A educação profissional e tecnológica pode ser oferecida em nível médio e hoje o Brasil possui 2,4 milhões de alunos nesta modalidade, de acordo com o Censo Escolar 2023. Especialistas acreditam que, se houver um esforço conjunto entre governos, sociedade civil e setor produtivo, é possível expandir a modalidade que garante qualificação profissional em curtos períodos e ajudar a diminuir o estigma que ainda existe.
“Defendo o ensino técnico como alternativa para aumentar a produtividade do País. É preciso demonstrar os vários benefícios que envolvem essa modalidade. A faculdade pode se tornar até menos interessante a depender da carreira que o estudante quer seguir”, disse Tatiana Ribeiro, diretora executiva do Movimento Brasil Competitivo, durante o Reconstrução da Educação, evento promovido pelo Estadão nesta segunda-feira, 18, no Museu do Ipiranga, na zona sul da capital. Também é possível acompanhar a transmissão do evento pelo YouTube.
Para Tatiana, o desafio é tornar a modalidade “pop” e fazê-la avançar na “velocidade que merece”. “É preciso agir com muita velocidade para que ela seja uma alternativa viável ao estudante”, complementa Tatiana.
A educação profissional e tecnológica pode ser ofertada em cursos de qualificação de diferentes formatos e durações, integrada ao ensino médio regular ou como ensino médio técnico.
Especialista em Pesquisa e Dados na Fundação Itaú, Alan Valadares diz que a “peneira do ensino superior” segura 80% dos jovens, já que só 20% consegue acessá-lo e é “realidade para poucos.” “Temos experiências recentes de que o ensino técnico é uma educação profissional que garante um primeiro emprego digno e uma média salarial 12% superior à de quem opta pelo ensino médio regular.”
Impacto da Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial vai substituir ou transformar algumas das profissões existentes hoje, de acordo com os especialistas, e também deve impactar a forma como muitos dos cursos são ofertados. Para Tatiana, então, o momento é de oportunidade para garantir a requalificação da mão de obra que vai ser impactada e o ensino técnico pode ajudar a promover uma taxa mais alta de empregabilidade.
Cássia Cruz, gerente de Educação do Senai, lembra que a IA não pode ser lembrada apenas no seu produto final, como aplicativos ou ferramentas como o ChatGPT. “Antes disso há uma cadeia de desenvolvedores e plataformas como data centers que vão precisar de fortalecimento. É preciso olhar para a qualidade, pensar em um profissional e desenvolver sua ocupação com excelência.”
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A própria grade curricular e infraestrutura também serão impactadas pelos avanços tecnológicos. “A educação profissional precisa estar alinhada ao que está acontecendo no mundo do trabalho. Não dá para ensinar algo utilizando uma técnica obsoleta. Com a IA, a transformação será mais rápida. Hoje muitos dos processos já se automatizam”, frisa Valadares.
Valadares, inclusive, defende uma maior aproximação do setor produtivo com a educação para garantir que os currículos das instituições de ensino estejam alinhados às demandas reais do mundo do trabalho.
Cássia vai além nesta parceria. Para ela, as instituições de ensino superior podem identificar as demandas do mundo do trabalho e participar das estratégias junto com as empresas para antecipar as necessidades e promover as formações necessárias para atendê-las.
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