As mulheres lutaram muito para conquistar maior participação na vida social, especialmente no último século. Entre as conquistas que fizeram, passaram a ocupar maior espaço no mercado de trabalho. Saíram de casa e foram para a rua ganhar a vida, quase como os homens. Esse "quase" é justificado pela diferença que ainda existe nos salários e cargos, em muitos casos.
Seria mesmo um sucesso e tanto se, ao mesmo tempo, os homens também tivessem conquistado "o direito de partilhar as tarefas que, no passado, eram prioridade das mulheres". Alguns já se aventuram a assumir o cuidado da casa e dos filhos, mas ainda são raros.
Essas jovens mulheres, filhas de mães zelosas, que, em sua maioria, foram donas de casa exemplares, dedicadas às crianças e às "prendas domésticas", carregam em suas memórias as delícias de terem a presença da mamãe em casa. Lanchinhos preparados com capricho, pão fresquinho, bolo quentinho, ajuda na lição de casa e outros mimos... Mas, não é bem assim. As mães delas ainda estavam em casa, sim, mas já batalhando por mais protagonismo no mundo. Podiam não estar fora o dia todo, mas já se arriscavam em novas experiências de trabalho e educavam suas meninas para terem outro tipo de vida, mais engajada no mundo moderno.
As mães tiveram sucesso, suas filhas foram à luta e estão atuando cada vez mais no mundo do trabalho, mas isso tem um preço: elas se ressentem por não dar aos filhos a atenção e o carinho que receberam de suas próprias mães. Daí vem a culpa e, com ela, as compensações. Segundo Melanie Klein, de quem emprestei o título deste texto, "se o sentimento de culpa for forte demais, pode levar a uma atitude de total abnegação que é muito prejudicial à criança. Todos sabem que a criança criada pela mãe que despeja amor sobre ela, sem esperar nada em troca, muitas vezes se torna uma pessoa egoísta". Não queremos botar no mundo criaturinhas egoístas, não é mesmo?
No Colégio Pentágono, procuramos acolher as mães que se sentem culpadas, mostrando a elas que, assim como a vida muda, todos mudamos, inclusive as crianças. Elas já nascem diferentes, em um mundo diferente, com outros estímulos, e nem sempre se satisfazem com as mesmas coisas que nos satisfaziam em nossa infância. Além disso, existem outras formas de demonstrarmos nosso amor por elas. O importante é que isso aconteça de forma equilibrada. Dar limites também é uma forma de amor. Não dá para fazer bolo quentinho, mas dá para arranjar uma horinha para acompanhar a lição de casa, conversar sobre o dia, mostrar que se importa.
Afinal, meninas, jovens mães, vocês podem não ser como suas mães foram, mas seus filhos também não são crianças como vocês foram. Eles sobreviverão muito bem se o pouco tempo que vocês têm para eles for de boa qualidade, se eles sentirem que, naquele momento, vocês estão ali sincera e verdadeiramente para eles, desejando que eles sejam pessoas bem adaptadas ao mundo e felizes com eles mesmos.
Heloísa Porto Alegre Orientadora Educacional do Colégio Pentágono
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