Hoje em dia é consenso entre especialistas, educadores e famílias que a Educação infantil é essencial para o pleno desenvolvimento do indivíduo, mas nem sempre foi assim. Não sei se todos que acompanham esse artigo sabem, mas a Educação Infantil, enquanto direito, só foi constituída recentemente na história do nosso país. Ao longo das décadas, vimos esse segmento educacional ganhar seu espaço de destaque e de apoio direto ao desenvolvimento de inúmeras crianças.
Se percorrermos a história da educação no Brasil, a Educação infantil não teve relevância e pouco se falava sobre primeira infância até 1974. Durante períodos desafiantes na história do Brasil, foram propostos espaços que acolhessem as crianças e promovessem, inicialmente, cuidados mais assistenciais, principalmente, quando ocorreram movimentos de grandes pressões feministas e outros movimentos sociais.
O primeiro grande marco da Educação Infantil brasileira ocorreu com a Constituição Federal de 1988, o que tornou dever do estado e direito o atendimento de todas as crianças de zero a seis anos nos espaços de creches e pré-escolas. Assim houve o primeiro avanço importante para a Educação Infantil.
Desde então, muitos processos de implantação de trabalho e implementação de propostas inovadoras ocorreram. Somente em 1996, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - 9.394/96), foi que a Educação Básica passou a ser estruturada por etapas e modalidades de ensino, englobando a Educação Infantil e o Ensino Fundamental obrigatório de nove anos e o Ensino Médio.
Nós, educadores e famílias, comprometidos com o desenvolvimento de qualidade da Primeira Infância, celebramos a construção da Base Nacional Comum Curricular em 2017, a qual trouxe avanços significativos para a Educação Infantil em todo o território nacional, alinhando o conceito de criança, de como ela aprende, do que ensinar e por quais caminhos levá-la a se desenvolver integralmente.
E o que se entende por integralmente?
Entendemos que esse desenvolvimento integral precisa considerar a criança como um todo, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Dito de forma mais simples, todos estamos envolvidos no que a criança aprende e no quanto ela pode se potencializar.
Estudos relevantes da neurociência sobre a plasticidade cerebral, canais dominantes de aprendizado, pensamento flexível e o impacto de uma escola da pergunta e da experiência significativa, apoiam as mudanças que estão em destaque e as que estão por vir. Isso porque currículos cada vez mais atrativos podem favorecer o desenvolvimento potencial da criança. Associados à compreensão de que a criança aprende melhor na interação com os pares, sejam eles adultos ou crianças, podemos encontrar muitos modelos educacionais que prezam pela qualidade na Educação Infantil.
E qual é o centro da proposta pedagógica?
Para cada escola há um, contudo, no Colégio Elvira Brandão, gostamos de destacar o potencial humano de cada um no processo. Sendo assim, o nosso foco é o humano que está em fase de desenvolvimento, seja ele um estudante ou um educador.
Acreditando na interação e no encadeamento de um ensino que valoriza a construção do conhecimento por todos os envolvidos, essa Educação Infantil precisa garantir alguns elementos fundamentais, inclusive previstos na BNCC, na qual temos seis direitos de aprendizagem a nos orientar e, ao lê-los aqui, vocês poderão compreender que não é pouca coisa a proporcionar.
Conviver, brincar, participar, explorar, expressar e se conhecer são direitos que toda boa escola precisa incluir em suas pautas de trabalho para favorecer o pleno desenvolvimento do sujeito aprendente. A partir disso, os Campos de Experiências favorecerão o objetivo da Educação Infantil: potencializar a capacidade intelectual, cognitiva e social das crianças de zero a cinco anos.
E quais são esses Campos de Experiências?
- O eu, o outro e o nós;
- Corpo, gestos e movimentos;
- Traços, sons, cores e formas;
- Escuta, fala, pensamento e imaginação;
- Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações.
É preciso reconhecer e valorizar os grandes avanços que tivemos ao longo da história da Educação Infantil e olhar esse dia com um senso de comprometimento do fazer valer todos os bons princípios de quem acreditou na criação desse lugar de desenvolvimento.
Deste modo, tantas crianças que dia a dia chegam às instituições de ensino podem ter um lugar não apenas para atender suas necessidades de sono, alimentação e cuidados essenciais, mas também para que possam desenvolver toda a potência que um ser humano na fase da primeira infância tem.
Que a cada dia possamos dedicar mais tempo, investimento e foco a esse tempo de vida, que é a base para as experiências futuras mais significativas na vida do ser humano.
Aline Rodrigues da Silva
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