores tiram grande parte dos textos que servem de base para as questões.
A dica dos professores é que os candidatos assistam a bons programas de entrevistas no mês que antecede a prova. O aluno deve estar por dentro dos acontecimentos dos últimos meses, especialmente até o fim do primeiro semestre. Para revisar esse conteúdo, fazer uma pesquisa simples em variados sites de credibilidade na internet pode ajudar.
Segundo a coordenadora do Cursinho Maximize, Ana Paula Dibbern, a avaliação trata de temas como cidadania, democracia, ética, economia, cultura e meio ambiente. “As questões se aproximam de problemáticas presentes na sociedade.”
A prova verifica o conteúdo de Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Literatura, Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação, além da Redação, que tem peso considerável na nota final.
Considerado uma das avaliações mais complexas, pois envolve questões longas, o teste cobra do candidato entendimento do que lê. “Fazer exercícios de compreensão e interpretação de texto é uma boa forma de estudar nesta fase final”, recomenda Gabriela Xavier, coordenadora de Português do Cursinho Pré-Vestibular Jeannine Aboulafia (Cuja), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Moacir Prudêncio, professor de Inglês do Cursinho da Poli, lembra dos poemas, que podem ser usados para verificar se o estudante compreende metáforas, ironias ou paradoxos (linguagem figurada).
“É preciso ficar atento às semelhanças entre as alternativas. Elas podem inverter a ideia principal do texto, que é o aspecto negativo, ou replicar alguma expressão que na verdade aponta para o trecho no qual está a própria resposta, que é o aspecto positivo. Tudo isso está nas provas anteriores.”
As perguntas do exame, porém, têm sido cada vez mais claras, diretas e relacionadas a assuntos clássicos do currículo do ensino médio, como variação linguística, funções da linguagem, gêneros textuais e interpretação de obras de arte e de textos literários, segundo Eduardo Calbucci, doutor em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP) e supervisor de Português do cursinho Anglo Vestibulares. “São questionamentos que verificam o domínio de gêneros de textos diferentes, até os não verbais.”
Ciências humanas e suas tecnologias
O candidato deve estar atualizado com o noticiário nacional e internacional. Entre os assuntos priorizados estão movimentos sociais, minorias, cidadania e aspectos culturais em geral. A prova inclui questões sobre Geografia, História, Filosofia, Sociologia e Conhecimentos Gerais.
De acordo com Johnny Torres, professor de Geografia do cursinho UNEafro, o debate sobre migrações deve retornar neste ano – as últimas edições enfocaram o Brasil. “Em 2015, o contexto pode ser internacional, sobretudo o fluxo para a Europa. Mas também é importante entender as diferenças entre a crise na Ásia e as rotas migratórias no Oceano Índico.”
Enem, segundo Torres, costuma observar contexto e relacionar temas. Por isso, o professor orienta que o aluno entenda a instabilidade política no mundo árabe e seu histórico político e econômico recente (Primavera Árabe) e a perseguição a minorias da população muçulmana.
A parte de Geografia em geral é bem heterogênea e contextualizada, de acordo com Verônica Justi, diretora financeira e professora de Geografia do Cursinho Pré-Vestibular Jeannine Aboulafia (Cuja), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “As questões abordam temas que dependem de conhecimento atual, tanto nacional quanto internacional.” Faltando um mês para a avaliação, o candidato deve se dedicar a ler jornais e revistas, para se informar sobre o Brasil e o mundo, afirma Verônica.
“Saber conceitos da geografia física – como clima, hidrografia, agricultura, pecuária e população – também pode ajudar”, diz a professora. “Por não ser um conteúdo longo, é possível estudá-lo em um mês.”
Questões sobre as sociedades e seus modos de organização, bem como sobre as ideias de cidadania e democracia, podem aparecer na prova, segundo Elias Feitosa, professor de História do Cursinho da Poli.
Sobre Brasil, o professor de História e Filosofia do Anglo Gian Dorigo indica, em vez de rever todo o Período Colonial, voltar a esse conteúdo e identificar temas como a questão indígena e a construção da identidade africana no País.
Diante da atual crise política e econômica do País, o professor de História Alex Bonfim, do Cursinho da UNEafro, lembra que podem aparecer nas questões períodos históricos de alta da inflação e de crise econômica, além do período pós-ditadura militar e os sucessivos planos econômicos. “Esse contexto permite entender outro assunto relevante, que são os conflitos pelo acesso à terra no Brasil e a relação com os movimentos sociais.”
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