SÃO PAULO - Após 134 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro enfrentou nesta quarta-feira, 15, as primeiras manifestações de grandes proporções. Milhares de pessoas foram às ruas em cerca de 250 cidades, nos 26 Estados e no Distrito Federal, para protestar contra os cortes orçamentários na área da Educação, que afetaram principalmente as universidades públicas federais. Os manifestantes também externaram descontentamento com o governo de forma geral – o coro “fora Bolsonaro” foi ouvido em dezenas de cidades.
Na Avenida Paulista, que permaneceu fechada aos carros nos dois sentidos entre meio dia e por volta das 18h30, o protesto foi em frente ao Masp, e se estendeu por cerca de cinco quarteirões. A professora aposentada Josefa Laurinda, de 79 anos, disse que em mais de 40 anos dedicados à sala de aula nunca viu um cenário tão desanimador para o ensino. “Tratam professores como inimigos, cortam verba. Quem vai querer dar aula? Precisamos valorizar a educação”, disse.
No final da tarde, os manifestantes – em sua maioria jovens com uniforme da escola ou camisetas da universidade em que estudam, além de pessoas usando adesivos com frases “eu luto pela educação” e “livros sim, armas não” – marcharam até a sede da Assembleia Legislativa, onde o protesto foi encerrado por volta das 19h.
“Não vamos aceitar que acabem com a educação e ciências sem fazer nada”, disse o doutorando João Victor Mello, de 34 anos, que estuda geociências na USP. Ele foi dos atingidos pelo corte de bolsas na Capes – sem a qual, disse, dificilmente conseguirá terminar o curso. O ato em São Paulo teve a presença do ex-prefeito e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, candidato derrotado do PT à Presidência em 2018.
Em geral, os protestos ocorreram sem maiores incidentes. As exceções foram no Rio e em Porto Alegre. Na capital fluminense, estudantes e professores usaram cartazes e material de pesquisa para mostrar parte do trabalho desenvolvido nas universidades federais. Os manifestantes se reuniram na Candelária, na região central, e seguiram pela avenida Presidente Vargas gritando palavras de ordem como “ele não” e “não é balbúrdia, é reação, é estudante defendendo a educação.
Na estação da Central do Brasil, distribuíram livros, mas na dispersão um pequeno grupo entrou em confronto com a polícia. Houve fogos, bombas de gás lacrimogêneo e tiros com balas de borracha. Um ônibus foi incendiado.
Na região central de Porto Alegre, estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul entraram em confronto com a polícia após bloquearem a rua em frente ao campus. Não há registro de feridos.
Em Brasília, políticos e sindicalistas marcharam ao lado de manifestantes com bandeiras, faixas e cartazes. Aos gritos de “a tsunami chegou” e “fora Bolsonaro”, o grupo saiu do Museu da República e contornou a Esplanada até a porta do Ministério da Educação (MEC). A estudante de Engenharia da UnB, Adriana Nunes, de 22 anos, disse que “a universidade está na rua”. “A quem interessa acabar com a universidade pública? Não podemos permitir. Não vamos recuar”, afirmou.
“A educação é um direito inquestionável”, disse a advogada Suzane Borba, que participou da manifestação em Natal (RN). “Após tantos anos de investimentos contínuos, é um verdadeiro retrocesso.”
Confira como foram os atos nas principais cidades do País:
São Paulo
Segundo o Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), ao menos 32 escolas privadas da capital aderiram à paralisação. Dentre elas, está o Colégio Equipe, de Santa Cecília, região central, que divulgou um comunicado. "Aderimos à paralisação em defesa da educação, da pesquisa, do trabalho dos professores e professoras de todo o país, do nível básico às pós-graduações das redes pública e privada", diz o texto.
Além disso, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom) também cancelaram as aulas desta quarta.
"A universidade reafirma seu apoio a todos aqueles que cotidianamente constroem o sistema educacional brasileiro, formando gerações e produzindo conhecimento necessário à soberania do Brasil. Acreditamos que a construção de um País justo e democrático vem a par com uma educação de qualidade e comprometida com a cidadania de todos", diz nota divulgada pela reitoria da PUC-SP.
