Ataque a escolas: pânico e deixar de ir à aula não vão resolver problema

Especialistas discutem clima de medo com supostas ameaças a instituições de ensino no País

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Desde os ataques em São Paulo e Blumenau, uma série de mensagens e vídeos sobre supostos planos e ameaças de atentados em escolas e faculdades têm circulado nas redes sociais. Além da investigação da veracidade dessas informações e uma regulação maior dos serviços das plataformas digitais, especialistas alertam que a sociedade precisa agir coletivamente contra o pânico.

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“Eu fico me perguntando que tamanho de buraco a gente foi parar como sociedade em que resta como alternativa de segurança nas nossas cabeças que a escola precisa ser desocupada. Que o certo é não ir para a escola, o lugar mais importante de transformação social que a gente tem, onde vamos construir a possibilidade de viver com os outros”, diz a psicanalista e doutora em Educação Ilana Katz, que integra a Rede Nacional de Pesquisas em Saúde Mental de Crianças e Adolescentes.

Diante das supostas ameaças, famílias têm deixado de enviar seus filhos para escolas públicas. Outras consideram fazer o mesmo por medo do que possa ocorrer nos próximos dias e semanas. Pais têm ainda cobrado escolas particulares e públicas por medidas de segurança. Especialistas afirmam que mensagens com ameaças devem ser denunciadas a canais oficiais, como o criado pelo governo federal, e não compartilhadas pela internet.

“Na hora que os pais perguntam se vai haver mais polícia, a escola tem que dizer como é precária essa solução. As ameaças entram na escola, não precisa alguém pular o muro”, diz. Ela destaca a importância da escola justamente para a construção de uma sociedade mais segura e de convivência pacífica, que não se reduz a medidas físicas, já que muitos ataques são cometidos por alunos das instituições.

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“Essas ameaças nos fazem sentir fragilizados e mostram que já estamos atrasados em discutir o enfrentamento das causas que produzem a violência na sociedade civil.” Ela e muitos educadores defendem que as escolas brasileiras precisam efetivamente colocar a convivência e uma cultura de paz como parte do currículo escolar, como fazem alguns países.

llana, que pesquisa a infância no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), diz, no entanto, que é legítimo pais e professores terem medo. “Mas a questão principal é como lidar. Você pode responder com pânico, se trancando em casa ou pensando na função que cada um tem nisso”, diz. “A ideia de segurança que a gente quer produzir é muito maior que muro e policiamento. Segurança tem a ver com construir uma rede comunitária, produzir pertencimento para as pessoas, acolhimento e disputar com essa narrativa do ódio.”

“O pânico é desagregador”, completa. Segundo ela, por isso, é preciso haver uma resposta coletiva centralizada pelo poder público. “Ninguém responde individualmente. Não dá para esperar isso nem de uma criança, nem dos pais e mães e nem de uma escola sozinha.”

Veja as orientações

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  • A escola precisa registrar boletim de ocorrência, acionar a PM pelo 190 e informar a diretoria de ensino sobre qualquer ameaça no “prédio escolar ou em rede social no qual seja citada a escola e/ou alunos e seus profissionais”. Qualquer ameaça, mesmo que pareça ‘brincadeira’, deve ser levada a sério e tratada com rigor.
  • Em caso de identificação do autor da ameaça, a orientação para a escola é convocar os pais/responsáveis para comparecer na escola imediatamente. Se o aluno se retratar, é preciso acompanhá-lo até a sala de aula e solicitar o comparecimento diário da família.
  • Especialistas afirmam que mensagens com ameaças devem ser denunciadas a canais oficiais e não compartilhadas pela internet e em grupos de aplicativos de mensagens. Entrar em pânico e deixar de frequentar as aulas não vai resolver o problema, alertam.
  • O governo federal criou um canal para recebimento de informações sobre ameaças e ataques contra escolas. Para realizar a denúncia, é preciso preencher um curto formulário que não exige identificação no endereço www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura. Veja aqui como fazer.

Além disso, afirma Ilana, são necessárias a regulação e a responsabilização das redes sociais. “A gente vai entender que a internet é um espaço público e precisa ser regulado ou a gente vai ficar lutando contra um inimigo que só cresce.”

Volta às aulas na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, onde adolescente de 13 anos matou professora em 27 de março. Foto: Werther Santana/Estadão

Comunicados das escolas

Diretorias de ensino ligadas à Secretaria Estadual da Educação, segundo o Estadão apurou, enviaram comunicados às escolas com protocolos que devem ser seguidos em casos de violência ou suspeita. “Qualquer ameaça, mesmo que pareça ‘brincadeira’, deve ser levada a sério e tratada com rigor”, diz o texto.

Já a Secretaria da Segurança Pública informa que a Polícia Militar mantém contato permanente com as direções das escolas. Segundo a pasta, “566 policiais militares atuam no policiamento realizado no entorno das unidades educacionais em todo o Estado, por meio do programa Ronda Escolar”, além de agentes que circulam a pé e em motocicletas.

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O governo também estuda contratar policiais da reserva para que fiquem de modo permanente nas escolas.

Com o aumento no número de ataques e supostas ameaças, escolas particulares passaram a mandar comunicados aos pais sobre medidas de segurança nesta semana. O Colégio Bandeirantes, no Paraíso, zona sul de São Paulo, afirmou em carta nesta terça-feira, 11, que entendia “o temor e a preocupação” e que “a fim de garantir a proteção da comunidade” reforçou “medidas de segurança”.

O Rio Branco, em Higienópolis, na região central, ressaltou em carta aos pais que tem parceria com uma consultoria de segurança e lembrou o “controle rigoroso de acesso à escola” com exigência de crachá e biometria. E ainda que as atividades e eventos terão “rigoroso controle de acesso às instalações”.

O Colégio Oswald de Andrade, na Vila Madalena, zona oeste, afirmou em comunicado que reforçou “procedimentos importantes” com os funcionários que atuam na segurança. E lembrou que vê na “educação um caminho para uma sociedade mais justa, gentil e empática, que se faz a partir do desenvolvimento humano em situações cotidianas”.

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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou nesta segunda-feira que empresas de tecnologia e plataformas de redes sociais poderão ser responsabilizadas pela falta de monitoramento e bloqueio de mensagens e perfis que incitem ataques em escolas.

“Não basta uma posição reativa ou meramente passiva em relação às nossas solicitações”, afirmou Dino. A pasta criou na semana passada, após o ataque à creche de Blumenau, que matou quatro crianças, a Operação Escola Segura, com o objetivo de realizar ações preventivas e repressivas contra ataques nas escolas de todo o País.

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