Presidente do Instituto Singularidades, referência na formação de professores, Claudia Costin afirma que a educação tem papel crucial na reindustrialização do Brasil. Segundo ela, a preparação dos jovens e dos profissionais precisa ser voltada para ensino dos pensamentos crítico e criativo. “É bom lembrar que estamos competindo com robôs.” O empreendedorismo é outro requisito necessário para enfrentar os desafios do novo mercado de trabalho.
Outra perspectiva importante, segundo a educadora, é formar de olho no desenvolvimento sustentável e no combate às mudanças climáticas. Por abrigar a Floresta Amazônica e outros valiosos refúgios da biodiversidade, o Brasil é observado com atenção pelo mundo nesse setor. “Não adianta termos uma indústria que destrua o meio ambiente”, afirmou ela, ex-diretora de Educação do Banco Mundial e secretária municipal de Educação do Rio.
Veja os principais trechos da entrevista de Claudia ao Estadão:
Em artigo no Estadão, o presidente Lula (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), falam sobre a importância de retomar a industrialização. Qual o papel da educação nisso?
Temos uma área de serviço forte, mas precisamos reindustrializar o Brasil, como a China fez. E qual o papel da educação nisso? No contexto de automação acelerada, digitalização, inteligência artificial, precisamos educar, basicamente, para duas coisas: para que os alunos aprendam a pensar e aprendam a usar a criatividade, sobretudo para resolver problemas de forma colaborativa. É o que mais precisamos hoje em empresas que geram produtos, não apenas serviços. É bom lembrar que estamos competindo com robôs. Precisamos educar os alunos para serem pensadores autônomos e criativos. Outra coisa: precisamos ensiná-los a empreender. É vital que o processo de ensino mostre para o aluno que ele é um empreendedor da sua própria vida, para que ele seja capaz, por exemplo, de criar uma start up. E ele precisa também ser exposto a tecnologias, para que as veja como algo que pode contribuir para sua educação, não como inimigo.
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Na prática, o que o Brasil pode fazer a curto prazo?
Em primeiro lugar, parar com isso de quatro horas de aula por dia. Nenhum país que se industrializou tem quatro horas de aula por dia, mas sim de sete a nove horas. Não apenas aula, mas práticas em laboratório, experimentação. É um processo de educação mais mão na massa. Se os alunos não forem expostos a esses processos desde a educação básica, não serão capazes, por exemplo, de pensar em novos produtos. Nós precisamos ter processos que estimulem, da melhor forma, a criação de produtos. Outra coisa importante é evitar essa educação conteudista, com 13 disciplinas espremidas em quatro horas de aula diárias no ensino médio, em que o professor despeja o conteúdo sobre o aluno sem ensinar a pensar.
A questão ambiental/climática precisa fazer parte dessa educação?
Sem sombra de duvida. A agenda 2030, que lista os objetivos de desenvolvimento sustentável e da qual o Brasil é signatário, diz que precisamos educar para a sustentabilidade. Essa é uma base comum curricular (em referência ao documento do Ministério da Educação que determina os objetivos de aprendizagem para cada etapa escolar). Não adianta termos uma indústria que destrua o meio ambiente.
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