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Chuvas, ciclones, secas privam crianças da educação; escola é vítima ou saída para crise climática?

Mais de 200 mil alunos ainda sequer têm previsão de volta às aulas no Rio Grande do Sul, mas a solução passa não só por atender os já afetados pela emergência, como por uma educação que forme cidadãos conscientes dos desafios ambientais

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Pode não parecer uma relação tão imediata, mas as escolas são grandes vítimas da crise climática. Alagamentos, ciclones, secas, aumento de temperatura, elevação do nível do mar, invernos rigorosos estão privando meninos e meninas, no mundo inteiro, de um direito essencial: o direito à educação. O lado bom é que elas podem ajudar muito na solução também.

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A tragédia do Rio Grande do Sul joga na cara de quem não enxergava. São quase 60 escolas totalmente destruídas e mais de 1 mil danificadas ou que estão em comunidades afetadas. E por afetadas entende-se que muitas vezes a professora foi morta pela enxurrada, a diretora teve a casa destruída, as crianças estão em abrigos longe de onde costumavam estudar. Ou as próprias escolas viraram abrigos.

Mais de 200 mil alunos ainda sequer têm previsão de voltar às aulas na rede pública do Estado, 20 dias após o início dos temporais. Diferentemente da crise sanitária, em que, mesmo em condições ruins, se sabia onde os alunos e professores estavam para oferecer ensino remoto, a crise climática traz um caos organizacional.

Escola estadual em Roca Sales, no Rio Grande do Sul, destruída pelas enxurradas no Estado Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

O Unicef alerta em relatórios que, além desses impactos diretos a estudantes, professores, pais e escolas, há os indiretos. Entre eles, danos psicológicos duradouros que prejudicam quem ensina e quem aprende, e a migração, já que muitos precisam deixar seu local de moradia pelos eventos extremos. Ambos levam a problemas de aprendizagem, absenteísmo e abandono escolar.

Para os governos, há também o aumento de custos para melhorar a estrutura de escolas, já hoje tão insuficientes no País, para suportar eventos extremos. No Brasil, 70% dos estabelecimentos de ensino não têm climatização, por exemplo.

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Tudo isso invariavelmente afeta mais a população já vulnerável. Pretos, pobres, indígenas, moradores de encostas, populações ribeirinhas. Crianças que precisam da escola para garantir a refeição do dia - e um futuro digno.

A saída para essa situação dramática passa não só por atender os já afetados pela emergência climática, como por uma educação que forme cidadãos conscientes dos desafios ambientais. Dados da Unesco mostram que 47% dos currículos do mundo não têm nenhuma referência às mudanças climáticas. O restante menciona, mas sem muita profundidade.

A nossa Base Nacional Comum Curricular (BNCC) indica o assunto corretamente como um tema transversal, que passa por várias disciplinas, mas são poucos os esforços para preparar os professores para ensinar sobre essa transformação que já está em curso.

Também segundo a Unesco, só um quinto dos docentes no mundo se diz confiante para explicar como o aquecimento global acontece na prática. A esperança vem das pesquisas que indicam que já temos uma geração mais consciente. A quantidade de pessoas que concorda que enfrentamos uma crise climática é sempre maior entre os jovens. Resta aos governos investir neles; e só se faz isso com educação.

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