Os estudantes em geral recorrem frequentemente ao professor na hora de resolver os problemas que encontram em sua frente, pois se sentem inseguros no meio da atividade, desanimam e muitas vezes desistem de aprender.
Alguns outros, infelizmente a minoria, são o oposto. São estudantes que geralmente tiram as notas mais altas, mostram-se independentes em relação às atividades escolares, mantêm seus espaços e materiais organizados, cumprem prazos e planejam seus estudos. Eles se comportam como se estivessem no comando de seus cérebros: procuram novas soluções quando falham em vez de desistir, têm consciência de seus pontos fortes e fracos e traçam estratégias de estudo baseadas nessa percepção.
Esses alunos fazem, naturalmente, uma atividade que se chama metacognição A palavra meta vem do grego e quer dizer acima de alguma coisa, além. Cognição é sinônimo de pensamento, compreensão, aprendizado. Trata-se do pensar sobre o pensar, o princípio da filosofia para entender o mundo.
Essa atividade tão antiga caiu em desuso no mundo atual - rápido e superficial. Mas ela é fundamental para as crianças e jovens se desenvolverem e terem sucesso em suas carreiras e na vida moderna.
Como escreveu o francês Charles Fadel no livro Educação em quatro dimensões: as competências que os alunos devem ter para atingir o sucesso, publicado no Brasil por iniciativa do Instituto Península e do Instituto Ayrton Senna, a metacognição é a ferramenta de pensamento mais poderosa e a mais importante, pois envolve uma autorreflexão sobre a posição atual da pessoa, metas futuras e ações potenciais para se chegar aos resultados.
"A principal razão para se desenvolver a metacognição é porque ela pode melhorar a aplicação de conhecimentos, habilidades e qualidades de caráter em situações além do contexto imediato em que foram aprendidos. Isso pode resultar na transferência de competências entre disciplinas - importante para os alunos que estão se preparando para situações da vida real, onde as divisões bem definidas das disciplinas não fazem sentido. A transferência é o objetivo final de toda a Educação, como os alunos são esperados para internalizar o que aprendem na escola e aplicá-lo à vida", explica Fadel.
Em um artigo, Nancy Chick, diretora do Centro de Ensino e Aprendizagem da Universidade Vanderbilt, resumiu os principais benefícios do ensino da metacognição nas escolas:
- O aluno aprende a usar o conhecimento adquirido em novas ideias, estratégias e projetos. - Melhora o aprendizado em geral. - Permite ao aluno ter consciência das suas forças e fraquezas em todas as áreas de aprendizagem e também fora da sala de aula.
A boa notícia é que a metacognição pode ser ensinada de forma simples e eficaz. A seguir, três maneiras de introduzir o assunto para crianças e jovens na sala de aula e em casa, estimulando-os a serem mais metacognitivos, ou seja, mais conscientes e proprietários do próprio aprendizado:
- Explique o que é metacognição de forma clara, dizendo que é uma habilidade que todos podem conquistar. O uso de metáforas, como "dirigir o próprio cérebro", ajuda os estudantes a entenderem o conceito e a colocá-lo em prática. - Peça aos alunos que descrevam como estão conduzindo seus cérebros, se estão pisando nos freios ou no acelerador e se estão procurando novas rotas ou atalhos. Peça também para que eles falem qual das maneiras de dirigir é mais benéfica e os leva a melhores resultados. - Sempre que possível, deixe que os alunos escolham o que querem ler e sobre quais assuntos eles gostariam de aprender mais. Quando há um interesse genuíno em um tema, é mais fácil manter o interesse e a motivação no aprendizado, assim como traçar estratégias e planejar os estudos.
Como disse o psicólogo Herbert Gerjuoy, o analfabeto do século 21 não será aquele que não sabe ler e escrever, mas aquele que não sabe aprender, desaprender e reaprender!
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