Brasil terá ‘apagão’ de professores? Como tornar a carreira mais atrativa?

Encontro promovido pelo ‘Estadão’ reúne especialistas para debater políticas públicas para valorizar a docência e melhorar formação desses profissionais

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Por Juliana Domingos de Lima

O professor é responsável por quase 60% do resultado dos alunos na educação fundamental, sendo mais relevante do que todas as outras variáveis da escola pública somadas, segundo estudo realizado por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) e divulgado neste ano.

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Apesar desta importância, a desvalorização da carreira docente ameaça provocar um “apagão” de professores na educação básica, com falta de 235 mil educadores projetada para 2040.

“A principal forma de criar igualdade de oportunidades (para os alunos) é com escolas e professores fortes”, disse o pesquisador e professor da FGV-SP Fernando Abrucio, nesta segunda-feira, 18, durante o evento Reconstrução da Educação, promovido pelo Estadão, no Museu do Ipiranga, na zona sul da capital. É possível acompanhar a transmissão do evento pelo YouTube.

Estadão promove ciclo de debates Reconstrução da Educação; da esquerda para a direita, a repórter especial Renata Cafardo, Fernando Abrucio, Haroldo Corrêa Rocha, e Silvia Lima. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Também participaram do debate sobre quais políticas públicas podem valorizar a carreira, atraindo os profissionais mais bem preparados, Silvia Lima, doutoranda na área de Educação, especialista em Formação de Educadores e gerente de advocacy do Instituto Ayrton Senna, e Haroldo Corrêa Rocha, líder do Movimento Profissão Docente e membro do Conselho de Gestão da Educação do Estado de São Paulo.

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“O Brasil só vai melhorar a aprendizagem se tiver foco nos professores, porque eles estão em todos os momentos (da formação)”, destacou Rocha.

Foco na formação inicial e entrada na carreira

A formação inicial dos docentes, que inclui o estágio em sala de aula, é uma das maiores preocupações dos especialistas. Com grande parte deles se formando à distância hoje no País, muitos não chegam a ter a experiência prática, o que leva a um desempenho ruim ou ao abandono da carreira nos primeiros anos de docência.

Rocha considera que essa etapa da formação dos professores no Brasil está “na UTI” e defende que as redes públicas assumam parte da responsabilidade por esse estágio da preparação dos professores.

Além da formação, Abrucio destacou a importância dos primeiros cinco anos de carreira para fortalecer a qualidade desses profissionais. Ele cita o exemplo de países como Portugal e Estônia que implementaram programas de entrada na carreira docente que permitem corrigir eventuais deficiências na formação.

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Outros têm adotado programas de mentoria, nos quais professores próximos à aposentadoria são pagos para permanecer na docência por um período extra e ajudar os que estão chegando.

Remuneração melhor não basta

O salário maior evita que o professor precise “rodar” em várias escolas, pulverizando sua energia e provocando desgaste na saúde mental. Assim, a revisão dos salários é fundamental para atrair mais professores, mas não é a única maneira de impulsionar a atratividade da carreira segundo Silvia Lima.

“A reconstrução da educação passa pelo professor, que precisa ser considerado, cuidado nas suas necessidades de formação, na saúde mental, e na relação com os estudantes na sala de aula”, afirmou Silvia.

Para os especialistas, o aumento do reconhecimento e a melhora das condições de trabalho também precisam ser levados em conta nas políticas. “As condições de trabalho dos professores são péssimas. Sempre foram e estão piores”, disse Haroldo Corrêa Rocha. “Professor precisa ter garantia e segurança para ter progresso.”

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Uma governança federativa que articule as redes estaduais e municipais e amplie o olhar sistêmico para a questão dos professores é uma das saídas defendidas por Abrucio. Para ele, o Brasil ainda precisa de um sistema docente sólido, que consiga selecionar e receber os profissionais oferecendo condições melhores.

Reconstrução da Educação

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