Por volta das 14 horas, a Avenida Paulista foi totalmente interditada para o protesto no vão livre do Masp, no centro expandido de São Paulo. Estudantes, professores e servidores da da Universidade de São Paulo (USP) que protestaram pela manhã na Cidade Universtiária se juntaram aos demais manifestantes em frente ao museu.
Às 7 horas, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) chegou a bloquear a avenida Alvarenga, próximo ao portão principal de entrada da USP. "Inicialmente esse dia de paralisação tinha sido convocado contra a reforma da Previdência e depois do anúncio de cortes de verbas nas universidades e nas agências de fomento federais, o movimento decidiu unificar os dois atos e organizar uma campanha comum", disse Luiz Felipe, diretor de base do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp).
O diretor geral do Sintusp, Magno de Carvalho, disse que irão entregar uma carta ao reitor da USP, Vahan Agopyan,solicitando reposição salarial dos funcionários da instituicao em defesa da educação. "Nós trabalhadores e estudantes estamos dando o primeiro passo em defesa da educação; os salários dos professores estão achatados. Nós lutamos também contra a reforma da Previdência."
Rio de Janeiro
O protesto teve início sob fina mas constante chuva ao redor da igreja da Candelária, no centro do Rio, por volta das 16h15. Líderes estudantis, professores e funcionários de escolas públicas discursavam sobre um carro de som, frequentemente interrompidos por coros como "ele não" e "tem dinheiro pro Queiroz, por que não tem pra nós?", referência a um ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, filho do presidente.
Manifestantes começaram a caminhar pela Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, das imediações da igreja da Candelária até a estação ferroviária Central do Brasil, às 17h45.
A passeata chegou cerca de 1h30 depois à estação Central do Brasil, onde professores e estudantes passaram a distribuir livros às pessoas, o que marcou o encerramento do ato. Durante a dispersão do ato contra o governo, um grupo de pessoas mascaradas entrou em confronto com a Polícia Militar. Policiais reagiram com bombas de gás e houve correria ao redor da Praça da República e ao longo da Avenida Presidente Vargas.
Um ônibus pegou fogo por volta das 20h na avenida Presidente Vargas, onde se concentrou a passeata, mas não há informação sobre a causa do incêndio. A manifestação reuniu 150 mil pessoas, segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe). A Polícia Militar não divulgou estimativa.
Brasília
Em Brasília, o início do ato foi marcado por discursos de políticos e sindicalistas contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. Deputados do PT e PSOL, além de sindicalistas ligados à CUT, o Sindicato dos Trabalhadores das Escolas Públicas do Distrito Federal (SAE) e grupos estudantis. "A juventude está na rua mandando um recado ao governo. Ontem, eles (o governo) recuou e voltou atrás. Está claro que a balbúrdia está no Planalto e não aqui", afirmou o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ).
Além dos cortes na educação, os manifestantes criticaram também a reforma da Previdência e as mudanças nas políticas públicas ligadas às minorias. O líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), atacou os planos econômicos da equipe do ministro Paulo Guedes.
O grupo começou a concentração às 10 horas em frente a Biblioteca Nacional de Brasília e promete caminhar até o Congresso Nacional, onde, às 15 horas, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi convocado para prestar esclarecimentos aos deputados sobre o contingenciamento de verbas. Até o momento, nem os organizadores e nem a Polícia Militar do Distrito Federal divulgou o número de presentes no ato.
Manifestantes também se reúnem na Praça XV, no centro do Rio. Espalhados por diversas tendas, cerca de 150 pessoas, entre alunos e professores deuniversidades federais, como UFRJ e Unirio, estão no local com cartazes, pôsteres acadêmicos e material de pesquisa. A ideia é mostrar parte do trabalho desenvolvido pelas universidades.
Os alunos consideram que, com a apresentação dos trabalhos, o público em geral se sensibilize e participe da manifestação marcada para a tarde, em que ocorrerá também uma aula sobre reforma da Previdência. Pelo menos 25 instituições de ensino da capital fluminense prometeram aderir à paralisação.
Porto Alegre
A manhã desta quarta-feira, 15, foi marcada por protestos e confrontos entre estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Polícia Militar na região central de Porto Alegre. Tudo começou quando alunos da Faculdade de Educação da Universidade bloquearam, no final desta manhã, a Rua Sarmento Leite, em frente ao campus central da instituição.
