Escolas usam de escaninho a capa magnética para proibir celular em sala de aula; veja como funciona

Além de definir um local para armazenamento, os colégios precisam se preparar para fiscalizar a regra e até mesmo definir sanções para casos de descumprimento reincidentes

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Foto do author Isabela Moya
Atualização:

Colégios de todo o País começam o ano letivo de 2025 se adaptando a uma nova regra: a proibição do uso de celulares em todos os ambientes escolares, inclusive durante intervalos, recreio e almoço. Os alunos podem levar o aparelho, mas devem deixá-lo guardado e só podem ter acesso na saída da escola, após o término de todas as aulas - mesmo as extracurriculares ou contraturno. A primeira grande dúvida que surge é: onde guardar os aparelhos?

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A lei federal não especifica o local de armazenamento dos celulares, que dependerá da estrutura e capacidade de fiscalização de cada escola. Já a norma de São Paulo dá mais detalhes sobre como deve ser o armazenamento - fala em desencorajar os estudantes a levarem os aparelhos, mas, quando não for possível, diz que devem ser guardados em local inacessível, como armários e caixas.

Nas recomendações aos pais e alunos, alguns colégios orientam que o aparelho seja guardado na mochila; outros recorrem a escaninhos ou caixas para armazená-los. Há ainda quem tenha investido em capas magnéticas, tecnologia que permite ao estudante colocar o smartphone em uma bolsinha, que não abre sem aval de um funcionário do colégio.

A norma estadual também diz que as unidades escolares não se responsabilizarão por eventuais extravios ou danos aos equipamentos, além de estabelecer que as unidades devem se atentar às preocupações das famílias sobre a segurança e rotina dos alunos, disponibilizando canais e horários para comunicação.

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Uma solução encontrada pela Escola Alef Peretz, no Jardim Europa, região central de São Paulo, foi deixar os aparelhos com os alunos. Mas usam a tecnologia para evitar que as crianças e adolescentes caiam na “tentação” de usar o aparelho: são as capas magnéticas, que guardam os dispositivos. Só é possível abri-las com um desmagnetizador, disponível na saída das aulas.

Capa de celular tecnológica só pode ser aberta com um desmagnetizador Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O colégio importou a capa magnética no ano passado por entender que, ao ficar com os aparelhos, a escola assumiria uma responsabilidade que não é dela - o que poderia se agravar em casos de perda ou roubo. Na Alef Peretz, a solução é adotada por pouquíssimas escolas por envolver custos mais altos. O valor cobrado é de R$ 180 pela capinha, adicionado à matrícula de cada aluno.

Por isso, muitas escolas estão optando por colocar nichos ou armários com tranca para os alunos guardarem os celulares. Este é o caso da Escola Vereda, com unidades na Mooca, em São Paulo, e Santo André e São Bernardo do Campo, no ABC. O colégio criou duas opções para os alunos: os nichos, que são abertos e ficam nas mesas dos docentes, ou armários com senha, que podem ser alugados. Também é possível deixar os celulares nas mochilas.

Para a divulgação das novas diretrizes, a Vereda também espalhou cartazes físicos em todos os espaços, salas de aula e também no jornal da escola e no guia do estudante. Já para garantir a “desconexão” dos alunos, há atividades recreativas e jogos interativos nos intervalos, além espaços abertos, como quadras e pátios, e de leitura.

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Escola Vereda, em São Bernardo do Campo, espalhou cartazes lembrando sobre a proibição dos telefones em sala de aula Foto: Taba Benedicto/Estadão

No Colégio St. Georges, no Rio de Janeiro, os dispositivos também devem permanecer guardados nos armários da escola, sendo utilizados apenas quando solicitado pelo professor para fins pedagógicos.

A escola realizou, desde o ano passado, palestras e rodas de conversa para explicar benefícios da nova regra aos alunos, “destacando como ela contribui para a melhora no desempenho acadêmico e nas relações sociais”, diz Kassula Corrêa, presidente do Grupo STG de Educação. Para engajar as famílias, o colégio tem enviado comunicados e feito reuniões que explicam os objetivos da mudança aos pais.

Uma das estratégias mais comuns é o uso de escaninhos para armazenar os aparelhos Foto: Taba Benedicto/Estadão

Já com os professores, o St. Georges promoveu formações específicas sobre como integrar a tecnologia de maneira produtiva nas aulas, discutindo estratégias para lidar com possíveis resistências dos estudantes.

“Todos os colaboradores foram orientados sobre a importância de dar o exemplo. Assim, a regra se aplica igualmente a toda a comunidade escolar, fortalecendo o senso de união e comprometimento”, acrescenta Corrêa. Ou seja, professores e funcionários também não devem recorrer ao telefone.

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Os escaninhos também são utilizados no Colégio Guilherme Dumont Villares, no Morumbi, que adota a restrição aos smartphones desde 2018, bem antes da lei. A diferença é que agora os dispositivos não podem ser usados nem mesmo durante os intervalos.

