Diretorias de ensino ligadas à Secretaria Estadual da Educação de São Paulo passaram a orientar escolas públicas e particulares sobre como agir em casos de violência e ataques. Segundo o Estadão apurou, instituições da capital paulista receberam comunicados nos últimos dias sobre o tema. Colégios e faculdades também enviaram emails a pais, alunos e professores, diante dos boatos de ameaças de ataques nos próximos dias – e afirmaram que as aulas estão mantidas.
A orientação das diretorias de ensino é de que, “diante de qualquer ameaça” no “prédio escolar ou em rede social no qual seja citada a escola e/ou alunos e seus profissionais”, é preciso registrar boletim de ocorrência, acionar a polícia militar pelo 190 e informar a diretoria de ensino, nessa ordem de prioridades.
Especialistas também afirmam que mensagens com ameaças devem ser denunciadas a canais oficiais, como o criado pelo governo federal, e não compartilhadas pela internet. Nas últimas semanas, duas escolas – uma em São Paulo e outra em Santa Catarina - tiveram atentados com mortes.
O comunicado das diretorias de ensino, que são responsáveis por um número de escolas em cada região do Estado, também orientam sobre o que fazer com um aluno autor de ameaça. “Convocar, de pronto, os pais/responsáveis para comparecer na escola imediatamente. Preferencialmente atender os pais junto com o policial”. E ainda sobre como agir caso o aluno tenha se retratado da ameaça feita: “acompanhar o aluno diariamente até sua sala de aula e diariamente pedir o comparecimento da família”.
Veja as orientações
- A escola preciso registrar boletim de ocorrência, acionar a PM pelo 190 e informar a diretoria de ensino sobre qualquer ameaça no “prédio escolar ou em rede social no qual seja citada a escola e/ou alunos e seus profissionais”. Qualquer ameaça, mesmo que pareça ‘brincadeira’, deve ser levada a sério e tratada com rigor.
- Em caso de identificação do autor da ameaça, a orientação para a escola convocar os pais/responsáveis para comparecer na escola imediatamente. Se o aluno se retratar, é preciso acompanhá-lo até a sala de aula e solicitar o comparecimento diário da família.
- Especialistas afirmam que mensagens com ameaças devem ser denunciadas a canais oficiais e não compartilhadas pela internet e em grupos de aplicativos de mensagens. Entrar em pânico e deixar de frequentar as aulas não vai resolver o problema, alertam.
- O governo federal criou um canal para recebimento de informações sobre ameaças e ataques contra escolas. Para realizar a denúncia, é preciso preencher um curto formulário que não exige identificação no endereço www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura. Veja aqui como fazer.
Outro documento da Secretaria da Educação, chamado de protocolo 179 e publicado em 2022, também dá orientações sobre o que fazer em casos de violência. Ele recomenda, entre outras coisas, que no caso de crime contra funcionários ou posse de armas, a escola acione a ronda escolar, os responsáveis e o conselho tutelar.
Procurada, a secretaria informou que as diretorias de ensino foram orientadas a conduzir conversas com as escolas e que o secretário Renato Feder tem mantido contato constante com os dirigentes sobre o assunto.
Escolas particulares também divulgaram comunicados nesta semana, com a intenção de acalmar as comunidades e comunicar medidas de segurança, diante de série de mensagens e vídeos sobre supostos planos e ameaças de atentados que têm circulado nas redes sociais. Os emails enviados aos pais também pediam para que não compartilhem mensagens de supostas ameaças e que monitorem o uso das redes sociais dos filhos.
O Colégio Bandeirantes, no Paraíso, zona sul de São Paulo, afirmou em carta nesta terça-feira, 11, que entendia “o temor e a preocupação” e que “a fim de garantir a proteção da comunidade” reforçou “medidas de segurança”.
O Rio Branco, em Higienópolis, na região central, ressaltou em carta aos pais que tem parceria com uma consultoria de segurança e lembrou o “controle rigoroso de acesso à escola” com exigência de crachá e biometria. E ainda que as atividades e eventos terão “rigoroso controle de acesso às instalações”.
O Colégio Oswald de Andrade, na Vila Madalena, zona oeste, afirmou em comunicado que reforçou “procedimentos importantes” com os funcionários que atuam na segurança. E lembrou que vê na “educação um caminho para uma sociedade mais justa, gentil e empática, que se faz a partir do desenvolvimento humano em situações cotidianas”.
Na zona norte, o colégio Madre Mazzarello afirmou que “nos solidarizamos e estamos em oração por todas as famílias e educadores de todo o Brasil” e que a direção participaria de reuniões com a secretaria da educação e policia sobre para definir uma “estratégia de combate aos fatos e às informações falsas”.
Faculdades mantêm aulas
Universidades e faculdades afirmaram que vão manter as aulas nesta quarta-feira, 12, diante da onda de boatos nas redes sociais sobre supostas ameaças de ataques às instituições.
Procurada, a Universidade de São Paulo (USP) afirmou que tem conhecimento dos boatos de ameaças, mas que as aulas e as atividades ocorreriam normalmente.
Em comunicado aos alunos e professores, a Fundação Getulio Vargas (FGV) comentou os “rumores sobre eventuais atentados a escolas” e que “não há nenhum fato que os comprove, mas por preaução reforçaremos a segurança em todas as entradas”. O email diz ainda que as atividades acadêmicas serão mantidas normalmente e pede que “evitem disparar informações sem checagem em grupos de Whats App”.
O Insper enviou mensagens a alunos afirmando que nesta quarta-feira, aumentaria a segurança de entradas e catracas e pediria “reforço ao 12º batalhão da Polícia Militar nas rondas da região”. Informou ainda que permitiria a “entrada exclusiva para participantes de eventos no auditório” e militaria as visitas ao campus.
O Centro Universitário FAAP, procurado pelo Estadão, também informou que manterá suas atividades no decorrer desta semana, assim como a Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
O Semesp, entidade que representa as faculdades particulares, disse que “não há confirmação efetiva” de ameaças. Também “recomendou serenidade, cautela e mais rigor nos protocolos de segurança, limitando as visitas aos campi e reforçando a vigilância nas imediações e dentro das instalações, a fim de garantir a proteção de seus alunos, docentes e colaboradores”.
Desde os ataques em São Paulo e Blumenau, uma série de mensagens e vídeos sobre supostos planos e ameaças de atentados em escolas e faculdades têm circulado nas redes sociais. Além da investigação da veracidade dessas informações e uma regulação maior dos serviços das plataformas digitais, especialistas alertam que a sociedade precisa agir coletivamente contra o pânico.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que a Polícia Militar mantém contato permanente com as direções das escolas. Segundo a pasta, “566 policiais militares atuam no policiamento realizado no entorno das unidades educacionais em todo o Estado, por meio do programa Ronda Escolar”, além de agentes que circulam a pé e em motocicletas. O governo também estuda contratar policiais da reserva para que fiquem de modo permanente nas escolas.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou nesta segunda-feira que empresas de tecnologia e plataformas de redes sociais poderão ser responsabilizadas pela falta de monitoramento e bloqueio de mensagens e perfis que incitem ataques em escolas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.