O motivo do protesto é contra os cortes de 30% na área da educação. Em consequência do bloqueio da rua, a tropa de choque de Brigada Militar foi acionada para intervir e lançou bombas de gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes. Não há relatos de pessoas feridas.
Às 14 horas, um abraço simbólico foi dado no Instituto de Educação e à Faculdade de Educação da UFRGS. Posteriormente, os manifestantes seguiram para a Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFSCPA), no campus Porto Alegre do Instituto Federal e ao INSS.
De lá, o grupo seguiria para a Esquina Democrática, no centro da cidade, onde se encontrariam com estudantes da UFRGS, para uma assembleia, prevista para iniciar às 18 horas.
Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na região central do Estado, desde as 8 horas a rótula de acesso à instituição no cruzamento da RSC-287 com a Avenida Roraimafoi bloqueada por estudantes, servidores e professores da Universidade.
A manifestação faz parte de uma série de protestos previstos para o dia de hoje contra os cortes do orçamento das universidades federais e congelamento das bolsas de pesquisa. Ainda em Santa Maria, mais de 80 escolas da comunidade também aderiram à greve geral da Educação.
Belo Horizonte
Depois de percorrerem três praças da região central de Belo Horizonte, manifestantes contrários ao corte de recursos na área da educação começaram a deixar a Praça Raul Soares no fim da manhã. Pelo menos 15 mil pessoas participaram do ato, que começou na Praça da Estação e passou pela Praça Sete. Até o início da tarde, não havia registro de ocorrências policiais envolvendo a manifestação.
Apesar do trânsito caótico no centro da cidade, que já é intenso sem manifestações, a maior parte dos motoristas não reclamou do protesto. Alguns faziam sinal positivo com o polegar para os manifestantes.
Ao longo do trajeto, gritos contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. O preferido era "doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano". Na chegada à Praça Raul Soares, dois caminhões se alternavam com pronunciamentos de sindicalistas e estudantes.
Um outro ato, contra o corte nos recursos para a educação e a reforma da Previdência está previsto para começar às 14h no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Pampulha, região norte da capital.
Os manifestantes seguravam cartazes com críticas, um diz "Essa balbúrdia vai salvar a educação", em referência à declaração do ministro da Educação, Abraham Weintrab, de que há "balbúrdia" nas universidades federais.
Estudante do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet), Yasmin Camile, de 16 anos, que cursa Equipamentos Biomédicos, afirma que o corte vai prejudicar ainda mais a escola. "Já está bastante fragilizada. Um terço dos trabalhadores terceirizados foram dispensados no ano passado, por causa de redução anterior nos recursos. Não tem de onde tirar mais."
Estudante de mestrado em Bioquímica e Imunologia na UFMG, Verônica Valafares, de 25 anos, afirma que os cortes vão piorar o que já não está bom. "A restrição nos recursos prejudica muito a universidade. Meu trabalho é dentro da escola. Desenvolvo tecnologia. Projetos ficam parados por falta de dinheiro".
Salvador
Em Salvador, por sua vez, alunos de escolas públicas e particulares estão com as aulas suspensas. O movimento também se opõe à reforma da previdência. Colégios de renome na capital baiana, a exemplo do Antônio Vieira e Sacramentinas e Portinari,aderiram à paralisação.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), com medidas como o bloqueio de verbas para as universidades e instituições, o governo prejudica a educação no Brasil. A organização acredita que 30 mil pessoas participam do evento, que transcorre de forma pacífica. A Polícia não divulgou números.
O movimento saiu da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no bairro do Canela, em direção à Praça do Campo Grande, no centro da cidade, e seguiu até a Praça Castro Alves. A movimentação dos manifestantes ocorreu durante toda a manhã. Eles começaram a dispersar por volta do meio-dia devido a uma ameaça de chuva.
A organização do protesto estimou que cerca de 50 mil pessoas foram às ruas da capital baiana questionar as medidas adotadas pelo governo Bolsonaro. A Polícia Militar não fez estimativa.
Durante todo o trajeto, os participantes do protesto, que estavam acompanhados por dois minitrios, gritavam palavras de ordem contra a atual administração federal, a exemplo de "Balbúrdia é cortar dinheiro da Educação”, e "É ou não é piada de salão? Tem dinheiro pra Queiroz, mas não tem pra educação" .
