Um deles é Silvio Grimaldo, aluno de Olavo, que trabalha diretamente com o ministro, no gabinete, e que teria influenciado Vélez em decisões com o viés ideológico. Em seu perfil no Facebook, Grimaldo disse que recebeu uma ligação durante o carnaval informando que ele "seria transferido para a Capes, para enxugar gelo e 'fazer guerra cultural'." Segundo o post, "o mesmo destino fôra (sic) dado a outros funcionários ligados ao Olavo (apenas olavetes foram transferidos)". Grimaldo diz que não aceitou o outro cargo e pediu para ser exonerado.
Murilo Resende, também aluno de Olavo, que chegou a ser indicado para coordenador da diretoria que cuida do Enem e depois ficou com um cargo de assessor, também estaria saindo. Procurado, disse que não foi comunicado dessa decisão. Eduardo Melo, que era sub secretário executivo, deve ir para a Fundação Roquette Pinto.
Algumas exonerações já foram publicadas no Diário Oficial, como a de Rodrigo Almeida Morais, que é secretário-geral do PSL em São Paulo e ligado a Eduardo Bolsonaro. Ele participou do grupo de transição para a área da educação e estava em um cargo de assessor do MEC. O chefe de gabinete adjunto, coronel Ayrton Pereira Rippel, também já foi exonerado, mas internamente é dito que ele será realocado no ministério mesmo.
O objetivo, segundo fontes, é "reorganizar a casa" e colocar o foco no que importa na educação. A decisão teria sido do próprio Vélez, durante o carnaval, depois de ser aconselhado a mudar o posicionamento para ser "um ministro de fato".
A ideia de divulgar a carta que pedia que o slogan de campanha de Bolsonaro fosse lido nas escolas e que as crianças fossem filmadas não foi compartilhada nem com gestores de mais alto cargo no MEC. A notícia foi dada com exclusividade pelo Estado. O alto escalão do ministério soube pela imprensa da carta de Vélez.
A medida foi duramente criticada por educadores, juristas e até pelo movimento Escola sem Partido. O Ministério Público Federal pediu explicações do ministro, que acabou reconhecendo o erro e voltando atrás duas vezes.
Em uma reunião, com militares e membros da Casa Civil, na tarde desta sexta-feira, teria sido batido o martelo que oito funcionários do MEC devem ser exonerados. As demissões seriam consequência do enfraquecimento do ministro nas últimas semanas.
Vélez também foi indicado por Olavo para o cargo e essa seria uma maneira de mostrar sua independência e se manter no ministério.
Grimaldo também postou em sua página no Facebook que o "expurgo de alunos do Olavo de Carvalho do MEC é a maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora" (sic). "Nem as trairagens do Mourão ou Bibiano chegaram a esse nível". Ele é mestrando na área de Filosofia da Educação da Universidade Estadual de Londrina. Grimaldo ainda compartilhou uma publicação de seu guru Olavo, em que diz "tudo o que estão dizendo e fazendo contra os meus poucos alunos que têm cargos no governo é para bloquear a Lava-Jato na Educação".
Mais cedo, o próprio Olavo de Carvalho havia aconselhado, em post em sua página no Facebook, os alunos de seu curso online a deixarem o governo de Jair Bolsonaro. "Todos os meus alunos que ocupam cargos no governo -- umas poucas dezenas, creio eu -- deveriam, no meu entender, abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos. O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles", escreveu.
Depois da carta enviada às escolas, o MEC, de fato, recebeu muitas gravações. No entanto, o material mostrava as condições precárias das escolas e não o Hino sendo entoado. O grande volume de vídeos recebidos teria sido avaliado como um indicativo da baixa popularidade de Vélez.
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