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Análise|Como justificar a formação de um professor a distância?

Dados do Censo da Educação Superior, do MEC, mostram caminho equivocado com predomínio de cursos online; desenvolvimento da criança passa pela construção de habilidades de relacionamento na escola

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Por Heloisa Morel e Haroldo Rocha

Ao refletirmos sobre a educação básica, surge uma pergunta crucial: se o desenvolvimento de uma criança passa pela construção de habilidades de relacionamento no ambiente escolar, como podemos justificar a formação de professores predominantemente por meio da educação a distância (EAD)? Essa modalidade, que prioriza a aprendizagem solitária, pode deixar os futuros educadores despreparados para apoiar e orientar seus alunos.

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Nesse sentido, a formação inicial dos professores tem seguido um caminho absolutamente equivocado e preocupante, como mostram os dados do Censo da Educação Superior 2023, divulgados nesta quinta-feira, 3, pelo Ministério da Educação (MEC).

A conexão entre a rede pública e o ensino superior é a formação de professores. O Censo de 2023 mostrou que de todas as vagas oferecidas nas universidades públicas e privadas, menos de 50% foram ocupadas. Nos casos extremos, como na formação de professores de Física e Química, pouco mais de 2% das vagas foram ocupadas nas instituições privadas. Além disso, a predominância absoluta de ingressantes nas licenciaturas na modalidade EAD: 81% dos estudantes em cursos de licenciatura no País.

Aula em creche em São Paulo; há vagas ociosas para formação de professores. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Isso demonstra que o Brasil não precisa de mais vagas nas licenciaturas, mas precisa de programas de incentivo para atração e permanência dos licenciandos.

Esses dados vão na contramão das evidências que demonstram que a formação de professores deve ser vinculada à prática de sala de aula durante todo o curso. É possível fazer uso da integração com a tecnologia a fim de maximizar a aprendizagem dos alunos, sempre com atenção à ética no uso dessas ferramentas.

Outro dado que chama atenção é que o porcentual de conclusão dos estudantes com acesso ao Prouni é de 10 pontos porcentuais acima da taxa dos demais estudantes na rede pública e 12 pontos porcentuais na privada. O que demonstra que programas de incentivos têm um poder indutor positivo na permanência do estudante.

Medidas como o “pé de meia” para o ensino superior, recentemente proposto pelo MEC, são um passo importante na direção certa. Entretanto, será fundamental que essa política seja focada no auxílio financeiro aos futuros professores a fim de ajudar a aumentar a taxa de conclusão dos cursos de licenciatura presenciais, atualmente em declínio.

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Dois critérios podem aumentar muito a efetividade desta ação: a distribuição das bolsas de acordo com a necessidade local por novos professores e a exigência de que os bolsistas trabalhem em escolas públicas como contrapartida.

Outra ação fundamental deverá ser o foco em uma nova regulação para as licenciaturas. Operacionalizada pelo MEC ou agência reguladora, o necessário é que a regulação promova a qualidade da formação inicial de professores, devendo encerrar as atividades das instituições de ensino que não se comprometem com esse objetivo.

O Brasil precisa de professores bem preparados para enfrentar os desafios da educação pública e que atendam às necessidades de todos os estudantes. A qualidade da formação inicial é o alicerce para isso, e não há tempo a perder.

A coletiva desta quinta-feira, 3, destacou que o ministério reconhece a urgência e a importância da formação de professores, além de informar que medidas estão sendo estruturadas nesse sentido. Agora, é nosso papel acompanhar e cobrar para que essas iniciativas avancem de maneira eficaz, visando aprimorar a regulação dos cursos e garantir a qualidade da formação dos futuros educadores do Brasil.

Análise por Heloisa Morel

diretora-executiva do Instituto Península

Haroldo Rocha

Coordenador do Movimento Profissão Docente

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