Recife
O ato nacional contra os cortes nos orçamento das universidades e instituições federais, convocado para esta quarta-feira, 15, reúne cerca de 20 mil pessoas na Rua da Aurora, no centro do Recife. A estimativa é da organização do protesto, uma vez que a Polícia Militar do Estado não divulga estimativas em manifestações populares. Participam da mobilização sindicatos, associações, movimentos sociais, profissionais da educação e estudantes.
A concentração do protesto aconteceu em frente ao Ginásio Pernambucano, tradicional colégio público do Estado, de onde os manifestantes partiram, às 16h30, em passeata pela área central da capital pernambucana, como Rua da Aurora, Avenida Cruz Cabugá, Avenida Conde da Boa Vista, Avenida Guararapes, Avenida Dantas Barreto e Pátio do Carmo.
As principais universidades públicas de Pernambuco paralisaram as atividades desde a manhã desta quarta, em adesão à Greve Nacional da Educação. Entre as três instituições federais mais afetadas pelos cortes no orçamento anunciado pelo governo federal, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) tiveram pouca movimentação nos campus. Na UFRPE, servidores e estudantes promoveram um café da manhã para a confecção de faixas e cartazes para o ato desta tarde.
A paralisação também teve a adesão das escolas públicas e de alguns colégios privados nas três maiores cidades da Região Metropolitana do Recife. Das 309 escolas municipais do Recife, 36% não abriram nesta quarta. A paralisação teve a adesão de metade das escolas municipais em Olinda e de um terço delas em Jaboatão dos Guararapes. Na capital pernambucana, alguns colégio privados também não funcionaram nesta quarta, a exemplo dos colégios Ideia, no bairro da Madalena; Apoio, em Parnamirim; Arco-Íris, na Várzea; e Instituto Capibaribe, nas Graças.
Natal
Estudantes, professores e trabalhadores de diversas categorias saíram às ruas de Natal nesta quarta-feira, 15, para protestar contra os cortes de recursos anunciados pelo governo de Jair Bolsonaro nos institutos e universidades federais. A organização do ato estima público de 70 mil pessoas. A Polícia Militar, porém, não confirma o número de manifestantes.
No Rio Grande do Norte, pelo menos R$ 73 milhões deixarão de ser enviados para os institutos federais de educação do Estado (IFRN), à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e à- Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) conforme decisão do Ministério da Educação (MEC). A reitora da UFRN, Angela Maria Paiva Cruz, alertou a comunidade acadêmica e os estudantes universitários sobre o risco de paralisação de atividades a partir de setembro, caso os recursos não sejam liberados pelo Ministério da Educação.
"A educação é um direito inquestionável e a pressão popular é uma via justa, pacífica e importante para os movimentos sociais e as mudanças no governo. Na atual conjuntura, após tantos anos de investimentos contínuos, o corte ou contingenciamento, como prefere chamar o ministro, é um verdadeiro retrocesso para o nosso País, evidenciando a total negligência com a produção de conhecimento científico e a formação de cabeças pensantes. Todo governo opressor busca antes manipular pela ignorância do que investir nos que podem criticar", disse a advogada Suzane Borba, que participou da manifestação em Natal.
A manifestação na capital do Rio Grande do Norte começou por volta das 15h, quando a maioria do público deixou o ginásio do campus central do IFRN, na zona leste de Natal, onde ocorreu uma aula pública com o ex-candidato à Presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, e rumou para o cruzamento das avenidas Salgado Filho e Bernardo Vieira, no entorno do instituto federal. Empunhando cartazes e gritando contra os cortes de recursos na Educação, os manifestantes caminharam cerca de 3,5 quilômetros até a Praça da Árvore, em Mirassol, nas cercanias do Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Nenhum ato de vandalismo ou embate físico foi registrado pela Polícia Militar durante o percurso. Empreendimentos como a Igreja Universal do Reino de Deus e a sede do PSL em Natal tiveram a segurança reforçada, pois estão localizadas no percurso do ato.
Interior de São Paulo
Estudantes e professores realizaram manifestações nas principais cidades do interior de São Paulo. A mobilização, iniciada nas universidades, ganhou também a adesão de alunos e professores de escolas públicas estaduais.