Os espaços são numerados e o aluno coloca seu aparelho no número correspondente ao seu número de chamada. Dessa forma, o professor controla os alunos que tentam burlar a regra e a presença do estudante na aula só é confirmada após a checagem.

A direção do colégio da zona sul paulistana afirma que a regra tem funcionado: os alunos estão mais focados, participam melhor das aulas e o ambiente ficou mais tranquilo, quase sem problemas com uso indevido de celulares.

Outra opção de armazenamento são as caixas, como as usadas pelo COC Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, que ficam dentro das salas de aula. Com a nova lei, a escola também disponibilizou mais contatos para que os pais a acionem em situações de emergência.

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Já no Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, zona sul, os celulares deve ser desligados e guardados na mochila. A escola dispõe de tablets, que serão utilizados para atividades pedagógicas, em momentos e locais determinados pelos professores.

Para situações de urgência, o colégio disponibilizou às famílias o contato da secretaria e da equipe de orientação educacional.

Na Elite Rede de Ensino, do Grupo Salta, a regra também é deixar os celulares nas mochilas. Isso é visto por alguns especialistas como um problema, por deixar o aparelho mais acessível. Mas, na visão da diretora Deborah Anastacio, ficar longe do aparelho pode gerar mais conflitos devido à “sensação de abstinência” que alguns alunos sentem.

“De fato, se o aluno não tiver o aparelho em mãos, o controle de uso se torna mais fácil. Mas, em compensação, a escola pode ser responsabilizada pelo cuidado desse bem, que antes não estava na nossa responsabilidade. Na nossa rede, estamos investindo mais na educação dos alunos. Isso dá mais trabalho para ser implementado e exige mais fiscalização, mas a longo prazo pode mostrar aos alunos os benefícios da regra e não só a exigência por obediência”, ela argumenta.

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Fiscalização e controle

Outra discussão é sobre como será feita a fiscalização da proibição e, até mesmo, sanções em casos de descumprimentos reincidentes. A supervisão pode não ser tarefa fácil, com alunos tentando burlar a regra para usar o celular escondido. Relatos dos próprios alunos, a adaptação à regra não é fácil.

A lei federal novamente não especifica como esse controle deve ser feita pelas escolas, o que as deixa a cargo de escolher a melhor forma de lidar.

Em São Paulo, porém, a Secretaria de Educação prepara um protocolo (ainda passível de mudanças) para as escolas sobre como devem agir em casos de descumprimentos da norma pelos estudantes:

  • O professor ou funcionário que flagrar o aluno com celular deve comunicar à gestão escolar para que efetue o recolhimento do dispositivo, que ficará guardado e será devolvido ao aluno ao fim do período escolar.
  • Sempre que houver o recolhimento de um dispositivo eletrônico, deverá ser solicitado ao aluno que assine uma declaração especificando as condições do aparelho no momento da retenção, como possíveis rachaduras, tela trincada ou outros danos visíveis;
  • O dispositivo recolhido deve ser mantido desligado, em modo avião ou no modo silencioso;
  • O dispositivo deverá ser devolvido ao aluno ao final do horário regular de aula, não podendo permanecer retido após esse período. Deve ser solicitada a assinatura do estudante, assegurando que o aparelho foi devidamente devolvido nas mesmas condições em que foi recolhido.

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Em escolas de São Paulo, alunos que descumprirem a regra e usarem os celulares na escola podem enfrentar medidas disciplinares Foto: drazen_zigic/Adobe Stock

Em casos de reincidência, devem ser aplicadas medidas disciplinares de caráter pedagógico:

  • O estudante deverá ser encaminhado para uma conversa com a direção da escola, que o orientará sobre a normativa vigente e o procedimento adequado para o armazenamento do dispositivo. Além disso, será avaliada a necessidade de encaminhamento para acolhimento com um psicólogo, especialmente em situações que indiquem possível dependência de dispositivos eletrônicos;
  • Em casos de condutas reiteradas, a equipe gestora deverá convocar os pais ou responsáveis legais do estudante para uma reunião na escola, orientando-os a não permitir que o aluno leve dispositivos eletrônicos, como forma de prevenir novas ocorrências. Caso os pais ou responsáveis não compareçam à reunião e não justifiquem a ausência, o Conselho Tutelar poderá ser acionado.

Algumas escolas, como o COC Barra Funda, já têm pensado sobre a forma de evitar descumprimentos da lei. No colégio, a fiscalização é feita pelos inspetores, professores, coordenação e direção. As sanções previstas vão desde orientação verbal até a suspensão do aluno em casos de reincidência - mas, até o momento, não houve esse tipo de problema, relata a escola.

Na Vereda, a primeira vez que o estudante usar o celular na escola, o aparelho ficará com a coordenação e a família deverá retirar na escola. Se ocorrer novamente, é prevista advertência por escrito e, em casos de reincidência, suspensão.

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Já no Elite, estão previstas sanções que vão desde advertência verbal até suspensão, dependendo da recorrência do desrespeito à regra. “Porém, mais do que punir, estamos com uma preocupação grande de educar e mostrar os benefícios que essa regra pode trazer com relação ao desenvolvimento dos alunos”, afirma a escola.

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