Em Sorocaba, mais de mil estudantes, segundo a Guarda Municipal, realizavam passeata pelas ruas centrais da cidade, com faixas e cartazes contra o corte de verbas. Várias ruas foram interditadas e as empresa municipal trânsito remanejou linhas de ônibus. Antes de sair em marcha, o grupo se reuniu na Praça Fernando Prestes, a principal da cidade. Além de alunos e professores da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e Universidade Estadual Paulista (Unesp), o protesto teve apoio de escolas estaduais e técnicas.
Em Bauru, estudantes e professores se concentraram com faixas e cartazes em frente ao prédio da Câmara Municipal. Um caixão foi levado para simbolizar o enterro da educação brasileira. O protesto ganhou apoio de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que chegaram em vários ônibus. Uma das faixas da avenida Rodrigues Alves foi interditada, durante a caminhada dos manifestantes. Duas escolas estaduais – a Christino Cabral e a Stela Machado – suspenderam as aulas.
Em Campinas, estudantes bloquearam parte da avenida Guilherme Campos, que dá acesso à Unicamp e à PUC- Campinas. Com faixas e cartazes, o grupo sentou-se no asfalto durante o protesto. Alunos da Unicamp fizeram um protesto em frente à reitoria e saíram em marcha em direção ao Largo do Rosário. Em Hortolândia, estudantes do Instituto Federal e de escolas técnicas saíram em passeata pelas ruas centrais.
Estudantes da USP em Ribeirão Preto ocuparam a portaria principal do campus, na Avenida do Café. Eles distribuíram panfletos aos funcionários e estudantes. As aulas não foram suspensas. Em Jaboticabal, estudantes se concentraram no centro de convenções da Unesp. Grande parte dos professores aderiu ao protesto.
Em Araraquara, 30 escolas estaduais suspenderam as aulas por falta de alunos, segundo o Sindicato das Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Alunos da Unesp se concentraram em frente ao prédio do Instituto de Química. Houve protestos também nas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras e de Odontologia. Professores e funcionários aderiram aos protestos. Foram registradas suspensões de aulas também em Matão e Américo Brasiliense.
Em São Carlos, cerca de 2,5 mil pessoas, segundo a Guarda Civil Municipal, realizaram protestos na Universidade de São Paulo (USP) e na Ufscar. Houve manifestações também no Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Além de estudantes e funcionários das universidades, professores e alunos da rede pública aderiram aos protestos. Os manifestantes chegaram a bloquear a avenida Doutor Carlos Botelho. Durante a tarde, estava prevista a apresentação ao público de pesquisas realizadas no ambiente acadêmico.
Estudantes da Unesp de Rio Claro se concentraram no portão principal da universidade e seguiram em marcha para a Praça dos Bancos, onde se juntaram a secundaristas que realizavam protesto no local. Em Presidente Prudente, 26 escolas estaduais tiveram paralisação parcial de aulas devido às manifestações. Estudantes se concentraram em frente à Unesp e saíram em passeata pelas ruas centrais da cidade.
Paralisação deve atingir 75 instituições federais; MEC não descarta novos cortes
Pelo menos 75 das 102 universidades e institutos federais do País convocaram protestos para esta quarta-feira, em resposta ao bloqueio de 30% dos orçamentos determinado pelo Ministério da Educação (MEC). Eles terão apoio de universidades públicas estaduais de diversos Estados – incluindo São Paulo, onde os reitores de USP, Unicamp e Unesp convocaram docentes e alunos para “debater” os rumos da área.
Um dos alvos do protesto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta terça-feira, 14, que as universidades precisam deixar de ser tratadas como “torres de marfim” e não descartou novos contingenciamentos.
A Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual pública de São Paulo, o maior da América Latina, convocou os professores a paralisarem – o mesmo foi feito pelos sindicatos da rede paulistana.
Atos em todos os Estados vêm sendo chamados pelas maiores entidades estudantis e sindicais do País, incluindo a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). /ANA PAULA NIEDERAUER, RICARDO GALHARDO, FÁBIO GRILLET, MARCIO DOLZAN, JOSÉ MARIA TOMAZELA, RENATO ONOFRE, LEONARDO AUGUSTO, PEDRO IVO BERNARDES, HELIANA FRAZÃO, ANA LUIZA CARVALHO, RENAN MELO XAVIER, ESPECIAIS PARA O ESTADO DE S. PAULO
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